Se alguém me pergunta qual é a minha fruta predileta, imediatamente respondo, sem precisar pensar: uva. Desde muito criança, sempre fui um apaixonado por uvas. Por todas. Verdinha, vermelhinha, grande, pequenininha, doce ou azeda, a uva sempre foi a minha fruta número um. Uva, na geladeira, até hoje, é um dilema: sem um autocontrole pesado, sou capaz de devorar um quilo em meia hora. Como enquanto tiver pra comer.
Eis que, mais pra adulto, me apareceu a uva sem caroço. Adotei-a prontamente, sem muito questionar, aceitando a sua estranheza, e, por isso, ignorando-a ao ponto de nunca pesquisar sobre ela, sobre a estranheza, sobre a grande questão: como pode, de onde, uma fruta sem sua semente, manga sem caroço, maçã sem caroço, melancia sem caroço, mamão sem caroço, abacate sem caroço?… Afinal, o que difere fruta de legume não é justamente a existência da semente, do caroço? O tomate, tadinho, até hoje sofre com essa questão existencial… E, até hoje, uva sem caroço é uma questão porque, até hoje, não pesquisei a respeito. Por isso, tamanho espanto por uma fruta sem semente me rendeu um poema em homenagem a essa delícia que é a uva, e mais, a uva sem caroço. Fruta ou legume? Eis a questão.
Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(Os participantes — em pé: Salgado Maranhão e Juliana Linhares, sentados: Helio Moulin e Mihay — com o busto do Guilherme Araújo e a fotografia da Gal — Todas as fotos: Elena Moccagatta)
(Na “Agenda da semana” do caderno cultural do jornal O Globo, um dia antes da estréia)
(Na coluna “Gente Boa”, do caderno cultural do jornal O Globo)
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Alô alô! Alegria alegria! É chegada a hora! Amanhã, quarta-feira (26/04), estréia da 3ª etapa de encontros do projeto “Somos Tropicália”, com a atriz e cantora Juliana Linhares (cantora e integrante da banda “Pietá” e do projeto “Iara Ira”, ao lado das cantoras Júlia Vargas e Duda Brack), o cantor, compositor e videomaker Mihay (o Mihay já cantou com o Chico César, excursionou com o João Donato, e tem, no seu segundo disco, participação da Tulipa Ruiz, Mariana Aydar, do Robertinho Silva, Kassin, e do próprio João Donato, entre outros), o instrumentista-violonista Helio Moulin (o Hélio é filho do monstro violonista e guitarrista da música popular brasileira e do jazz Helio Delmiro, que tocou com Elis Regina, Clara Nunes, Milton Nascimento, a diva da música norte-americana Sarah Vaughan, entre outros), e o poeta vencedor do prêmio Jabuti de poesia (o mais importante prêmio literário, pelo seu belíssimo livro “Ópera de nãos”) Salgado Maranhão.
Abaixo: o serviço completo (datas, horário, local), um vídeo feito pelo Mihay depois de um dos ensaios que ele, a Juliana Linhares (a musa do vídeo) e o Helinho Moulin fizeram para as apresentações, e um poema-canção de um gênio tropicalista.
Venham todos!
Serviço:
Gabinete de Leitura Guilherme Araújo apresenta –
SOMOS TROPICÁLIA – 50 anos do movimento
Juliana Linhares, Mihay, Helio Moulin e Salgado Maranhão / Pocket-show e leitura de poesias
Dias 26/04 (4ª-feira) e 27/04 (5ª-feira)
A partir das 19h30
Rua Redentor, 157 Ipanema
Tel infos. 21-2523-1553
Entrada franca c/ contribuição voluntária
Lotação: 60 lugares
Classificação: livre
parque industrial: área urbanizada destinada a indústrias. mas, sob a luz tropicalista, “parque industrial” pode ser entendido como um lugar de diversão (a que são destinados os parques não-industriais), um lugar de distração, porém distração tamanha que chega a ser alienante.
parque industrial: lugar de desenvolvimento tecnológico, porém, no brasil, sob a luz tropicalista, um lugar de desenvolvimento subdesenvolvido, capenga, deficitário, pois abandona a sua população à miséria e ao subdesenvolvimento.
o “parque” industrial, o avanço da industrialização, como a salvação da lavoura: é o que vem trazer nossa redenção, nossa salvação.
temos as propagandas da indústria, enganosas, vendendo felicidade em prestações a perder de vista, distribuindo alegria padronizada e enlatada, produzindo alienação com seus reality shows e seus debates que em nada interessam.
a revista moralista, veja você, a revista lida e mantida pelo cidadão de bem, traz uma lista dos pecados da vedete, mulher que cantava e dançava nos antigos teatros-revistas e musicais. porém, não lista a violência que escorre solta nas páginas dos jornais (um banco de sangue encadernado), a violência, essa, sim, capaz de machucar, maltratar, torturar, sangrar, matar.
e, no fim das contas, tudo isso, todos os (d)efeitos colaterais são feitos aqui, no brasil, ou, como se coloca nos produtos industrias a fim de identificar a sua origem de fabricação, “made in brazil”, feito no brasil, todos os (d)efeitos colaterais desse tipo de organização econômica (que acaba por ditar a social) são produzidos pelo avanço industrial, pelo parque industrial, por esse tipo de organização consumista, onde tudo, no fim das contas, não passa de “venda e compra”.
o parque industrial: vem trazer nossa redenção?…
beijo todos!
paulo sabino.
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(do encarte do álbum: Tropicália ou Panis et circenses. autor: Tom Zé.)
PARQUE INDUSTRIAL
Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação
Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção
Tem garotas-propaganda
Aeromoças e ternura no cartaz
Basta olhar na parede minha alegria
Num instante se refaz
Pois temos o sorriso engarrafado
Já vem pronto e tabelado
É somente requentar e usar
É somente requentar e usar
Porque é made, made, made, made in Brazil
Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação
Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção
A revista moralista
Traz uma lista
Dos pecados da vedete
E tem jornal popular
Que nunca se espreme
Porque pode derramar
É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado
É somente folhear e usar
É somente folhear e usar
Porque é made, made, made, made in Brazil
Porque é made-made-made-made in Brazil
Porque é made-made-made-made in Brazil
Made in Brazil
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(do site: Youtube. álbum: Tropicália ou Panis et circenses. artista: Vários. canção: Parque Industrial. autor: Tom Zé. intérpretes: Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Mutantes. gravadora: PolyGram.)