O MENINO POETA
10 de maio de 2015

Paulo Sabino_Azul_Búzios
______________________________________________________

ventos líricos me sopraram a existência do menino poeta.

o menino poeta — dizem os ventos — habita as palavras que compõem os versos, é o responsável pelos jogos semânticos & pelas brincadeiras & peripécias estilísticas entre signos.

ventos líricos me sopraram que o menino poeta percorre os quatro cantos do mundo, peralta, irrequieto, traquinas.

o menino poeta — não sei onde está.

procuro dali, procuro de lá. tem olhos azuis ou tem olhos negros? parece jesus ou índio guerreiro?

mas onde andará o menino poeta, que ainda não o vi? nas águas de lambari, em minas gerais? nos reinos do canadá, lá em cima, no norte das américas?

onde andará o menino poeta, que ainda não o vi? estará no berço, brincando com os anjos? estará na escola, travesso, rabiscando bancos?

o vizinho, ali, disse que, acolá, existe um menino com dó dos peixinhos. um dia, o menino pescou — pescou por pescar, não pretendia — um peixinho de âmbar, coberto de sal (âmbar: resina fóssil, de cor entre o acastanhado & o amarelado, utilizada na fabricação de objetos ornamentais). depois, o menino soltou o peixinho de âmbar outra vez nas ondas.

ai, que curiosidade! será esse o menino poeta? será que não? que será esse menino? que não será?…

certo peregrino — passou por aqui — conta que um menino, das bandas de lá, furtou uma estrela. a estrela, por causa do furto, caiu no choro; o menino, por tê-la furtado, ria. porém, de repente, o menino, tão lindo!, vendo o choro da estrela, subiu pelo morro & tornou a pregá-la, com três pregos de ouro, nas saias da lua.

ai, que curiosidade! será esse o menino poeta? será que não? que será esse menino? que não será?…

procuro daqui, procuro de lá. o menino poeta, habitante das palavras que compõem os versos, responsável pelos jogos semânticos & pelas brincadeiras & peripécias estilísticas entre signos, quero ver de perto.

quero ver de perto — o menino poeta — para me ensinar as bonitas coisas do céu & do mar. quero ver de perto — o menino poeta — para me ensinar a voar, cada vez mais alto, e a mergulhar, cada vez mais fundo, nos braços do meu bem maior: a poesia.

beijo todos!
paulo sabino.
______________________________________________________

(do livro: Melhores poemas. autora: Henriqueta Lisboa. seleção: Fábio Lucas. editora: Global.)

 

 

O MENINO POETA

 

O menino poeta
não sei onde está.
Procuro daqui
procuro de lá.
Tem olhos azuis
ou tem olhos negros?
Parece Jesus
ou índio guerreiro?

Tra-la-la-la-li
tra-la-la-la-lá

Mas onde andará
que ainda não o vi?
Nas águas de Lambari,
nos reinos do Canadá?
Estará no berço
brincando com os anjos,
na escola travesso
rabiscando bancos?

O vizinho ali
disse que acolá
existe um menino
com dó dos peixinhos.
Um dia pescou
— pescou por pescar —
um peixinho de âmbar
coberto de sal.
Depois o soltou

outra vez nas ondas.
Ai! que esse menino
será, não será?…
Certo peregrino
— passou por aqui —
conta que um menino
das bandas de lá
furtou uma estrela.

Tra-la-li-la-lá.

A estrela num choro
o menino rindo.
Porém de repente
— menino tão lindo! —
subiu pelo morro
tornou a pregá-la
com três pregos de ouro
nas saias da lua.

Ai! que esse menino
será, não será?

Procuro daqui
procuro de lá.
O menino poeta
quero ver de perto
quero ver de perto
para me ensinar
as bonitas cousas
do céu e do mar.

PRIMEIRA LIÇÃO
27 de abril de 2013

Livro 2

______________________________________________________________________

a primeira lição, segundo a poeta, sobre poesia deve tratar dos gêneros que a poesia comporta.

gênero: segundo o dicionário aurélio: “nas obras de um artista, de uma escola, cada uma das categorias que, por tradição, se definem e classificam segundo o estilo, a natureza ou a técnica”.

gênero: segundo o dicionário houaiss: “cada uma das divisões que englobam obras literárias de características similares [São primordialmente três: lírico, épico e dramático.]”.

a primeira lição: conhecer os gêneros da poesia: apesar de serem primordialmente três (lírico, épico & dramático) segundo a divisão clássica, a poeta os define em mais gêneros, atendo-se, apenas, às características de um deles, às do gênero lírico, que compreende o lirismo.

lirismo: tradução de um sentimento subjetivo, sincero & pessoal. é a linguagem do coração, do amor.

é a linguagem entendida pela poeta, é o gênero que a traduz.

pois a poeta afirma que só consegue ser fiel aos acontecimentos biográficos. mais do que fiel: no fundo, a poeta sente-se “presa” aos acontecimentos biográficos, como se não tivesse escolha de criar uma poesia distante da subjetividade, declamando, assim, aos metros, versos longos & sentidos.

porém, apesar de afirmar que o gênero lírico é o gênero que a comporta, que comporta a sua poesia, a poeta, sentimental como uma portuguesa, não é, apenas, sentimentos; a poeta, sentimental como uma portuguesa, não é, apenas, severa & ríspida: mais que somente sentimentos, mais que somente severa & ríspida, a poeta agora é: profissional.

ou seja: ainda que o seu canto poético seja sentimental como uma portuguesa puramente sentimentos, esse sentimentalismo está submetido a um olhar clínico da poeta, que é uma profissional da escrita, profissional que deve dar à subjetividade a roupagem que a consagre: poesia, sem pieguismos lingüísticos & sentimentalidades baratas.

o poeta é, acima de tudo, um profissional da escrita, não um mero descritor dos acontecimentos biográficos. há que se lançar, sobre os acontecimentos biográficos, os elementos lingüísticos que transmutarão tais acontecimentos em: discurso poético.

o poeta é, acima de tudo, um profissional da escrita, não um mero descritor dos fatos & dos sentimentos. há que se lançar, sobre os fatos & sentimentos, os elementos da linguagem que transformarão tais fatos & sentimentos em: gênero poético.

mais que severa & ríspida, a poeta agora se afirma: profissional.

com todo o sentimento do mundo, asas à poesia!

beijo todos!
paulo sabino.
______________________________________________________________________

(do livro: A teus pés. autora: Ana Cristina Cesar. editora: Ática.)

 

 

PRIMEIRA LIÇÃO

 

Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático, épico,
ligeiro.
O gênero lírico compreende o lirismo.
Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo, sincero e
pessoal.
É a linguagem do coração, do amor.
O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os
versos sentimentais eram declamados ao som da lira.
O lirismo pode ser:
a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a
morte.
b)Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c) Erótico, quando versa sobre o amor.
O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o
epitáfio e o epicédio.
Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta.
Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era incinerado.
Endecha é uma poesia que revela as dores do coração.
Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma
pessoa morta.

 

 

O tempo fecha.
Sou fiel aos acontecimentos biográficos.
Mais do que fiel, oh, tão presa! Esses mosquitos que não
largam! Minhas saudades ensurdecidas por cigarras! O que faço
aqui no campo declamando aos metros versos longos e sentidos?
Ah que estou sentida e portuguesa, e agora não sou mais, veja,
não sou mais severa e ríspida: agora sou profissional.