SOMOS TROPICÁLIA — 50 ANOS DO MOVIMENTO — 2° CICLO: LILA, MATHEUS VK & EBER INÁCIO — MANIFESTO PAU BRASIL (OSWALD DE ANDRADE)
29 de março de 2017

(Foto: Elena Moccagatta)

(Na foto, os participantes desta edição — Eber Inácio, Lila & Matheus VK)
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“Querido Paulo,

Acompanho com alegria o seu trabalho de poeta e de defensor da poesia.

E a mãezinha, está bem?

Beijo os dois,
Nélida Piñon”.

(Nélida Piñon — escritora integrante da Academia Brasileira de Letras — ABL)

 

 

É chegada a hora! É dia de estréia!

Hoje, quarta-feira (29/03), e amanhã, quinta-feira (30/03), acontece o 2° ciclo de encontros do projeto “Somos Tropicália”, em homenagem aos 50 anos do Tropicalismo, no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, o grande empresário dos tropicalistas e um dos artífices do movimento, com a presença deste trio poderoso e vitaminado: do cantor e compositor Matheus VK, da cantora e compositora Lila (tanto a Lila quanto o Matheus cantam no bloco “Fogo e Paixão”), e do poeta, escritor e ator Eber Inácio (da trupe que monta e encena os já célebres espetáculos teatrais no Buraco da Lacraia, na Lapa).

O repertório das noites está incrível e os participantes, felizes da vida com o ensaio! Venham todos!

 

Serviço:

Gabinete de Leitura Guilherme Araújo apresenta –

SOMOS TROPICÁLIA – 50 anos do movimento

Lila, Matheus VK e Eber Inácio / Pocket-show e leitura de poesias
Dias 29/03 (4ª-feira) e 30/03 (5ª-feira)
A partir das 19h30
Rua Redentor, 157 Ipanema
Tel infos. 21-2523-1553
Entrada franca c/ contribuição voluntária
Lotação: 60 lugares
Classificação: livre

Link do evento no Facebook: http://www.facebook.com/events/1832965360359979/
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De presente, excertos de um manifesto que compõe o repertório de leitura das duas noites desta edição do projeto e que inspirou deveras os tropicalistas.

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(excertos do texto: Manifesto Pau Brasil. autor: Oswald de Andrade.)

 

 

MANIFESTO PAU BRASIL

 

“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.

“O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.

“Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de Jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.”

(…)

“A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança.”

(…)

“Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias.

“A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.”

(…)

“Uma única luta – a luta pelo caminho.”

(…)

“A invenção

“A surpresa

“Uma nova perspectiva

“Uma nova escala.

“Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.”

(…)

“A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.

“Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.”

(…)

“Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas; nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.

“Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.”

(…)

“A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.

“Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.

“Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.”

SOMOS TROPICÁLIA — 50 ANOS DO MOVIMENTO — 2º CICLO: LILA, MATHEUS VK & EBER INÁCIO — DOMINGO NO PARQUE (GILBERTO GIL)
22 de março de 2017

(Fotos: Elena Moccagatta)

(Na foto, os participantes desta edição — Eber Inácio, Lila & Matheus VK — na companhia de Guilherme Araújo)
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Vem que tem!

Semana próxima, nos dias 29 (quarta-feira) e 30 (quinta-feira) de março, o 2° ciclo de encontros do projeto “Somos Tropicália”, em homenagem aos 50 anos do Tropicalismo, no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, o grande empresário dos tropicalistas e um dos artífices do movimento, com as participações do cantor e compositor Matheus VK, da cantora e compositora Lila (tanto a Lila quanto o Matheus cantam no bloco “Fogo e Paixão”) e do poeta, escritor e ator Eber Inácio (da trupe que monta e encena os já célebres espetáculos teatrais no Buraco da Lacraia, na Lapa). Com esses participantes a tropicalidade rola solta no ar! O repertório da noite está incrível! Vem geral! Di grátis!

 

 

Serviço:

Gabinete de Leitura Guilherme Araújo apresenta –

SOMOS TROPICÁLIA – 50 anos do movimento

Lila, Matheus VK e Eber Inácio / Pocket-show e leitura de poesias
Dias 29/03 (4ª-feira) e 30/03 (5ª-feira)
A partir das 19h30
Rua Redentor, 157 Ipanema
Tel infos. 21-2523-1553
Entrada franca c/ contribuição voluntária
Lotação: 60 lugares
Classificação: livre

Link do evento no Facebook: http://www.facebook.com/events/1832965360359979/
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De presente, um poema-canção lindíssimo, que compõe o repertório das duas noites desta edição do projeto.

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do livro: Gil — Todas as letras. organização: Carlos Rennó. depoimento: Gilberto Gil. editora: Companhia das Letras.)

 

 

Montar algo diferente, partindo de elementos regionais, baianos, para o festival da TV Record: esse era o projeto de Gil ao começar a pensar a canção. “Daí a idéia”, conta ele, “de usar um toque de berimbau, de roda de capoeira, como numa cantiga folclórica. O início da melodia e da letra da música já é tirado desses modos. Com a caracterização do capoeirista e do feirante como personagens, eu já tinha os elementos nítidos para começar a criação da história.”

“Algumas pessoas pensam que rima é só ornamento, mas a rima descortina paisagens e universos incríveis; de repente, você se depara no lugar mais absurdo. Eu, que a procuro primeiro na cabeça, no alfabeto interno — mas também vou ao dicionário —, vejo três fatores simultâneos determinantes para a escolha da rima: além do som, o sentido e o necessário deslocamento.

“Em ‘Domingo no parque’, pra rimar com ‘sumiu’, eu cheguei à Boca do Rio (bairro de Salvador). E quando eu pensei na Boca do Rio, me veio um parque de diversões que eu tinha visto, não sei quantos anos antes, instalado lá, e que, desde então, identificava a Boca do Rio pra mim: desde aquele dia, a lembrança do lugar vinha sempre com a roda-gigante que eu tinha visto lá. Aí eu quis usar o termo e anotei, lateralmente, no papel: ‘roda-gigante’. Ela ia ter que vir pra história de alguma maneira, em instantes.

“Era preciso também fazer o João e o José se encontrarem. O João não tinha ido ‘pra lá’, pra Ribeira; tinha ido ‘namorar’ (pra rimar com ‘lá’). Onde? Na Boca do Rio, pra onde o José, de outra parte da cidade, também foi. No parque vem a conformação dos caracteres psicológicos dos dois. Um, audacioso, aberto, expansivo. O outro, tímido, recuado. Esse, louco por Juliana mas sem coragem de se declarar, vivia havia tempos um amor platônico, idealizando uma oportunidade de falar com ela. Naquele dia ele chega ao parque e a encontra com João, que estava ali pela primeira vez e não a conhecia, mas já tinha cantado Juliana e se divertia com ela na roda-gigante. É a decepção total pro José, que não resiste.

“Era só concluir. A roda-gigante gira, e o sorvete, até então só, já é sorvete de morango pra poder ser vermelho, e a rosa, antes só, é vermelha também, e o vermelho vai dando a sugestão de sangue — bem filme americano —, e, no corte, a faca e o corte mesmo. O súbito ímpeto, a súbita manifestação de uma potência no José: ele se revela forte, audaz, suficiente. A coragem que ele não teve para abordar Juliana, ele tem para matar.”

“A canção nasceu, portanto, da vontade de mimetizar o canto folk e de representar os arquétipos da música de capoeira com dados exclusivos, específicos: com um romance desse, essa história mexicana. Está tudo casado.”

“‘Domingo no parque’, como ‘Luzia Luluza’ e outras do mesmo período, foi feita no Hotel Danúbio, onde eu morei durante um ano, em São Paulo. Nana [a cantora Nana Caymmi, segunda mulher de Gil] dormia ao meu lado. Nós tínhamos vindo da casa do pintor Clovis Graciano — amigo de Caymmi —, onde eu tinha rememorado muito a Bahia e Caymmi. Eu estava impregnado disso, e por isso saiu ‘Domingo no parque’: por causa de Caymmi, da filha dele, dos quadros na parede. A umas duas da manhã fomos para o hotel e eu fiquei com aquilo na cabeça: ‘Vou fazer uma música à la Caymmi, fazer de novo um Caymmi, Caymmi hoje!’. Peguei papel e violão e trabalhei a noite toda. Já era dia, quando terminei. De manhã, gravei.”
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(do livro: Gil — Todas as letras. organização: Carlos Rennó. autor: Gilberto Gil. editora: Companhia das Letras.)

 

 

DOMINGO NO PARQUE

 

O rei da brincadeira — ê, José
O rei da confusão — ê, João
Um trabalhava na feira — ê, José
Outro na construção — ê, João

A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira
Não foi pra lá pra Ribeira
Foi namorar

O José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu

Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração

O sorvete e a rosa — ô, José
A rosa e o sorvete — ô, José
Oi, dançando no peito — ô, José
Do José brincalhão — ô, José

O sorvete e a rosa — ô, José
A rosa e o sorvete — ô, José
Oi, girando na mente — ô, José
Do José brincalhão — ô, José

Juliana girando — oi, girando
Oi, na roda-gigante — oi, girando
Oi, na roda-gigante — oi, girando
O amigo João — oi, João

O sorvete é morango — é vermelho
Oi, girando, e a rosa — é vermelha
Oi, girando, girando — é vermelha
Oi, girando, girando — olha a faca!

Olha o sangue na mão — ê, José
Juliana no chão — ê, José
Outro corpo caído — ê, José
Seu amigo João — ê, José

Amanhã não tem feira — ê, José
Não tem mais construção — ê, João
Não tem mais brincadeira — ê, José
Não tem mais confusão — ê, João
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Gilberto Gil (1968). artista & intérprete: Gilberto Gil. canção: Domingo no parque. autor: Gilberto Gil. participação especial: Mutantes. gravadora: Universal Music.)

SOMOS TROPICÁLIA — 50 ANOS DO MOVIMENTO — 2º CICLO: LILA, MATHEUS VK E EBER INÁCIO
14 de março de 2017

(Fotos de divulgação — Todas as fotos: Elena Moccagatta)

(Nas fotos, os participantes do 2º ciclo de encontros: Eber Inácio, Lila e Matheus VK)

(Eber Inácio)

(Lila)

(Matheus VK)
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Para comemorar os 50 anos da Tropicália, o Gabinete de Leitura Guilherme Araújo apresentará uma série de encontros poético-musicais ao longo de 2017

 

Nos dias 29 e 30 de março (quarta e quinta-feira), a partir das 19h30, acontece a segunda etapa do ciclo de encontros “Somos Tropicália – 50 anos do movimento”, no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, em homenagem aos 50 anos do Tropicalismo: as surpreendentes e eletrificadas apresentações de Caetano Veloso e Gilberto Gil no Festival da TV Record em 1967 são consideradas o marco inicial do movimento na música, que se consolidou com a gravação de “Tropicália Ou Panis Et Circenses”, álbum-manifesto lançado no ano seguinte.

Para este mês de março, o projeto tem o imenso prazer de ter como participantes o ator e poeta Eber Inácio, a cantora e compositora Lila e o músico, cantor e compositor Matheus VK. Ambos, além de primos, possuem um trabalho autoral que conversa com ecos do tropicalismo, são vocalistas do bloco “Fogo e Paixão”, e Matheus é dono de sucessos como “La Malemolência” e “Pélvis”. E Eber é um dos integrantes do divertidíssimo grupo do Buraco da Lacraia, na Lapa. Juntos nas duas noites, o trio prepara uma “geléia geral” inspirada nas músicas e poesias tropicalistas que ganharão suas assinaturas em arranjos e interpretações!

 

Somos Tropicália

 

Até dezembro serão programados encontros poético-musicais que ressaltam a importância do tropicalismo na música popular brasileira, com influências que reverberam até hoje no cenário do cancioneiro contemporâneo. As noites vão misturar leituras de poemas e participações musicais em releituras do repertório tropicalista por artistas e poetas – entre novos e consagrados – que de alguma forma ecoam o movimento em seus trabalhos e carreiras.

Os encontros ocorrerão, justamente, no primeiro andar da casa onde morou o irreverente e festivo Guilherme Araújo, célebre empresário e produtor musical dos baianos no final da década de 60, considerado uma espécie de co-criador do Tropicalismo. Por vontade do próprio Guilherme, após sua morte a casa foi transformada em gabinete de leitura, funcionando também como centro cultural.

O projeto, sob coordenação, curadoria e produção do jornalista Rafael Millon e do poeta Paulo Sabino (também jornalista), é realizado em parceria com o Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, e estreou oficialmente em fevereiro, reunindo a cantora Mãeana, o músico e compositor Bem Gil, e o poeta e agitador cultural Jorge Salomão, também em duas noites.

 

Serviço:

Gabinete de Leitura Guilherme Araújo apresenta –

SOMOS TROPICÁLIA – 50 anos do movimento

Lila, Matheus VK e Eber Inácio / Pocket-show e leitura de poesias
Dias 29/03 (4ª-feira) e 30/03 (5ª-feira)
A partir das 19h30
Rua Redentor, 157 Ipanema
Tel infos. 21-2523-1553
Entrada franca c/ contribuição voluntária
Lotação: 60 lugares
Classificação: livre

SOMOS TROPICÁLIA — 50 ANOS DO MOVIMENTO — MÃEANA, BEM GIL & JORGE SALOMÃO — O EVENTO: FOTOS & VÍDEO
22 de fevereiro de 2017

(Fotos de divulgação: Elena Moccagatta)

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(Fotos de divulgação dos convidados-participantes: Jorge Salomão, Bem Gil & Mãeana)

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(A iluminação para o projeto — Foto: Rafael Millon)

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(Casa cheia, público quente — Foto: Paulo Sabino)

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(A primeira noite do projeto: Bem Gil, Mãeana & Jorge Salomão — Foto: Thereza Eugênia)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Mãeana — Foto: Elena Moccagatta)

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(Bem Gil — Foto: Elena Moccagatta)

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(Jorge Salomão — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Bem Gil, Paulo Sabino, Rafael Millon, Mãeana & Jorge Salomão — Foto: Elena Moccagatta)
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Gente querida: a estréia do projeto “Somos Tropicália – 50 anos do movimento”, sexta-feira (17/02), no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, foi um axé, um arraso, maravilha total! Ficamos todos muito felizes e surpresos com a noite, porque, muito sinceramente, esperávamos que fosse bonita mas não a lindeza que foi.

Casa lotada, público quente, participativo e emocionado. Os convidados/ participantes fizeram um show pra ninguém botar defeito!

Alegria imensa pensar que nesta quinta-feira (23/02) tem mais Mãeana, Bem Gil e o poeta Jorge Salomão!

Agradecer demais a todos os envolvidos nesta empreitada: ao Alessandro Boschini a sua luz linda & delicada, ao músico & compositor George Israel a aparelhagem de som, ao Vitor Kruter o registro audiovisual, à Elena Moccagatta o registro fotográfico, e ao Gabinete de Leitura Guilherme Araújo o apoio por abrigar o projeto.

Vem geral na quinta-feira (23/02) porque tá valendo muito!

De presente aos interessados, videozinho, de 3 minutinhos, da estréia do projeto “Somos Tropicália – 50 anos do movimento”, com trechos da noite e depoimentos dos convidados participantes (Mãeana, Bem Gil e Jorge Salomão) e dos coordenadores e curadores (Rafael Millon e Paulo Sabino).

Serviço:

Gabinete de Leitura Guilherme Araújo apresenta –

SOMOS TROPICÁLIA – 50 anos do movimento

Mãena, Bem Gil e Jorge Salomão / Pocket-show e leitura de poesias
Dia 23/02 (5ª-feira)
A partir das 19h30
Rua Redentor, 157 Ipanema
Tel infos. 21-2523-1553
Entrada franca c/ contribuição voluntária
Lotação: 60 lugares
Classificação: livre

Venham!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Somos Tropicália. participantes: Mãeana, Bem Gil & Jorge Salomão. local: Gabinete de Leitura Guilherme Araújo. data: 17/02/2017. imagens & edição: Vitor Kruter. coordenação & curadoria do projeto: Rafael Millon & Paulo Sabino.)

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (8ª EDIÇÃO) — O EVENTO: FOTOS & POEMAS
11 de dezembro de 2016

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(No camarim, antes da apresentação, da esquerda para direita: Cristina Flores, Renata Corrêa, Paulo Sabino, Maria Rezende, Elizeu Braga, Renato Farias, Pedro Mann, Emílio Dantas & Leo Pinheiro — Foto: Rafael Millon)

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(O coordenador do projeto, Paulo Sabino — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(A grande homenageada da noite, Maria Rezende, e o coordenador do projeto, Paulo Sabino — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(A homenageada da noite, Maria Rezende — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Renata Corrêa — Foto: Elena Moccagatta)

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(Renato Farias — Foto: Elena Moccagatta)

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(Mariza Leão — Foto: Elena Moccagatta)

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(Emílio Dantas — Foto: Elena Moccagatta)

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(Emílio Dantas & Leo Pinheiro — Foto: Elena Moccagatta)

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(Pedro Mann — Foto: Elena Moccagatta)

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(Cristina Flores — Foto: Elena Moccagatta)

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(Elizeu Braga — Foto: Elena Moccagatta)

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(Os agradecimentos ao final — da esquerda para direita: Leo Pinheiro, Emílio Dantas, Maria Rezende, Paulo Sabino, Renato Farias, Cristina Flores, Elizeu Braga, Renata Corrêa & Pedro Mann — Foto: Rafael Millon)

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(Após apresentação, Emílio Dantas, Paulo Sabino & Renata Corrêa — Foto: Rafael Millon)

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(Após apresentação, Paulo Sabino & Pedro Mann — Foto: Rafael Millon)

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(Após apresentação, Elizeu Braga, Paulo Sabino, Renato Farias & Mariza Leão — Foto: Rafael Millon)

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(Após a apresentação, Paulo Sabino & Maria Rezende — Foto: Elena Moccagatta)

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(Após tudo, no lançamento do mais recente livro de poesia da Elisa: Maria Rezende, Elisa Lucinda & Paulo Sabino — Foto: Rafael Millon)
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Uma pessoa nua no meio da rua
sem ser sonho
é o quê?
Pessoa desarmada
apta pra tropeços

Não há maravilha sem carne
Só o que pulsa se espatifa
É preciso estar vivo pra brilhar e pra doer

 

Que noite. Nem sei. Tô astronauta ainda. Transbordada. Agradeço loucamente a todos os convidados que aceitaram estar lá comigo e me emocionaram profundamente. Obrigada Paulinho pelo convite. Eu sou puro amor agora.

(Maria Rezende)

 

 

Queridos & Queridas,

A 8ª edição do projeto Ocupação Poética, no teatro Cândido Mendes (Ipanema), a última de 2016, em homenagem à jovem & talentosa poeta Maria Rezende (agora, ao usar o termo “jovem”, me lembro demais do seu pai, Maria!) & com participantes pra lá de especiais, fechou o ano com chave de ouro maciço! Foi realmente impactante pra todos nós que participamos e que assistimos. Como eu & a Maria resolvemos não “amarrar” muito o roteiro da noite, deixamos a edição bem solta, fluir com o andar dos minutos, e a apresentação colocou-se num lugar inesperadamente lindo & muito emocionante, incrível. Amigos meus que foram a algumas várias edições me confidenciaram que esta foi a mais emocionada & emocionante de todas. Muitos risos, muita alegria, mas a noite, sem que planejássemos, também nos reservou boas lembranças & lágrimas. Foi um deslumbre! Foi um desbunde! Foi uma catarse! Foi de uma delicadeza & sensibilidade ímpares! Teatro cheio, público quente, leve, que se permitiu embarcar na apresentação junto com todas as histórias contadas & todos os poemas lidos. Eu, hoje, como já disse à Maria, estou com os pés acima do chão, hoje certamente caminho numa nuvenzinha, tamanha leveza & tamanho contentamento por todas as vivências no palco. Eu não esperava tanto, não mesmo. Não podia sequer imaginar que o ano de 2016, com a Ocupação Poética, fecharia assim, tão mágico, tão poético! Eu, mais uma vez, por graça & obra da Poesia, Musa Maior na minha vida, sou amor da cabeça aos pés!

Agradecer demais a presença de todos os participantes & envolvidos para que o projeto acontecesse do jeito que aconteceu: Cristina Flores, Elizeu Braga, Emílio Dantas, Mariza Leão, Pedro Mann, Renata Corrêa, Renato Farias & Rafael Millon.

Agradecer sempre ao Adil Tiscatti & à Fernanda Oliveira por acreditarem no potencial do projeto. Agradecer demais à Julia Mendes de Almeida, sempre simpática & solícita nos arranjos & rearranjos das datas pro projeto (Julinha, que bom te conhecer pessoalmente!).

Mariaaaaaa, cola em mim porque agora eu não desgrudo de você!

De bônus, depois da enxurrada de emoções & beleza que foi a apresentação, pertinho do teatro uma diva tanto minha quanto da Maria lançava o seu mais recente livro de poemas, o que, inclusive, a impossibilitou de participar desta 8ª edição como convidada: Elisa Lucinda. No meu exemplar, a dedicatória que conseguiu me deixar (uma coisa que pensava ser impossível) ainda mais feliz do que já estava:

“Paulo Sabino, com meu amor pelo amor com o qual você trata nossa arte. Beijo da Elisa.”

Valeu demais, valeu por tudo, valeu imensamente! Depois dessa injeção de ânimo, que venham as edições de 2017! Já temos poetas espetaculares para o ano que se aproxima, um luxo só! Vamos que vamos!

De brinde, abaixo, deixo aos interessados dois lindíssimos poemas da Maria Rezende que tive o prazer de ler nesta noite mágica.

Até já, até lá, com mais Ocupações Poéticas!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do livro: Bendita palavra. autora: Maria Rezende. editora: 7Letras.)

 

 

ESCREVO PORQUE ESTOU VIVA
escrevo porque é preciso
pra acordar, pra estar despida
porque o mundo não é só isso
que acontece aqui em cima

Escrevo porque não vivo
escrevo porque preciso
dessa roupa, esse colírio
escrevo pra pôr delírio
em tudo que é preto-e-branco

Escrevo pra estar viva
escrevo porque aqui minto
as belezas que não tenho
e as coragens que persigo
escrevo porque assim finjo

Escrevo contra as burrices
contra os medos que hoje sinto
escrevo a favor do sonho
escrevo pra estar livre
escrevo quando consigo
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(do livro: Carne do umbigo. autora: Maria Rezende. Edição do autor.)

 

 

MEU NORTE

 

O amor me deu um susto
o amor me deu um tapa
um soco doce
um sopro na asa
o amor me encheu de porrada

Me empurrou da bicicleta
me pôs de cama
mudou meu rumo
me deu um norte
roubou meu chão

O amor me botou no colo
deu plural pros verbos
curou minha tosse
me encheu de sede
me tirou das ruas
o amor me deu a mão

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (6ª EDIÇÃO) — VÍDEOS: MARIA REZENDE & ELISA LUCINDA
15 de setembro de 2016

(Todas as fotos: Elena Moccagatta.)

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(As poetas Maria Rezende & Elisa Lucinda)

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(A poeta Maria Rezende)

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(A grande homenageada da noite — a poeta & atriz Elisa Lucinda)
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Aos interessados, 3 vídeos da 6ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido no dia 2 de agosto (terça-feira), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação estelar de: Elisa Lucinda, Moraes Moreira & Maria Rezende.

Nos vídeos desta publicação, a grande homenageada da noite, a poeta & atriz Elisa Lucinda, lê um trecho do seu mais recente livro — e o primeiro romance — intitulado “Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada”, finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2015, com a poeta Maria Rezende; depois, separadamente, tanto a Maria quanto a Elisa lêem trechos do livro escolhidos por ambas.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. Elisa Lucinda & Maria Rezende lêem um trecho do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda.)

 

(trecho do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora:Elisa Lucinda. editora: Record.)

 

A noite chegou. Tive a impressão de que a tarde passara e que a minha mãe nem soubera de minha febre. (…) O tempo corria denso, e em meu coração o amor por ela subitamente pareceu ter dobrado de tamanho. Cavaleiro de Nada apareceu no quarto.

(…)

— Tu deverias falar com ela.
— Mas falar o quê?
— Que não queres ficar aqui. Que não podes viver longe dela, que preferirias a morte por febre ou tuberculose como o teu pai e o Jorge, teu pequenino irmão. Vai funcionar, bobo! Ela não suportaria mais essa dor, ainda que fosse em favor do seu casamento. Nenhuma grinalda vale isso.
— E se ela realmente leva-me com ela? Tu irás comigo, Cavaleiro de Nada?

(…)

— Sou teu, meu amigo, a ti pertenço mais do que aquela bola com o desenho de um cão verde, mais do que todos os teus brinquedos. Irei contigo aonde me levares. Agora vai lá. Ela ainda está ao piano. Apura-te.

Abracei com força o meu querido amigo. (…) O piano de minha mãe fazia com que, subitamente, tudo retornasse ao seu lugar de paz. (…) Com o indicador de um menino de 5 aninhos, toquei levemente as costas da minha querida Magdalena. Ela sorriu-me de volta e beijou a ponta do meu dedinho, demorada e carinhosamente. Depois me abraçou:

— Que queres, meu príncipe pequeno? Sabias que está perto de aprenderes o português escrito? Está já a chegar a hora.
— Sim, minha mamã.
— E na escola, percebes? Com os teus colegas da mesma idade, com uniforme e tudo! Vais ficar mais lindo ainda! A escola é um lugar cheio de amigos novos que falam a mesma língua que a gente e que, juntos, aspiram a crescer amando a pátria, o país. Isto tudo é para depois seres um português legítimo, forte e corajoso para a nação e para o mundo. Tu não queres ser esse homem? Hã, meu menino?

Fiquei em silêncio por um tempo no seu colo, minhas costas coladas ao peito dela, a escutar o suspeito batimento do seu coração. Ai, ai… Sabia o fundamento daquele novelo de palavras, percebia-lhe o casco, farejava o rastro das suas intenções, ainda que a doçura encobrisse a cena, aquelas eram palavras de deixar-me. Em meu pensamento, percorri Cavaleiro de Nada: Socorro! Amigo meu, o que é que eu faço? Pois que faça um poema para ela, disse-me ele. Qual? (…) Ele soprou-me ao ouvido, ditando-me as palavras.

(…)

— Acho que fiz uma quadra, posso declamá-la agora, mamã?
— Claro, meu querido, estou aqui e sou tua plateia.

Dito isso, ela saiu do banco do piano disposta a acomodar-se no sofá azul-escuro que acompanhava a família desde que eu me entendia por gente (…). Pus os bracinhos para trás e disparei estes versinhos como se fossem um só buquê oferecido a ela. Embora aparentemente inocente, hoje sei, era um desesperado buquê: À minha querida Mamã: Eis-me aqui em Portugal, nas terras onde nasci. Por muito que goste delas ainda gosto mais de ti. Minha mãe deu-se a chorar como uma criança à minha frente naquele dia. (…) Depois, demorou-se com seus olhos fundos dentro dos meus, como a pedir perdão. “Que linda quadra, meu bem, meu pequeno poeta. Pois está decidido. Tu vens com a mamã, meu amor. Vamos para a África com a mamã e faremos dentro de nossa casa lá a nossa língua, o nosso Portugal. Se te ensinei o francês aqui, ora pois, quem, que circunstância, por desconhecida que seja, ousaria impedir-me de ensinar-te a escrever a nossa língua-mãe? Hein, meu pequeno lusíada?” E passou a fazer-me cócegas, a brincar materna e humana com a sua cria.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. No 1º vídeo, a poeta Maria Rezende apresenta ao público o trecho que lerá do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda. No 2º vídeo, Elisa Lucinda & Maria Rezende lêem, cada uma, um trecho do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda.)

 

 

(trecho do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora:Elisa Lucinda. editora: Record.)

 

(…) Cada um deixa aqui sua história no mais minúsculo dos atos. Quem é Noronha? Li uma vez num jornal americano que um explorador casual, que por ousadia se aventurou por uma garganta intransitável das Montanhas Allegheny, ficou surpreendido com o aparecimento numa parte lisa de um rochedo escuro, de umas breves palavras gravadas. Era impossível que alguém lá antes estivesse estado. O viajante era de raça inglesa, e, como tal, não falava outra língua senão a sua. Desconheceu por isso a língua em que a inscrição estava feita. Copiou-a porém, esperando sem dúvida ter descoberto o indício de qualquer povo primitivo, misterioso e estranho. Porém quando, regressado à planície e à povoação, mostrou a inscrição que copiara, alguém houve que a lesse logo. A inscrição, afinal, era em português; era simples: ESTEVE AQUI O NORONHA. O Noronha não seguiu a rotina, porque a rotina não conduzia a paragens desconhecidas. O Noronha não buscou celebridade, porque então teria deixado ao menos o nome próprio também, para sabermos qual dos numerosos Noronhas é que tinha passado por ali. O Noronha é o exemplo supremo da iniciativa, que tem por prêmio só a mesma iniciativa. Aquela frase simples que o inglês não pôde traduzir dizia, na verdade, aqui esteve o inédito, o Noronha. Por isso, cuida-te. Ama o que fazes e faça-o com tudo o que tens. Qualquer que seja o teu trabalho, põe individualidade nele, esforça-te por lhe pores qualquer coisa de único, de diferente, de teu. Há aventuras até no fazer embrulhos. Há campo para criação até na redação de faturas. Lembra-te do Noronha. Ninguém podia passar pelas gargantas das Allegheny. Foi lá ter o Noronha. Eras capaz de ir lá ter? Sê ao menos capaz de ir ter a um novo modo de redigir cartas, de dobrar circulares, de colar selos. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive. Sê original em qualquer coisa. Vive. Sê gente… Não te deixes ser igual aos outros como se tivesse nascido carneiro. Não faças isso para brilhar. O Noronha não quis brilhar, pois nem sequer disse bem quem era. Faz isso para te sentires homem. Ele deixou o bilhete da visita e é de supor, retornou, se não morreu lá. Mas, seja como for, fez aquilo só porque ninguém o tinha feito. Tanto basta para justificar uma vida. Tudo é encontrar qualquer coisa. Mesmo perder é achar o estado de ter essa coisa perdida. Nada se perde, só se encontra qualquer coisa. Sentir é buscar.
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(trecho do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora:Elisa Lucinda. editora: Record.)

 

Estou pela rua, agora já vindo do Abel. Daquele jeito. Passam rapidamente os anos. Rapidamente passa a vida e não há nisso novidade. Não vem com a tarde oportunidade nenhuma. Quando fiz 38 anos, vi que estava sempre mais próximo de nunca ter realizado coisa alguma na vida, e ainda pensei: Que bom, a realização envelhece-nos. Tudo tem o seu preço; o preço da realização é a perda da juventude. Não me casei e por isso mantive-me livre tanto dos prazeres especiais como dos cuidados próprios dessa espécie de parceria; e o bem e o mal desse estado são igualmente envelhecedores. Nunca fiz um esforço real atrás de coisa alguma, nem apliquei fortemente a minha atenção exceto a coisas fúteis, desnecessárias e ficcionais. Sinto-me jovem porque tenho vivido desta maneira. Dirá o senhor que não prestei qualquer serviço à humanidade. Mas prestei a muitas pessoas o serviço de não estar no seu caminho. Não competi com as ambições de nenhum homem, nem me pus no caminho da grandeza natural de nenhum tolo. Ah, tudo isso é bastante literário, pois sou sempre bastante literário — já que é esta a inclinação certa de um espírito que não tem inclinações. Aqui, neste misérrimo desterro onde nem desterrado estou, habito, fiel, sem que queira, àquele antigo erro pelo qual sou proscrito. O erro de querer ser igual a alguém feliz. Estou a sentir que passo pela rua no horário em que os maridos voltam do trabalho, entram em suas casas, jantam com os seus filhos. Ao passar aqui fora, ouço todos os sons da cena familiar por dentro. Por um momento sou parte daquilo:

— Papai, um dia você me leva às touradas espanholas? Leva, não leva, papai?

(Silêncio)

— Ó Fernando, onde estás com a cabeça? Sou tua mulher. Não estás a ver-me aqui? Não escutas o que teu filho está a pedir-te?
— Não te deixes incomodar com eles, papai, compre um vestido novo para mim porque sábado haverá baile e o meu vestido, o senhor sabe, eu quero que seja o mais bonito. Estás a ouvir-me, meu papá?

(Silêncio)

— Fernando, não escutas a tua filha? Já é uma rapariga linda, e tu nem percebes?
— Ah, seu Fernando, para aproveitar a oportunidade que o senhor está aqui, eu estava a precisar de um aumento, porque o que eu ganho cá não está a compensar, não. Melhor voltar para Trás-dos-Montes, largar Lisboa para trás.

(Silêncio)

— Fernando, tu estás doido, surdo, em estado de choque ou o quê? A Alvina, nossa empregada, está a esperar a tua resposta, aliás como estamos todos!

Felizmente, minha imaginação foi quem me conduziu àquela mesa portuguesa, onde não bebi a açorda nem gostei do que vi. E foi a mesma imaginação que de lá me tirou, graças a Deus! Que maçada, aquele homem, aqueles filhos, aqueles assuntos, aquela família! Não. Não nasci para marido, definitivamente. A pessoa tem que ter vocação para aquilo. A pessoa do Pessoa não tem. Quem escreveria por mim, enquanto eu estivesse a jantar com aquela tribo vestida? Sigo meus próprios passos no breu da rua. Tudo que me cerca é feito de enormes silêncios. Ora, ora, meu verdadeiro clã é feito de palavras, sou o pai delas. É certo que tenho palavras grandes, desenvolvidas, independentes já, mas ainda há aquelas palavras pequenas, eu tenho palavras de colo ainda, palavrinhas. E, se não sou eu, quem há de garantir-lhes o leite? Vivo entre próclises e mesóclises a fazer bacanais indescritíveis e inconfessáveis. E, como sou português, o cardume de ênclises não sai da minha cama! Agora, casado verdadeiramente com uma figura de linguagem: uma Metonímia, uma Hipérbole, uma Metáfora, quem sabe? Também há desconfianças de que andou pela minha casa um tal de Substantivo, sendo que o Adjetivo, este sim não sai de lá. Sou um escravo do Adjetivo. Mas não é nada disso. Não houve nada, são as más línguas. Essa é que é minha gente.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (6ª EDIÇÃO) — VÍDEO: PAULO SABINO & ELISA LUCINDA
29 de agosto de 2016

(Todas as fotos: Elena Moccagatta.)

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(O coordenador do projeto — Paulo Sabino — & a homenageada da noite — Elisa Lucinda.)
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Aos interessados, vídeo da 6ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido no dia 2 de agosto (terça-feira), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação estelar de: Elisa Lucinda, Moraes Moreira & Maria Rezende.

No vídeo desta publicação, um bate-papo com a homenageada da noite, a poeta & atriz Elisa Lucinda, que fala sobre o convite para fazer o seu mais recente livro — e o primeiro romance — intitulado “Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada”, finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2015, sobre a construção da narrativa, sobre o seu contato com o escritor & poeta moçambicano Mia Couto, responsável pelo prefácio do livro, e conta casos divertidos que permeiam a sua vivência com a obra. Ao final, a poeta & atriz recita “Mar português”, poema do grande homenageado da noite, o poeta português Fernando Pessoa.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. Bate-papo com Elisa Lucinda & Paulo Sabino a respeito do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda. Elisa Lucinda recita Mar português, poema de Fernando Pessoa.)

 

MAR PORTUGUÊS  (Fernando Pessoa)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (6ª EDIÇÃO) — FOTOS & VÍDEO DE ABERTURA: PAULO SABINO
11 de agosto de 2016

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(Instante antes do início — Foto: Felipe Fernandes)

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(Paulo Sabino — Foto: Felipe Fernandes)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

Paulo Sabino 6ª Ocupação Poética

(Foto: Taís Campos)

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(A homenageada: Elisa Lucinda — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Felipe Fernandes)

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(Maria Rezende — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Felipe Fernandes)

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(Moraes Moreira — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Maria Rezende & Elisa Lucinda — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Moraes Moreira & Elisa Lucinda — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Felipe Fernandes)

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(Paulo Sabino & Maria Rezende — Foto: Rafael Roesler Millon)

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(Foto: Rafael Roesler Millon)

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(Moraes Moreira & Paulo Sabino — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Rafael Roesler Millon)

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(O coordenador do projeto — Paulo Sabino — & a homenageada da noite — Elisa Lucinda — Foto: Felipe Fernandes)

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(Foto: Elena Moccagatta)

Paulo Sabino & Elisa Lucinda 6ª Ocupação Poética

(Foto: Singoala Luz)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Felipe Fernandes)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Rafael Roesler Millon)

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(O quarteto fantástico: Elisa Lucinda, Moraes Moreira, Paulo Sabino & Maria Rezende — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)
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“Meu pretinho, muito obrigada, você é muito querido, espontâneo, foi uma noite mágica. Quero fazer outra o ano que vem, ou quando você puder e quiser, com a obra poética minha. Meu beijo imenso, Paulo, muito obrigada mesmo.”

(Elisa Lucinda)

 

Mensagens de espectadores da 6ª edição do projeto Ocupação Poética:

“Muito bom, ver o trabalho de Elisa Lucinda é sempre transformador, e os convidados Moraes Moreira e Maria Rezende tb colaboraram para florear o ambiente. Parabéns Paulo Sabino”.

“Foi uma noite maravilhosa meu lindo amigo, sou sua fã de seu projeto de carteirinha. Gratidão!”

“Misturar o talento e a luz de Elisa Lucinda com a genialidade de Fernando Pessoa não poderia resultar em nada menos que MARAVILHOSO!”

“Foi demais! Vou devorar o livro nas férias.”

 

 

Só me chegaram registros lindos da 6ª edição do projeto Ocupação Poética, que coordeno no teatro Cândido Mendes de Ipanema, que teve, como homenageada, no dia 2 de agosto (terça-feira), a atriz & poeta & minha diva Elisa Lucinda, que, por sua vez, homenageou o poeta Fernando Pessoa, e as participações para lá de especiais da poeta Maria Rezende & do cantor, músico & compositor Moraes Moreira.

Uma noite linda, descontraída, e cheia de conteúdo.

Todos muito felizes. As fotos traduzem a beleza & a descontração que conseguimos imprimir na apresentação.

Como base das leituras, o mais recente livro — e o primeiro romance — da Elisa Lucinda, intitulado “Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada”, finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2015.

No vídeo desta publicação, a apresentação do projeto, o poema de Carlos Drummond de Andrade em homenagem a Pessoa & o trecho do livro da Elisa escolhido por mim para a minha leitura.

Ao que tudo indica, pela mensagem da Elisa postada acima, teremos a atriz & poeta uma segunda vez no projeto. Elisa já me contou que tem livro inédito de poesia chegando na área; então a idéia é fazermos uma edição focada no seu mais recente livro de poemas! Oba!

Elisa Lucinda merece repeteco! Eu quero Elisa Lucinda mais uma vez na Ocupação Poética!

Agradecer imensamente aos participantes, Maria Rezende & Moraes Moreira, que só fizeram abrilhantar a noite ainda mais!

Mais vídeos desta edição serão publicados! É só aguardar!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. Paulo Sabino apresenta o projeto Ocupação Poética, recita As identidades do poeta, poema de Carlos Drummond de Andrade, e lê um trecho do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda.)

 

AS IDENTIDADES DO POETA  (Carlos Drummond de Andrade)

De manhã pergunto:
Com quem se parece Fernando Pessoa?
Com seus múltiplos eus, expostos, oblíquos
em véu de garoa?
Com tripulantes-máscaras de esquiva canoa?
Com elfo imergente
em frígida lagoa?
Com a garra, a juba, o pelo amaciado
de velha leoa?

Quem radiografa, quem esclarece
Fernando Pessoa,
feixe de contrastes, união de chispas,
aluvião de lajes
figurando catedral ausente de cardeais,
com duendes oficiando absconso ritual
vedado a profanos?

Que sina, frustrado destino, foi a coroa
desse Pessoa,
morto redivivo, presentifuturo
no céu de Lisboa?

Que levava (leva) no bolso
Fernando Reis de Campos Caeiro Pessoa:
irônico bilhete de identidade,
identity card
válido por cinco anos ou pela eternidade?

Que leva na alma:
augúrios de sibila,
Portugal a entristecer,
a desastrosa máquina do universo?

Fernando Pessoa caminha sozinho
pelas ruas da Baixa,
pela rotina do escritório
mercantil hostil
ou vai, dialogante, em companhia
de tantos si-mesmos
que mal pressentimos
na seca solitude
de seu sobretudo?

Afinal, quem é quem, na maranha
de fingimento que mal finge
e vai tecendo com fios de astúcia
personas mil na vaga estrutura
de um frágil Pessoa?

Quem apareceu, desapareceu na proa
de nave-canção
e confunde nosso pensar-sentir
com desconforto de ave poesca
e doçura de flauta de Pã?

À noite divido-me:
anseio saber,
prefiro ignorar
esse enigma chamado Fernando Pessoa.
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(trecho do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora: Elisa Lucinda. editora: Record.)

 

Abro a janela por onde vejo minha gênese: para revelar que mais tarde eu poderia vir a ser o mais popular, o mais conhecido poeta de língua portuguesa do mundo, nasci numa tarde nítida de fim de primavera quando o sol confirmava três horas e vinte minutos no meio do signo de gêmeos daquela brilhosa hora, no quarto andar esquerdo do número quatro do largo de São Carlos, em frente ao Teatro de Ópera do mesmo bairro. Quem ler o meu mapa astral logo interpretará com facilidade o meu destino mais do que eu fui capaz de fazê-lo. Um mês e uma semana depois houve batizado daquele bebê reluzente ao colo da satisfeita madrinha, tia Anica, na basílica dos Mártires, lá no Chiado. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, a minha mãe e primeiro amor de minha vida, minha verdadeira pátria, a quem amei mais do que a minha própria pátria, e o meu pai, Joaquim Seabra Pessoa, funcionário público do Ministério da Justiça durante o dia e crítico musical do Diário de Notícias à noite, encontraram-se. O amor dos dois deu-me este nome porque nasci em 13 de junho, dia de Santo Antônio e também dia de Lisboa. Logo ele que, por batismo, era Fernando de Bulhões, o nome verdadeiro do santo de quem a minha família se afirmava parente mesmo, genealogicamente falando, e do qual reclamava consanguinidade. Pois bem, este homem recebeu, dentro da ordem franciscana, o pseudônimo de Antônio. Assim resultou em mim como Fernando Antônio Nogueira Pessoa, cujo duplo nome havia de gerar várias pessoas, outros eus meus, criados por mim com nome e obra próprios, mas isto é assunto para depois, é outro capítulo. Prefiro que nos detenhamos por agora nesta casa que fica entre uma igreja e um teatro lírico. As cenas de devoção e óperas, eu primeiro as ouvi para depois vê-las. Isto é, depois já de tê-las criado automaticamente em minha imaginação. Êh, êh, êh, êh, minha imaginação, aquela que dá facilmente partida, desde aí, ao pé de fortes impressões sonoras! Veja em que deu tamanha alegórica vizinhança: De um lado, ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia, e cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça. Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso, e as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro. Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça e sente-se o chiar da água no fato de haver coro. A missa é um automóvel que passa. Súbito vento sacode em esplendor maior a festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe, com o som das rodas do automóvel, e apagam-se as luzes da igreja na chuva que cessa. E tudo isto tilintando num coraçãozinho destes como é o meu.

Do outro lado, todo o teatro é meu quintal, a minha infância: o maestro sacode a batuta, aquele dia em que eu brincava ao pé dum muro de quintal, atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado o deslizar dum cão verde, ora um cavalo azul com um jóquei amarelo. O teatro é o meu quintal, está em todos os lugares, e a bola vem a tocar a música. Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos. O muro do quintal é feito de gestos de batuta. Todo o teatro é um muro branco de música por onde um cão verde corre atrás de minha saudade da minha infância. (…) O maestro agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro, e curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça, bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo. Prossegue a música, e eis a minha infância.