BIOGRAFIA
28 de outubro de 2014

Poesia_Nascimento

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biografia: narração, oral, escrita ou visual, das várias fases da vida de uma pessoa ou personagem.

a biografia de um poema:

o poema vai nascendo, vai ganhando vida-versos, num passo que desafia, num caminhar que instiga, que incita: numa hora eu já o levo, eu transporto as palavras, eu carrego os versos, numa hora eu levo o poema porque ao poeta — a mim — cabe a arquitetura de palavras & versos, e outra vez ele — o poema — me guia, tomando-me pelas mãos & escrevendo a sua sina (num dado momento, quando o poema vai ganhando alguma forma, acontece de os próprios ritmo & versos ditarem os caminhos que o poema deve tomar, ainda que tais caminhos, ditados pelos ritmo & versos, contrariem a “opinião”, a “vontade”, do poeta, como se não mais importasse o seu desejo para com os versos).

numa hora eu já o levo, outra vez ele me guia: assim o poema vai nascendo, vai ganhando vida-versos, mas seu corpo lírico ainda é prematuro, ainda é precoce, ainda está em formação, letra lenta, letra que chega vagarosa, pensada, re-pensada, letra lenta que incendeia, letra lenta que queima, com a carícia de um murro (um murro-carícia: um dos grandes efeitos da poesia: efeito feito de contradição, de paradoxo, o que o deixa ainda mais poético — um murro-carícia: a sensação de ser golpeado pelas idéias abrigadas nas palavras que os versos contêm, porém golpeado de forma carinhosa, porque golpeado por palavras, “entes” que incendeiam & machucam & esmurram & ferem apenas metaforicamente).

o poema vai nascendo, vai ganhando vida-versos, sem o ou e que o sustente, e, nascendo sem mão (para ampará-lo no momento da saída total) ou mãe que o sustente (que tenha engravidado & que o esteja parindo), insuportavelmente perverso (a palavra perverso é formada pela palavra “verso”), insuportavelmente malvado, o poema me contradiz: como pode um poema “nascer”, como pode um poema “ser gestado”, sem mão ou mãe que o sustente?

o poeta, sabe-se, não pode ser mãe nem sua mão pode amparar o poema (num dado momento, quando o poema vai ganhando alguma forma, acontece de os próprios ritmo & versos ditarem os caminhos que o poema deve tomar, ainda que tais caminhos, ditados pelos ritmo & versos, contrariem a “opinião”, a “vontade”, do poeta, como se não mais importasse o seu desejo para com os versos).

o poema vai nascendo, vai ganhando vida-versos: jorro de idéias, jato de lampejos, que engole & segura o pedaço duro do grito — diferentemente do recém-nascido, que explode em choro & grito ao nascer, ao nascer o poema engole & segura o pedaço duro do grito, o poema guarda em si a parte difícil, árdua, do grito que gritam os versos (tudo, no poema, quer jorrar, quer gritar, quer explodir, quer expandir em mil sentidos & significações, a serem descobertos na leitura cuidadosa que o poema exige, porém o grito é contido, porque o grito do poema precisa ser revelado, ninguém o escuta, é grito gritado por entre versos & palavras).

o poema vai nascendo, vai ganhando vida-versos: pombo de pluma & granito, pássaro de pena & pedra, feito para alçar vôos nas direções as mais diversas, entretanto alçar vôos em folha de papel — o poema é um pássaro duro, imóvel, intacto, parado, bonito, como se fosse granito.

o poema vai nascendo, vai ganhando vida-versos: jorro de idéias, jato de lampejos, que engole & segura o pedaço duro do grito; pombo de pluma & granito, pássaro de pena & pedra, feito para alçar vôos nas direções as mais diversas, entretanto alçar vôos em folha de papel, duro, imóvel, intacto, parado, bonito, como se fosse granito.

não percamos a viagem: embarquemos nas asas da poesia!

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Todos os ventos. autor: Antonio Carlos Secchin. editora: Nova Fronteira.)

 

 

BIOGRAFIA

A Ricardo Vieira Lima

O poema vai nascendo
num passo que desafia:
numa hora eu já o levo,
outra vez ele me guia.

O poema vai nascendo,
mas seu corpo é prematuro,
letra lenta que incendeia
com a carícia de um murro.

O poema vai nascendo
sem mão ou mãe que o sustente,
e perverso me contradiz
insuportavelmente.

Jorro que engole e segura
o pedaço duro do grito,
o poema vai nascendo,
pombo de pluma e granito.

MAS NÃO É SÓ ISSO APENAS
3 de setembro de 2014

Poesia_Aperte Play

Cadernos_Paulo Sabino__________________________________________________________________

o poeta & a sua obstinada busca em realizar, a cada feito, o melhor poema:

a construção se faz pouco a pouco. o esqueleto estético (o esboço do que se pretende um poema) segue o seu trajeto de sol, segue o seu trajeto em busca de luminosidade, de claridade, para ter algum norte, para ganhar o seu rumo de ritmo & sentidos: cimento, tijolos sobre tijolos, e a obra — o poema — projeta-se em seu propósito, evitando a lógica, o óbvio. afinal, a poesia trabalha com o deslocamento da linguagem no seu mais alto grau de perplexidade. a poesia, trabalhando com o deslocamento da linguagem no seu mais alto grau de perplexidade, quer comunicar mas sem facilitar para o leitor. os jogos de linguagem criados nem sempre são palatáveis à gula do entendimento nosso à primeira vista. em muitos casos, o poema solicita diversas visitações, o poema reclama um número incontável de leituras, a fim de uma apreensão mais abrangente do que comunicam os versos.

metáfora por metáfora, metro ante metro (metro: além de unidade de medida de comprimento internacional, é também a medida que estabelece a quantidade de sílabas de cada verso, o que garante a forma rítmica de uma obra poética), o ritmo imprevisível dos versos dá-se, assim, por descoberto: eis, finalmente, o poema aprontado pelo poeta.

o prédio de sons & signos — no caso, a construção em versos: o poema — traspassa o indizível, o prédio de sons & signos atravessa o que não é dito, pois tudo que compõe o poema (seus jogos lingüísticos, o prédio de sons & signos) vingará depois que ele for dado à expectativa dos leitores & dos críticos (tudo que se tem a saber de um poema encontra-se apenas no poema, na sua arquitetura de versos & palavras & idéias criadas entre versos & palavras, que leitores & críticos se esforçam para entender, para desvendar, para revelar).

no processo em que se atiram leitores & críticos (o de entender, o de desvendar, o de revelar, a arquitetura de versos & palavras & idéias criadas entre versos & palavras), certo é pintar o edifício — o prédio de sons & signos — com as cores do raciocínio, certo é colorir o edifício — o prédio de sons & signos — com as cores da razão crítica, que é o que nos capacita à atividade de examinar & avaliar minuciosamente uma produção artística, literária ou científica.

a fachada do poema — a sua forma & conteúdo — aberta, a fachada do poema — a sua forma & conteúdo — à vista do que pode a prosa, a fachada do poema — a sua forma & conteúdo — à vista do que pode a arte de desvendar o poema (trabalho que realizo neste espaço): mas não é só isso apenas: a minha voz, a voz de paulo sabino, uma das tantas vozes que se empenham na arte de desvendar poemas, a voz de paulo sabino, que, segundo o poeta, mistério de haver mistério, voz que ao poeta parece misteriosa pelo que diz & cala, a voz de paulo sabino, vinda de anotações dos tantos cadernos de rabisco em que trama as linhas que dão forma aos textos de apresentação aqui dispostos, a voz de paulo sabino, que, ao poeta, é o esforço nítido para divulgar o cosmo imperecível, que vai de cicero a safo, de bandeira a baudelaire.

a voz de paulo sabino: o esforço nítido para divulgar o cosmo imperecível, que vai de cicero a safo, de bandeira a baudelaire: o cosmo imperecível: o universo criado pelas mãos sofisticadas da poesia, universo que nunca morrerá, uni/verso que resiste em versos, inabalável, universo que resiste às intempéries da vida moderna (apressada, superficial, desatenta).

(e, sem dúvida, sobretudo o verso é o que pode lançar mundos no mundo.)

segundo o poeta, a casa, construída por paulo sabino através das suas interpretações textuais acerca dos edifícios de sons & signos que são os poemas, se monta, a casa — construída por paulo sabino — se põe pronta, de pé, e nada parece faltar à peça.

para o poeta, à casa construída & montada por paulo sabino, paralela ao edifício de sons & signos que são os poemas, nada parece faltar, tudo cabe: o ethos (palavra grega que significa, entre outras coisas, o conjunto de valores característicos de um movimento cultural ou de uma obra de arte), o pathos (palavra grega que significa, entre outras coisas, paixão, sentimento excedido), o moto-contínuo (movimento de um mecanismo que, após iniciado, continuaria indefinidamente, gerando, através do gasto de energia, mais energia para o seu funcionamento): o ethos (os valores característicos do poema), o pathos (o sentimento profundo que o poema abarca), o moto-contínuo (o trabalho incessante, ininterrupto, de interpretação do poema): para o poeta, na casa construída & montada por paulo sabino, nada parece faltar; tudo cabe nas interpretações textuais de paulo sabino.

depois das verificações todas, a respeito do trabalho poético & do trabalho de interpretação de um poema, o olhar do poeta se dispersa.

a criação — o poema — se fez pouso, a criação se fez edifício de sons & signos (cujos ambientes procuro habitar, todos de uma vez), e, ao mesmo tempo, a criação — o poema — se fez ponte (construção lingüística que estabelece comunicação com o seu leitor).

o arcabouço estético (o esboço do que se pretende um poema), projetado pelo poeta, chega ao seu percurso de sonho para virar ode (notem a rima que o poeta cria nos dois últimos versos do poema), para virar poema lírico de versos de mesma medida, ode dedicada a paulo sabino, seu companheiro-amigo de jornada poética.

mas não é só isso apenas: o poema projetado pelo poeta é, de fato, uma ode, é, de fato, um poema lírico de versos de mesma medida: tratam-se de redondilhas maiores (os versos possuem todos 7 sílabas, a começar pelo título do poema).

sofisticação pura.

ao poeta, o meu mais sincero & feliz agradecimento por este “presente” poema!

beijo todos!
paulo sabino.
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(do site: Quefaçocomoquenãofaço. de: Adriano Nunes. autor: Adriano Nunes.)

 

 

MAS NÃO É SÓ ISSO APENAS

 

A construção se faz pouco
A pouco. O esqueleto estético
Segue o seu trajeto de
Sol para ter algum norte —

Cimento, tijolos sobre
Tijolos e logo a obra
Projeta-se em seu propósito,
E evita a lógica, o óbvio.

Metáfora por metáfora,
Metro ante metro, o ritmo
Imprevisível dos versos
Dá-se assim por descoberto.

O prédio de sons e signos
Traspassa o indizível, pois
Tudo vingará depois
Que for dado à expectativa

Dos leitores e dos críticos —
Certo é pintar o edifício
Co’as cores do raciocínio.
A fachada aberta à vista

Do que pode a prosa, a arte
De desvendar o poema —
Mas não é só isso apenas:
A voz de Paulo Sabino,

Mistério de haver mistério,
Anotações no caderno
De rabisco, o esforço nítido
Para divulgar o cosmo

Imperecível que vai
De Cicero a Safo, até
De Bandeira a Baudelaire.
Palavra sobre palavra,

A casa se monta e nada
Parece faltar à peça.
O ethos, o pathos, o moto-
Contínuo, e o olhar se dispersa.

A criação se fez pouso
E ponte. O arcabouço estético
Chega ao seu percurso de
Sonho para virar ode.

POR VER RUÍNAS, A CASA QUE SABEREI (PRÉ-PALAVRA) & SUA LEI DO VENTRE LIVRE
7 de fevereiro de 2013

casa em ruínas

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a casa mal construída, assim como a casa bem construída, me parece conclusiva.
 
a casa mal construída, assim como a casa bem construída, me parece concluída, me parece pronta à habitação.
 
 porque sempre vi as casas — tanto a mal construída quanto a bem construída — como “pedras-só”, sempre vi as casas — tanto a mal construída quanto a bem construída — como peças únicas, a casa como única peça, única pedra: a peça-pedra.
 
sempre vi as casas — tanto a mal construída quanto a bem construída — como tijolo (peça-pedra única) pretenso à casa, à espera de nossa voz, isto é, à espera de vozes várias que diriam a elas (às casas):
 
tijolo
sobre
tijolo
argamassa cal cimento concreto & janela
 
sempre vi as casas — tanto a mal construída quanto a bem construída — como “pedras-só”, como peças-pedras únicas, por não conseguir identificar todos os materiais que, no conjunto, constroem o que identificamos como casa: tijolo sobre tijolo, argamassa, cal, cimento, concreto & janela (a ela, à janela, somem-se os materiais: vidro, madeira, mármore, gesso, alumínio, ferro).
 
sempre vi as casas como pedras-só (tijolo pretenso à casa), vindo a ser lembrança um dia (como tudo na vida, as casas também passam…), reminiscências de existido (tal & qual uma casa em ruínas, tal & qual uma casa de escombros, que representa a reminiscência de uma casa inteiriça), no eterno presente de pedra (pedra: matéria mineral sólida, da natureza das rocha, dura, duradoura).
 
por isso me dizem esses destroços — a casa mal construída — a casa que saberei (pois a casa que sei construir é também uma casa mal construída):
 
o tijolo que não galgou telhado; a porta que é um fora sem dentro (pois não há “dentro”, não há interiores, apenas “fora”); a tentativa de sala: sala de não estar.
 
a casa que ficou por fazer: aquela que é construída com palavras, em versos, e que, por isso, por ser construída por palavras, em versos, não é casa (a casa faz-se de tijolo sobre tijolo, argamassa, cal, cimento, concreto, vidro, madeira, mármore, gesso, alumínio, ferro, e não de palavras). 
 
os destroços da casa mal construída me dizem a casa que saberei: a casa da poesia: pois, assim como a casa mal construída, a casa da poesia também é feita de fragmentos, de pedaços, de trechos, de excertos: o que está a meio-dito (pretensa pedra pretensa à casa), a poesia que ficou por fazer, inacabada em seus destroços lingüísticos, a poesia que não foi concluída (o tijolo que não galgou telhado; a porta que é um fora sem dentro; a tentativa de sala: sala de não estar), a poesia incompleta: um “soluço” de casa, uma “casa-pausa”, como o que dizem as reticências…
 
(as reticências, tipo de pausa, deixam, no ar, uma “ruína”, uma frase cujo raciocínio não foi “concluído”, uma frase que pode ser completada. as reticências deixam uma sentença que envida, isto é, que convida de modo desafiador, à sua complementação.)
 
“soluço” de casa, “casa-pausa”: muitas vezes, para a construção de um poema, o poeta rascunha milhares de linhas, milhares de versos que se mantêm pausados, inconclusos, poemas que nasceram para ruínas. e mesmo o poema bem acabado, pronto, mesmo o poema conclusivo, este também possui a sua parcela de “ruínas”: o momento em que a pausa se faz necessária à observação da casa poética, porque o entendimento da arquitetura dos versos nem sempre é (na maioria das vezes não é) fácil.
 
mesmo o poema bem acabado, pronto, mesmo o poema conclusivo, este possui a sua cota de “ruínas”: o momento-reticências, o momento-pausa, a ponderação indispensável ao entendimento da sua arquitetura.
 
além disso, uma casa (em ruínas) nunca é demolida, uma casa (em ruínas) nunca é posta abaixo, porque, quando falha a construção (quando a construção conclui-se inconclusa), só temos os cacos, só temos os fragmentos, só temos os pedaços.
 
uma casa (em ruínas), assim como a poesia (inacabada), é nunca demolida porque só temos os cacos (os fragmentos) quando falha a construção.
 
a construção em ruínas, mesmo demolida, continua “viva” em sua natureza de cacos, continua “viva” em sua natureza de restos, continua “viva” em sua natureza de fragmentos, como cabe ao silêncio carregar seu próprio curso (só o silêncio sabe o silêncio; se a palavra “silêncio” pronuncio, eu suprimo-o).
 
somente à construção em ruínas cabe carregar seu próprio curso, mesmo que seja demolida (ela, que antes existia em fragmentos, em fragmentos continuará a existir), assim como cabe ao silêncio carregar seu próprio curso, assim como cabe à poesia carregar seu próprio curso.
 
à poesia cabe carregar seu próprio curso: antes da palavra escrita & frente ao branco (do papel), minha vontade é branca (experiência de espanto).
 
frente ao branco (do papel), minha vontade é branca: minha vontade é incolor, minha vontade não se mostra; minha vontade é nula, é inexistente como as palavras que procuro a fim de ornar o papel: experiência de espanto: frente ao branco, minha vontade é branca, não é sabido o que se quer a fim de enfeitar o branco (do papel).
 
devo resolver a vontade, devo resolver o desejo, da palavra “vontade”, e torná-la (a vontade da palavra “vontade”) visível, corpórea, e deixá-la à vista de quem quiser vê-la exposta no branco (do papel).
 
porém todavia contudo, indizível é a vontade da palavra “vontade”. a vontade da palavra “vontade” não pode ser dita porque a vontade da palavra cabe apenas à palavra. só mesmo a palavra para saber sua vontade própria.
 
essa incapacidade de decifrar a vontade da palavra “vontade” estanca o poema, trava a feitura dos versos, pois cabe ao poeta a missão (impossível) de buscar a vontade das palavras.
 
por isso, escrever, buscar a vontade das palavras no branco (do papel), é vertigem, por isso escrever é verter vertigem em folha branca, é investir contra o branco (do papel), é dever de escrever à cata do que possa, ao menos, parecer a vontade das palavras.
 
por não haver certezas no caminho que leva aos versos, por não haver um caminho acertado que leve às palavras, o poema mete medo: o que virá? como será? será que prestará? será que valerá a pena? por isso, o poema é deixar tremer, é deixar espantado, é deixar assustado, é deixar-se em total estado de alerta com as palavras, para quando a palavra for dita, dizer tudo que o branco (do papel) diria:
 
que é temor & tremor (não existem certezas no caminho que leva aos versos, não existe um caminho acertado que leve às palavras: o poema mete medo), já que mesmo quando publico a palavra no poema (ou quando publico a palavra em texto como este aqui), apenas multiplico, apenas aumento, o abismo: pois o sulco emotivo de cada palavra é cativo do autor, que, mesmo escrito (o sulco emotivo de cada palavra), no fundo, o autor carrega em segredo.
 
muitas vezes, a interpretação de um poema — por parte de quem o lê — não chega exatamente às razões profundas — ao sulco emotivo — que levaram o poeta a escrever o dito. há um tanto imenso do leitor impresso na leitura que ele faz dos versos.
 
como o povo é falador (as pessoas gostam muito de falar suas impressões acerca de um livro, um filme, um espetáculo) & aquele (o autor) não diz (o sulco emotivo de cada palavra, as razões profundas que o levaram a escrever suas linhas) por medo (ou por recato, ou por respeito às tantas possíveis interpretações): fica o lido pelo dito.
 
fica o lido pelo dito: como o povo é falador & o autor não expõe as razões profundas que o levaram a escrever suas linhas, o que vale é a interpretação que cada um carrega daquilo que foi lido, o que vale é o que cada leitor diz a respeito do que foi lido.
 
mas lido que é autoria (o escritor escreve & torna-se autor de algo porque alguém leu o que foi escrito por ele, um autor torna-se escritor de algo porque existe um público leitor que legitima sua autoria, porque sem leitor — sem quem o leia — não há razão para a existência do autor), uma vez publicada, a palavra ganha a alforria, a palavra ganha a emancipação, do leitor (através das tantas possíveis — porque cabíveis — interpretações).
 
(fica o lido pelo dito.)
 
beijo todos!
paulo sabino.       
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(do livro: Um caderno de capa verde. autor: Flávio Morgado. editora: 7Letras.)
 
 
 
POR VER RUÍNAS
 
 
a casa mal construída
me parece conclusiva.
 
porque sempre vi as casas
como pedras-só
(tijolo pretenso à casa)
à espera de nossa voz
que lhes diriam:
tijolo
sobre
tijolo
argamassa cal cimento concreto
                                                                  e janela…
 
vindo a ser lembrança
reminiscências de existido
no eterno presente de pedra
 
por isso me dizem esses destroços
a casa que saberei
 
O tijolo que não galgou telhado;
a porta que é um fora sem dentro;
a tentativa de sala:
 
sala de não estar
 
essa casa que ficou por fazer
 
o que está a meio-dito (pretensa pedra)
à espera de um ouvido a lhe envidar
 
(soluço de casa)
 
casa-pausa
como o que dizem as reticências…
pois uma casa é nunca demolida
 
porque só temos os cacos
quando falha a construção
 
como cabe ao silêncio
carregar seu próprio curso
 
 
 
PRÉ-PALAVRA
 
 
minha vontade 
é branca antes da palavra escrita
                                  e frente ao branco
(experiência de espanto)
 
devo resolver
a vontade da palavra vontade
e torná-la visível
                      corpórea
 
porém indizível é a vontade —
absolutamente outra da palavra —
que 
estanca
o poema
 
é verti
gem e
dever de escrever
 
(e o poema é deixar tremer)
 
é deixá-lo
                      espantado
para quando a palavra for dita
dizer tudo que o branco
 
diria:
que é temor e
                             tremor
 
já que mesmo quando
no poema a palavra publico
apenas o
                    abismo
                    multiplico
 
 
 
LEI DO VENTRE LIVRE
 
 
o sulco emotivo de cada palavra
é cativo do autor
que mesmo escrito carrega em segredo.
como o povo é falador
e aquele não diz por medo:
 
fica o lido pelo dito.
 
mas lido que é autoria,
uma vez publicada, tem a palavra
a alforria do leitor

ABANDONO
2 de agosto de 2012

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situações de puro abandono: a improdutividade:

o leitor abre & fecha um livro após o outro, sem ler deles mais do que um parágrafo: nada engrena, nada tem graça, todos os livros são chatos — uma depressão semiológica, isto é, uma depressão relacionada à semiologia, relacionada à semiótica.
 
(semiologia: semiótica: numa acepção genérica, o termo indica uma teoria geral das representações, uma reflexão um tanto sistemática sobre os signos — sobre os símbolos —, suas classificações, as leis que os regem, seus usos na comunicação. a semiótica é uma teoria que leva em conta os signos sob todas as formas & manifestações que assumem — lingüísticas ou não.)
 
(a depressão semiológica é uma depressão relacionada aos símbolos; a linguagem é simbologia; portanto, neste caso específico, depressão ligada aos símbolos lingüísticos, depressão ligada às palavras.)
 
cuidado: alerta: (a tal depressão semiológica) pode decorrer de uma compreensão equivocada de homeostase criativa (homeostase: estado de equilíbrio das diversas funções & composições químicas do corpo), isto é, a tal depressão semiológica pode decorrer de uma compreensão equivocada do estado de equilíbrio das diversas funções & composições da criação (do ser que a anima):
 
descansar para repôr forças. repousar a fim de que a força criativa retorne com todo o gás.
 
no entanto, essa compreensão de homeostase criativa (descansar para repôr forças) revela, no corpo, entranhas dialéticas: coisa muito comum no espaço literário: quanto mais se escreve, quanto mais se pratica, maior a vontade de escrever; quanto menos se escreve, quanto menos se pratica, menor a vontade de escrever. isto é: quanto mais se produz, mais se tem força; quanto mais se descansa, mais se fica cansado.
 
descansar para repôr forças pode ser um grande perigo…
 
não falo de “ociosidade” — o ócio é um vazio fértil —, mas de improdutividade: o deserto deserto.
 
a improdutividade: nada engrena, nada tem graça, todos os livros são chatos: uma depressão semiológica: olhos estragados: dias em slow motion.
 
lutar (contra esse estado)? resistir (a esse estado)?
 
chega um momento que não. que não adianta lutar, que não adianta resistir.
 
não adiantando peleja contra a depressão semiológica, o jeito é entregar-se ao fatalismo russo (fatalismo herdado da literatura russa): deite-se na cama & deixe a neve, o torpor de tal estado (o torpor da depressão semiológica), cobrir o seu corpo.
 
situações de puro abandono: no meio da tarde:
 
o leitor não cede. insiste na mesma página por cujas letras o sono escala até os olhos, e uma vez aí entrando (nos olhos), o sono apaga todas as luzes (o leitor se dá conta de que é a terceira ou quarta vez que leu a mesma página sem nada poder reter).
 
o leitor entrega os pontos: cruza os braços sobre o livro, fecha os olhos & adormece.
 
acorda, atordoado, (por sobre o livro) e recomeça a leitura, com um incêndio na testa & um formigueiro nos braços.
 
um incêndio na testa: o fogo da criação. um formigueiro nos braços: o desejo de apreensão daquilo que se lê. 
 
recomeçar a leitura com um incêndio na testa & um formigueiro nos braços: sintomas decorrentes do sono do leitor por sobre o livro (o leitor sentado em sua mesa de estudos), com os braços cruzados & a testa caída por sobre os braços cruzados, testa que pressiona os braços, causando, nela (na testa), a sensação de ardência (de incêndio), e causando, nos braços, uma ligeira dormência, dormência que deflagra a sensação de formigamento.    
 
situações de puro abandono (literário): situações que acontecem ao mais aplicado leitor.
 
o lance é deixar ser & não desesperar (rs).
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Da amizade. autor: Francisco Bosco. editora: 7Letras.)
 
 
 
A IMPRODUTIVIDADE
 
 
1. O leitor abre e fecha um livro após o outro, sem ler deles mais do que um parágrafo:
 
2. nada engrena, nada tem graça, todos os livros são chatos
 
3. — uma depressão semiológica.
 
4. Alerta: pode decorrer de uma compreensão equivocada de homeostase criativa
 
5. — descansar para repôr forças —
 
6. anunciando perigosamente no corpo entranhas dialéticas:
 
7. quanto mais se produz, mais se tem força; quanto mais se descansa, mais se fica cansado.
 
8. A tradução, talvez, apropriada para o désoeuvrement de que fala Blanchot
 
9. (cf. O espaço literário):
 
10. não “ociosidade” — o ócio é um vazio fértil —, mas improdutividade, o deserto deserto.
 
11. Olhos estragados.
 
12. Dias em slow motion.
 
13. Lutar? Resistir? Chega um momento que não
 
14. — fatalismo russo: deite-se na cama
 
15. e deixe a neve cobrir o seu corpo.
 
 
 
NO MEIO DA TARDE
 
 
O leitor não cede. Insiste
na mesma página — que,
 
dá-se conta, é a terceira
ou quarta vez que já leu,
 
sem nada poder reter —,
por cujas letras o sono
 
até os olhos escala,
e uma vez aí entrando,
 
todas as luzes apaga.
O leitor entrega os pontos:
 
cruza os braços sobre o livro,
fecha os olhos e adormece.
 
Acorda, atordoado,
e recomeça a leitura
 
com um incêndio na testa
e um formigueiro nos braços.

VIA DE MÃO DUPLA: O LEITOR & O POEMA
2 de setembro de 2011

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Um leitor médio lê um poema. Ao findar a leitura dos versos, na mente do leitor, idéias soltas, versos, a princípio, desconexos. O leitor médio, angustiado, embaralhado nos seus pensamentos, sentencia: “não entendi as linhas, este poema é ruim, não presta”. 
 
João Cabral de Mello Neto dizia que poesia precisa de conhecimento de causa.
 
A poesia trabalha com linguagem, em sua máxima potência.
 
Ora, se o instrumento de trabalho do poeta é a linguagem, um bom poeta precisa, se deseja um trabalho consistente & consciente, debruçar-se no estudo da linguagem, das suas possibilidades, da sua construção, das suas causas & dos seus efeitos. Isso demanda tempo, demanda muita elocubração. Nenhum grande poeta escapa. Basta ler as cartas trocadas entre João Cabral de Mello Neto, Carlos Drummond de Andrade & Manuel Bandeira, reunidas numa obra de Flora Süssekind, sobre a importância de instrumentalizar-se. Isso acaba por trazer um rigor & uma exigência acima da média, acima do uso comum da linguagem. 

E o que dizer da poesia concreta? De Augusto & Haroldo de Campos, de Décio Pignatari?

 Então se o leitor médio não “alcança” as obras poéticas concretas dos poetas aqui citados, se o leitor médio não as “penetra”, significa dizer que as obras desses poetas são “ruins”, que as obras desses poetas “não prestam”? 
 
Se o leitor médio não “alcança” um poema do Drummond, ou do João Cabral, ou do Caetano, ou do Waly Salomão, ou do Augusto de Campos, ou do Décio Pignatari, ou do Nelson Ascher, ou do Marcelo Diniz, ou do Francisco Bosco, ou da Claudia Roquette-Pinto, ou do Adriano Nunes, o poema deixa de ser bom?
 
E por que não um “esforcinho” do leitor médio em instrumentalizar-se para alcançar a obra? Será que a questão reside no poema ou em quem o lê?

O leitor deve tomar cuidado. Eu, por exemplo, se não “alcanço”, se não “penetro”, um poema, passo um bom tempo debruçado sobre ele, e muitas vezes, muitas & muitas & muitas vezes, as belezas & a sagacidade dos versos só se desnudam, aos meus olhos, depois de muitos exercícios & estudos & apreensões, dias afora, noites adentro.

 Senão, como assim? Quer trabalhar poesia, isto é: ler poesia, e não quer ter trabalho?
 
Não há como. Ler poesia é trabalhoso.
 
Afinal, nem todo mundo é gênio; na verdade, a imensa maioria não é. Não somos gênios nem pessoas dotadas de capacidades especiais, e justamente por isso, como leitores, devemos fazer a nossa parte.
 
Se recomendo a leitura de Rilke, João Cabral, Augusto de Campos, Drummond, Pessoa, caro leitor? Recomendo sempre, considero salutar, suponho de grande relevância. Leia, caro leitor, leia. Mas leia sabendo que não é fácil e que, muitas vezes, precisamos de instrumentos — outros livros, artigos de especialistas, outros autores — para “alcançar”, para “penetrar”, determinadas obras.
 
A captação, a apreensão, de algumas obras nos são mais imediatas; de outras, não. E eu não vejo problema que assim o seja.
 
Não absorvo poesia pelos poros. Desde sempre, desde que leio poesia, e isso tem bastante tempo, é muita humildade para reconhecer que não sou gênio de forma alguma e que preciso estudar MUITO, perder noites & mais noites para “alcançar” determinados textos poéticos.
 
Dedicação extrema: eis o caminho para o bom entendimento de leituras/poemas mais densos, mais árduos.
 
Se sabemos que a poesia trabalha a linguagem na sua máxima potência, e que isso demanda um trabalho árduo do poeta para com a linguagem, nada mais natural que a apreensão do leitor se dê com o trabalho também árduo da leitura. Assim como o bom poeta, o bom leitor deve estudar a linguagem & a poesia.
 
É uma via de mão dupla: o poeta & o leitor precisam de conhecimento rico para ambos trabalharem, em suas esferas, o poema.
 
Um bom poema precisa de um bom leitor. É uma via de mão dupla.
 
Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(autor do poema: Adriano Nunes. autor da nota: Adriano Nunes**.)
 
 
 BOCAGE AO FIM 
 
-ALMA
 
-ove -aro -ermo
-enso -aio -ece
-ares -eias -eio
 
-iso -inha -aças
-ença -ensa -ando
-assos -itos -aços
 
-usta -ana -orte
-ava -anos -oube
-ados -ero -osos

-ira -ano -undo
-ama -ento -ulta
-ina -ores -uto

-iva -oza -eça
-ia -iste -ecem
-enas -onho -echa

-eixa -agem -enta
-ajem -eras -ende
-adas -inos -eres

-anto -eja -oso
-umes -ade -osas
-ena -una -ora

-eia -ada -ido
-ela -eno -iro
-ino -uro -igo

-elo -eito -ossas
-ite -oma -oiro
-oiros ante -osto

-alam -evos -ua
-oras -erna -ume
-ofre –ente -ude

-ARTE

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**Quando Bocage encontrava-se doente, perto da morte, ele escreveu muitos sonetos. Recentemente, estudei toda a sua obra e verifiquei que em seus últimos sonetos as rimas finais eram as que lhes apresento aqui em um poema que fiz. Espero que meu poema (deu um trabalho imenso!) traga-lhes luz! Coincidentemente, as terminações -ARTE e -ALMA eram rimas em finais de versos!

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(comentário de Paulo Sabino após a leitura do poema Bocage ao fim, de Adriano Nunes
 
Que LINDO! As possibilidades que as terminações nos dão são um grande barato! Fiquei HORAS (rs) olhando, lendo, vendo como formar as palavras, as possibilidades, enfim, VIAJEI (rs rs)!

A MONTANHA & O LEITOR
20 de setembro de 2010

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através da beleza mágica, beleza imponente, da montanha (de perfil perfeito), o pintor quis entender o vulcão que ele trazia no peito. quis o pintor, feliz, fascinado, mesmerizado, tentando escrever a montanha & o mistério da sua lindeza (trinta e seis vezes e mais outras cem tentativas), compreender a força da lava que corria dentro de si. 
 
porém, as tentativas lhe foram inúteis, pois a montanha não quis revelar sua magia. e não o quis porque é da natureza da montanha a quietude, a imobilidade, o silêncio absoluto.
 
a montanha só sabe ser: sendo.
 
a montanha doa-se, a cada dia, do ar de cada dia, e abandona, como sem valia, toda e qualquer noite que atravesse. a montanha sabe acontecer, a montanha sabe simplesmente ser (atrás de cada fresta, atrás de cada lasca de rocha que a compõe), assim como o ato da visão: ato realizado pela percepção sensorial das radiações luminosas, ato que sabe realizar-se sem consentimento ou aval, ato que sabe produzir-se do: nada.
 
a montanha inerte, mágica na beleza & na grandeza, a nada atende. a montanha é indiferente, é distante, é alheia, a qualquer tipo de apelo. portanto, como entendê-la? como sabê-la?
 
indo mais além: há, em sua estrutura, algo a ser entendido ou sabido?
 
e o leitor, esta outra incógnita: quem pode conhecer o rosto daquele que mergulha, de si mesmo, em outras vidas?
 
(a própria mãe não reconheceria o filho-leitor, que, entregue às leituras, se torna diversovariadosortido, tantos os mundos lançados ao seu mundo.)
 
como saber o que significa o impacto das linhas na vida do leitor? como quantificar o choque, a perplexidade, o assombro, que lhe resta?
 
como auferir o que contém o olhar do leitor quando soerguido da leitura?
 
(o olhar aguçado de um leitor contravém, isto é, desobedece, desaceita, qualquer tipo de mundo que se anuncie já completo e acabado — como crianças que brincam sozinhas e descobrem, súbito, algo a esmo —. afinal, como aceitar um mundo já completo e acabado se as coisas que compõem o mundo estão em constante transformação? como obedecer um mundo completo e acabado se o meio ambiente vive constantes renovações, se nós & o entorno somos organismos eternamente inconclusos, organismos eternamente inacabados? e o leitor, espantado, maravilhado, feito criança que súbito descobre novidade, o leitor nunca é o mesmo, pois as linhas dum livro, tudo o que elas lhe dizem, refazem as linhas do seu rosto. com o recebido das linhas dum livro, há o amadurecimento do olhar do leitor, há a modificação dos seus traços.) 
 
(a montanha & o leitor: estruturas em permanente metamorfose, estruturas que nunca mais serão as mesmas.)
 
beijo grande em todos!
paulo sabino / paulinho. 
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(do livro: Coisas e anjos de Rilke. autor: Rainer Maria Rilke. tradução: Augusto de Campos. editora: Perspectiva.)
 
 
A MONTANHA
 
Trinta e seis vezes e mais outras cem
o pintor escreveu essa montanha,
devotado, sem êxito, à façanha
(trinta e seis vezes e mais outras cem)
 
de entender o vulcão que ele trazia,
feliz, mesmerizado, no seu peito,
mas a montanha de perfil perfeito
não lhe quis revelar sua magia:
 
doando-se do ar de cada dia,
mil vezes, cada noite cintilante
abandonando, como sem valia;
cada imagem imersa num instante,
em cada forma a forma transformada,
indiferente, distante, modesta —,
sabendo, como uma visão, do nada,
acontecer atrás de cada fresta. 
 
 
O LEITOR
 
Quem pode conhecer esse que o rosto
mergulha de si mesmo em outras vidas,
que só o folhear das páginas corridas
alguma vez atalha a contragosto?
 
A própria mãe já não veria o seu
filho nesse diverso ele que agora,
servo da sombra, lê. Presos à hora,
como sabermos quanto se perdeu
 
antes que ele soerga o olhar pesado
de tudo o que no livro se contém,
com olhos, que, doando, contravêm
o mundo já completo e acabado:
como crianças que brincam sozinhas
e súbito descobrem algo a esmo;
mas o rosto, refeito em suas linhas,
nunca mais será o mesmo.