ela me chegou através de um cunhado seu que já foi um cunhado meu (no meu coração, meu eterno cunhadinho – rs). ela é poeta. ela mora em paris. leciona & pesquisa, estuda, literatura em língua portuguesa. ela possui dois livros publicados.
via e-mail, recebi esta bonita, singela e sábia “regra” poética, que me levou a pensar numa questão relacionada a escolhas.
na vida, para quaisquer tipos de coisas, vejo pessoas fazendo das suas preferências um grande “ranque”, um tipo de “pódio de chegada”. pessoas que precisam afirmá-las — nos termos do “pódio de chegada”, vale o esclarecimento — para mostrarem, aos outros e a si, que têm muita personalidade (rs). se dependerem de mim, imaginarão sempre que sou um “sem personalidade” (rs).
eu, sinceramente, parei com esse jogo.
“quem é a maior cantora do brasil, gal costa ou maria bethânia?” “qual é a maior banda de todos os tempos, beatles ou rolling stones?” “quem é o mais foda, chico ou caetano?” “você gosta mais de doce ou de salgado?” “prefere o frio ou o calor?” “é mais rueiro ou mais caseiro?” “quem é o maior poeta brasileiro na sua (personalíssima, evidentemente – rs) opinião, drummond ou joão cabral?” “e o maior escritor, machado de assis ou graciliano ramos?”
chega!, cansei (rs). não quero ter que preferir entre uma e outra coisa, não quero ter que escolher o primeiro, o segundo e o terceiro lugares. lugares do quê?, da onde?, do sentimento?, do meu sentimento? mas para o meu sentimento não é preciso esse tipo de “escala dos mais-mais”. não! no meu sentimento todos têm espaço, todos têm as suas grandes importância & contribuição.
esse tipo de olhar, o que abriga todos, é claro, não nasceu comigo. somos criados num mundo de muitas competições. as pessoas, muitas vezes, perdem o prumo e passam a competir por quaisquer razões. não considero saudável essa postura.
observando o entorno, percebi que as belezas são tamanhas e tantas, que se tornam ainda mais belas porque convivem, coabitam, porque: complementares.
belezas não nasceram para exclusão, para catalogação de importâncias, ao contrário: belezas: sempre sempre sempre complementares, e complementares porque singulares, únicas, ímpares.
(e viva a diversidade!)
seguindo esse viés, tenho, por regra, assim como a autora dos versos a seguir, abarcar o todo-encanto, abarcar tudo que comove como: preferências, nada de fora:
de dia, sorver a sua transparência, sequioso.
de noite, ab-sorver o impenetrável da noite, esta formosura, escura.
isto é: (ir) a tudo!
inês cavalcanti, muitíssimo obrigado pelo poemeto. agora aguardo o seu livro.
(pensem a respeito das suas escolhas.)
beijo em você, poeta.
um outro nos senhores.
o preto,
paulo sabino / paulinho.
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REGRA (autora: Inês Cavalcanti.)
De noite absorver a pura
formosura impenetrável
da noite escura.
De dia sorver sequiosa
a transparência formosa
do meio-dia.