SE EU FOSSE UM PADRE, A MINHA ORAÇÃO: POESIA
5 de janeiro de 2016

Igreja 1
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se eu, paulo sabino, fosse um padre, eu, nos meus sermões aos fiéis, não falaria em deus nem no pecado, muito menos no anjo rebelado (o anjo caído, lúcifer) & os encantos, as magias, das suas seduções, das suas artimanhas para agradar. também não citaria santos & profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições, nada do jogo injusto & feio da culpa & do castigo.

se eu, paulo sabino, fosse um padre, eu citaria os poetas, rezaria os seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram — pessoa, drummond, bandeira, vinicius, cecília, quintana — & quem me dera que alguns fossem meus!…

porque a poesia, mais do que dizem os santos & profetas & deus & o diabo, a poesia purifica a alma, e um belo poema, ainda que se aparte de deus, ainda que se afaste de deus, ainda que se separe de deus, um belo poema sempre leva a deus. afinal, um belo poema sempre nos leva ao sublime, ao grandioso, ao elevado, ao celestial, ao divino.

poesia: a quem dedico a minha oração: senhora de tudo em mim, dai-me a alegria do poema de cada dia. e que, ao longo do caminho, eu distribua, para as almas, minha porção de poesia, sem que ela — a porção à qual tenho direito — diminua.

poesia tanta & tão minha, que, por eucaristia, eu possa fazê-la sua, fazê-la do leitor (eucaristia: um dos sete sacramentos da igreja católica, além de ser o sacramento central, no qual, segundo a crença, jesus cristo se acha presente, sob as formas do pão & do vinho, respectivamente, com o seu corpo & o seu sangue).

poesia tanta & tão minha, que, por eucaristia, eu possa fazê-la sua, fazê-la do leitor: na poesia, eis a minha carne, eis o meu sangue!

a minha carne & meu sangue em toda a ardente impureza deste humano coração — coração imperfeito, limitado.

mas, ó coração divino, ó coração celestial, ó coração de deus, deixai-me dar de meu vinho, deixai-me dar de meu pão, deixai-me viver a minha eucaristia! que mal faz uma canção, que mal faz um poema? basta que a canção, que o poema, tenha beleza, e nos encante, e nos leve ao sublime, ao grandioso, ao elevado, ao celestial, ao divino.

(um belo poema, ainda que se aparte de deus, ainda que se afaste de deus, ainda que se separe de deus, um belo poema sempre leva a deus.)

o meu templo, a minha religião, é a poesia.

poesia: eis a oração que tenho para lhes oferecer.

beijo todos!
paulo sabino.
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(do site: Youtube. Paulo Sabino recita “Se eu fosse um padre”, poema de Mario Quintana. Em 05/01/2016.)


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(do livro: Nova antologia poética. autor: Mario Quintana. editora: Alfaguara.)

 

 

SE EU FOSSE UM PADRE

 

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições…
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância  me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
… e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!
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(do site: Youtube. Paulo Sabino recita “Oração”, poema de Mario Quintana. Em 05/01/2016.)


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(do livro: Poesia completa. autor: Mario Quintana. editora: Nova Fronteira.)

 

 

ORAÇÃO

 

Dai-me a alegria
Do poema de cada dia.
E que ao longo do caminho
Às almas eu distribua
Minha porção de poesia
Sem que ela diminua…
Poesia tanta e tão minha
Que por uma eucaristia
Possa eu fazê-la sua
“Eis minha carne e meu sangue!”
A minha carne e meu sangue
Em toda a ardente impureza
Deste humano coração…
Mas, ó Coração Divino,
Deixai-me dar de meu vinho,
Deixai-me dar de meu pão!
Que mal faz uma canção?
Basta que tenha beleza…