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INFORMAÇÃO LUXUOSÍSSIMA!
Acho um PRIVILÉGIO o acesso tão direto a ela.
Me disse a sempre benvinda & querida Inez Cabral de Melo:
estou organizando uma edição com um manuscrito inédito do véio (estudos para um auto q ele não terminou) e o armando [freitas filho] escreveu a apresentação. ficou D+! em agosto ou setembro nas melhores livrarias…
OBAAAAA! Material INÉDITO do mestre João Cabral de Melo Neto com apresentação de Armando Freitas Filho!
Aos fãs, fica a expectativa & a espera!
(Certamente estarei na noite do lançamento! Armando + João Cabral + Inez Cabral = IMPERDÍVEL!)
João Cabral é considerado, juntamente com Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira & Ferreira Gullar, um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos.
A sua poética é conhecida por ser direta, sem floreios, árida, seca, apenas o estritamente necessário, as palavras ponderadas & milimetricamente medidas, explorando ao máximo as potencialidades do mínimo, sem espaço para excessos & verborragia.
Abaixo, aos senhores, um poema lindíssimo do mestre, uma espécie de ars poetica (versos que tratam da natureza da poesia, versos que tratam do processo de criação poética), poema, portanto, que revela o modo de criar poemas utilizado por João Cabral, poema comentado magistralmente pelo meu querido amigo, o poeta & filósofo Antonio Cicero.
Enquanto não chega o lançamento do material inédito de João Cabral, deliciem-se com a bela análise do Cicero e com os belos & clássicos versos do mestre!
Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do livro: A educação da pedra e depois. autor: João Cabral de Melo Neto. editora: Nova Fronteira.)
CATAR FEIJÃO
A Alexandre O’Neill
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
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Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
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(trecho do livro: Poesia e filosofia. autor: Antonio Cicero. editora: Civilização Brasileira.)
No poema “Catar feijão”, o poeta João Cabral de Melo Neto exprime, metafórica porém ostensivamente, algumas ideias sobre escrever: sobre, no fundo, escrever poemas (…).
Tratando-se de uma espécie de ars poetica, esse poema chega bastante perto de ser proposicional, dizendo que o poeta deve livrar-se do que é leve (superficial) e oco (insubstancial), palha (ninharia) e eco (repetição do que já foi dito); e que, longe de buscar uma dicção de musicalidade convencional e fácil, deve criar ruídos, obstáculos, surpresas que obriguem o leitor a se manter acordado e atento, retirando-o, através de usos fonéticos, sintáticos, semânticos inesperados, da sonolência, do torpor e da autossatisfação do habitual, do que já tenha sido digerido. A surpreendente comparação entre catar feijão e escrever um poema faz parte da sua estratégia.
Ora, o próprio poema é admirável, não porque proponha essa ars poetica, mas porque realiza magistralmente aquilo que prescreve. Não é no que diz, mas em como diz o que diz que reside sua poesia. É que o poema iconicamente realiza o que aparentemente prescreve.