MINHA SEREIA, RAINHA DO MAR
2 de fevereiro de 2016

Paulo Sabino_Pés à beira-mar

Ipanema_Cagarras & Stand Up Paddle

(O elemento que mais fascina, o elemento do puro delírio, o elemento que vira a cabeça, de Paulo Sabino: água marinha: mar: útero às vistas: berço de todas as existências.)
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dia 2 de fevereiro é dia de festa no mar. portanto, deixo, aqui, a minha saudação à rainha do elemento que mais me fascina, elemento do meu delírio, elemento que vira a minha cabeça: o mar.

dia 2 de fevereiro: dia de saudar iemanjá, a grande mãe de todos os orixás.

muito me impressiona que tanto a ciência quanto as lendas africanas convirjam — ainda que por caminhos díspares — ao dizer que a origem & o desenvolvimento dos seres — os primeiros indícios de vida — se deram com o/no mar, se deram com as/nas águas marinhas.

o mais abundante elemento natural deste planeta azul, água para onde correm todas as águas, útero às vistas, criatório de tantas & diversas vidas, onde a mãe-d’água iemanjá permite que boiemos como quando no ventre de nossas mães-da-terra.

eu, até hoje, não aprendi a viver sem água & sem o mar à minha contemplação.

(e espero nunca aprender!)

em sua homenagem, uma compilação de textos & dois poemas-canções (com direito ao áudio das canções) que traçam o perfil & contam um pouco dos mitos que envolvem a mais prestigiosa entidade feminina da mitologia & dos cultos africanos.

salve minha mãe-d’água iemanjá!
salve a rainha do meu amante mor: o mar!

beijo todos!
paulo sabino.
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(do: Dicionário do folclore brasileiro. autor: Luís da Câmara Cascudo. editora: Global.)

 

 

IEMANJÁ.  Mãe-d’água dos iorubanos. Orixá marítimo, a mais prestigiosa entidade feminina dos candomblés da Bahia. Recebe oferendas rituais, festas lhe são dedicadas, indo embarcações até alto-mar atirar presentes. Protetora de viagens, no processo sincrético das deusas marinhas passou a ser Afrodite, Anadiômene, padroeira dos amores, dispondo uniões, casamentos, soluções amorosas. Sua sinonímia é grande: Janaína, Dona Janaína, Princesa do Mar, Princesa do Aiocá ou Arocá, Sereia, Sereia do Mar, Oloxum, Dona Maria, Rainha do Mar, Sereia Mucunã, Inaê, Marbô, Dandalunda. Tem o leque e a espada como insígnias; seus alimentos sagrados são o pombo, o milho, o galo, o bode castrado; as cores rituais são o branco e o azul (…). Protege, defende, castiga, mata. Por vezes se apaixona. Tem amantes, os quais leva para o fundo do mar. Nem os corpos voltam. É ciumenta, vingativa, cruel, como todas as égides primitivas. A festa de Iemanjá na cidade de Salvador é em 2 de fevereiro, Nossa Senhora do Rosário. Nos candomblés e xangôs é representada, no salão exterior das danças, como uma sereia.
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(do livro: Mitologia dos orixás. autor: Reginaldo Prandi. editora: Companhia das Letras.)

 

 

IEMANJÁ AJUDA OLODUMARE NA CRIAÇÃO DO MUNDO

 

Olodumare-Olofim vivia só no Infinito,
cercado apenas de fogo, chamas e vapores,
onde quase nem podia caminhar.
Cansado desse seu universo tenebroso,
cansado de não ter com quem falar,
cansado de não ter com quem brigar,
decidiu pôr fim àquela situação.
Libertou as suas forças e a violência
delas fez jorrar uma tormenta de águas.
As águas debateram-se com rochas que nasciam
e abriram no chão profundas e grandes cavidades.
A água encheu as fendas ocas,
fazendo-se os mares e oceanos,
em cujas profundezas Olocum foi habitar.
Do que sobrou da inundação se fez a terra.
Na superfície do mar, junto à terra,
ali tomou seu reino Iemanjá,
com suas algas e estrelas-do-mar,
peixes, corais, conchas, madrepérolas.
Ali nasceu Iemanjá em prata e azul,
coroada pelo arco-íris Oxumarê.
Olodumare e Iemanjá, a mãe dos orixás,
dominaram o fogo no fundo da Terra
e o entregaram ao poder de Aganju, o mestre dos vulcões,
por onde ainda respira o fogo aprisionado.
O fogo se consumia na superfície do mundo e eles apagaram
e com suas cinzas Orixá Ocô fertilizou os campos,
propiciando o nascimento das ervas, frutos,
árvores, bosques, florestas,
que foram dados aos cuidados de Ossaim.
Nos lugares onde as cinzas foram escassas,
nasceram os pântanos e nos pântanos, a peste,
que foi doada pela mãe dos orixás ao filho Omulu.
Iemanjá encantou-se com a Terra
e a enfeitou com rios, cascatas e lagoas.
Assim surgiu Oxum, dona das águas doces.
Quando tudo estava feito
e cada natureza se encontrava na posse de um dos filhos de Iemanjá,
Obatalá, respondendo diretamente às ordens de Olorum,
criou o ser humano.
E o ser humano povoou a Terra.
E os orixás pelos humanos foram celebrados.

 

 

IEMANJÁ DÁ À LUZ AS ESTRELAS, AS NUVENS E OS ORIXÁS

 

Iemanjá vivia sozinha no Orum.
Ali ela vivia, ali dormia, ali se alimentava.
Um dia Olodumare decidiu que Iemanjá
precisava ter uma família,
ter com quem comer, conversar, brincar, viver.
Então o estômago de Iemanjá cresceu e cresceu
e dele nasceram todas as estrelas.
Mas as estrelas foram se fixar na distante abóboda celeste.
Iemanjá continuava solitária.
Então de sua barriga crescida nasceram as nuvens.
Mas as nuvens perambulavam pelo céu
até se precipitarem em chuva sobre a terra.
Iemanjá continuava solitária.
De seu estômago nasceram então os orixás,
nasceram Xangô, Oiá, Ogum, Ossaim, Obaluaê e os Ibejis.
Eles fizeram companhia a Iemanjá.

 

 

IEMANJÁ É NOMEADA PROTETORA DAS CABEÇAS

 

Dia houve em que todos os deuses
deveriam atender ao chamado de Olodumare para uma reunião.
Iemanjá estava em casa matando um carneiro,
quando Legba chegou para avisá-la do encontro.
Apressada e com medo de atrasar-se
e sem ter nada para levar de presente a Olodumare,
Iemanjá carregou consigo a cabeça do carneiro
como oferenda para o grande pai.
Ao ver que somente Iemanjá trazia-lhe um presente,
Olodumare declarou:
“Awojó orí dorí re.”
“Cabeça trazes, cabeça serás.”
Desde então Iemanjá é a senhora de todas as cabeças.

 

 

IEMANJÁ MOSTRA AOS HOMENS O SEU PODER SOBRE AS ÁGUAS

 

Em certa ocasião, os homens estavam preparando
grandes festas em homenagem aos orixás.
Por um descuido inexplicável, se esqueceram de Iemanjá,
esqueceram de Maleleo, que ela também se chama assim.
Iemanjá, furiosa, conjurou o mar
e o mar começou a engolir a terra.
Dava medo ver Iemanjá, lívida,
cavalgar a mais alta das ondas
com seu abebé de prata na mão direita
e o ofá da guerreira preso às costas.
Os homens, assustados, não sabiam o que fazer
e imploraram ajuda a Obatalá.
Quando a estrondosa imensidão de Iemanjá
já se precipitava sobre o que restava do mundo,
Obatalá se interpôs, levantou seu opaxorô
e ordenou a Iemanjá que se detivesse.
Obatalá criou os homens e não consentiria na sua destruição.
Por respeito ao Criador, a dona do mar acalmou suas águas
e deu por finda sua colérica revanche.
Já estava satisfeita com o castigo imposto
aos imprudentes mortais.

 

 

IEMANJÁ IRRITA-SE COM A SUJEIRA QUE OS HOMENS LANÇAM AO MAR

 

Logo no princípio do mundo,
Iemanjá já teve motivos para desgostar da humanidade.
Pois desde cedo os homens e as mulheres jogavam no mar
tudo o que a eles não servia.
Os seres humanos sujavam suas águas com lixo,
com tudo o que não mais prestava, velho ou estragado.
Até mesmo cuspiam em Iemanjá,
quando não faziam coisa muito pior.

Iemanjá foi queixar-se a Olodumare.
Assim não dava para continuar;
Iemanjá Sessu vivia suja,
sua casa estava sempre cheia de porcarias.
Olodumare ouviu seus reclamos
e deu-lhe o dom de devolver à praia
tudo o que os humanos jogassem de ruim em suas águas.
Desde então as ondas surgiram no mar.
As ondas trazem para a terra o que não é do mar.

 

 

IEMANJÁ AFOGA SEUS AMANTES NO MAR

 

Iemanjá é dona de rara beleza
e, como tal, mulher caprichosa e de apetites extravagantes.
Certa vez saiu de sua morada nas profundezas do mar
e veio à terra em busca do prazer da carne.
Encontrou um pescador jovem e bonito
e o levou para seu líquido leito de amor.
Seus corpos conheceram todas as delícias do encontro,
mas o pescador era apenas um humano
e morreu afogado nos braços da amante.
Quando amanheceu, Iemanjá devolveu o corpo à praia.
E assim acontece sempre, toda noite,
quando Iemanjá Conlá se encanta com os pescadores
que saem em seus barcos e jangadas para trabalhar.
Ela leva o escolhido para o fundo do mar e se deixa possuir
e depois o traz de novo, sem vida, para a areia.
As noivas e as esposas correm cedo para a praia
esperando pela volta de seus homens que foram para o mar,
implorando a Iemanjá que os deixe voltar vivos.
Elas levam para o mar muitos presentes,
flores, espelhos e perfumes,
para que Iemanjá mande sempre muitos peixes
e deixe viver os pescadores.
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(do encarte do cd: Mar de Sophia. artista: Maria Bethânia. autor dos versos: Paulo César Pinheiro. gravadora: Biscoito Fino.)

 

 

IEMANJÁ RAINHA DO MAR

 

Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Quanto nome tem a Rainha do Mar?

Dandalunda, Janaína,
Marabô, Princesa de Aiocá,
Inaê, Sereia, Mucunã,
Maria, Dona Iemanjá.

Onde ela vive?
Onde ela mora?

Nas águas,
Na loca de pedra,
Num palácio encantado,
No fundo do mar.

O que ela gosta?
O que ela adora?

Perfume,
Flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Pra ela se enfeitar.

Como se saúda a Rainha do Mar?
Como se saúda a Rainha do Mar?

Alodê, Odofiaba,
Minha-mãe, Mãe-d’água,
Odoyá!

Qual é seu dia,
Nossa Senhora?

É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar.

O que ela canta?
Por que ela chora?

Só canta cantiga bonita
Chora quando fica aflita
Se você chorar.

Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Quem é que já viu a Rainha do Mar?

Pescador e marinheiro,
Quem escuta a Sereia cantar.
É com o povo que é praieiro
Que Dona Iemanjá quer se casar.
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Mar de Sophia. artista & intérprete: Maria Bethânia. canção: Iemanjá Rainha do Mar. música:Pedro Amorim. versos: Paulo César Pinheiro. gravadora: Biscoito Fino.)


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(do encarte do cd: Gal canta Caymmi. artista: Gal Costa. autor dos versos: Dorival Caymmi. gravadora: PolyGram.)

 

 

RAINHA DO MAR

 

Minha sereia, rainha do mar
Minha sereia, rainha do mar
O canto dela faz admirar
O canto dela faz admirar

Minha sereia é moça bonita
Minha sereia é moça bonita
Nas ondas do mar
Aonde ela habita
Nas ondas do mar
Aonde ela habita

Ai, tem dó
De ver o meu penar
Ai, tem dó
De ver o meu penar
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Gal canta Caymmi. artista & intérprete: Gal Costa. canção: Rainha do Mar. autor da canção: Dorival Caymmi. gravadora: PolyGram.)

SÃO JOÃO XANGÔ MENINO
26 de junho de 2014

São João

Xangô_Mandala

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Meu pai são João Batista é Xangô
É o dono do meu destino até o fim
Se um dia me faltar a fé em meu senhor
Derrube essa pedreira sobre mim
Meu pai são João Batista é Xangô

(Ponto de macumba, recolhido e adaptado por Eli Camargo)

 

 

dia 24 de junho: dia de santo festeiro, dia de festa junina, dia de são joão.

no sincretismo brasileiro, são joão, que é um santo católico, correlaciona-se a xangô, orixá das religiões afro-brasileiras.

por aniversariar justamente no dia 24 de junho, sempre mantive uma atenção especial ao santo & ao orixá homenageados no dia do meu nascimento.

portanto, abaixo, uma compilação de textos mais um poema-canção (com direito ao áudio da canção) que traçam o perfil & contam um pouco dos mitos que envolvem o orixá símbolo do fogo & da justiça.

nascido no dia 24 de junho, considero-me sob a proteção do santo do dia, considero-me sob a proteção do orixá do dia, sob a proteção de são joão xangô menino.

(ah, xangô, xangô menino, da fogueira de são joão: quero ser sempre o menino, xangô, da fogueira de são joão.)

viva são joão!

salve xangô, meu rei senhor!
salve meu orixá!

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Orixás, deuses iorubás na África e no Novo Mundo. autor: Pierre Fatumbi Verger. editora: Corrupio.)

 

 

Xangô traduz-se em um arquétipo de pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e conscientes de sua importância real ou suposta. Daquelas que podem ser grandes senhores, corteses, mas que não toleram a menor contradição, e, nesses casos, deixam-se possuir por crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que se conduzem com tato  e encanto no decurso das reuniões sociais, mas que podem perder o controle e ultrapassar os limites da decência. Enfim, o arquétipo de Xangô é aquele das pessoas que possuem um elevado sentido da sua própria dignidade e das suas obrigações, o que as leva a se comportar com um misto de severidade e benevolência, segundo o humor do momento, mas sabendo guardar, geralmente, um profundo e constante sentimento de justiça.

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(do: Dicionário do folclore brasileiro. autor: Luís da Câmara Cascudo. editora: Global.)

 

 

Rei nagô, fundador mítico da cidade de Oyô, Xangô é divindade das tempestades, raios, trovoadas, descargas da eletricidade atmosférica. O fetiche é, logicamente, um meteorito, e a insígnia, a lança e a machadinha de pedra, dupla, a bipene, objeto de culto dos povos do Mediterrâneo desde a Idade dos Metais. Apresenta-se como um homem jovem e forte, ágil, sensual, de caráter dominador e orgulhoso, viril, atrevido, violento mas justiceiro, arrebatando na dança suas devotas atuadas. Suas principais esposas, as mais conhecidas, são: Iansã, Oxum e Obá. Usa contas vermelhas e brancas, pulseira de latão e come galo, bode, caruru e cágado.

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(do livro: Mitologia dos orixás. autor: Reginaldo Prandi. editora: Companhia das Letras.)

 

 

XANGÔ DÁ A OBALUAÊ OS CÃES DE OGUM

 

Xangô era um homem muito popular.
Um dia, na praça, um leproso de nome Obaluaê o procurou.
“Por que não falas comigo?”, perguntou o pestilento.
Xangô respondeu-lhe que seu pai Obatalá
lhe havia dito que naquela terra
ele tinha um irmão de sangue e um irmão adotivo.
E era só com eles que ele queria conversar.
Disse-lhe Obaluaê ser ele o seu irmão por adoção
e que o outro homem  ali presente era seu irmão inteiro.
Esse outro era Ogum, que andava sempre acompanhado
de muitos cães.
Xangô disse a Obaluaê que aquela terra não lhe pertencia,
que seguisse para terras distantes, onde encontraria melhor sorte.
Obaluaê retrucou da dificuldade em seguir caminho
naquelas condições de doença em que se encontrava.

Xangô tomou então dois cães de Ogum e os deu a Obaluaê,
para que lhe servissem de guias e guardiões.
Mas Ogum não gostou de perder os cães e atacou Xangô.
Iniciou-se um conflito de grandes proporções entre os dois.
Desde então, Xangô e Ogum, apesar de irmãos,
tornaram-se eternos e irreconciliáveis antagonistas.
Desde então chamam Ogum de Ogunjá,
que na língua da terra quer dizer Ogum dos Cães.

 

 

XANGÔ INCENDEIA SUA CIDADE ACIDENTALMENTE

 

Xangô governava com rigor a cidade de Oió e redondezas.
Era chamado de Jacutá, o Atirador de Pedra.
Xangô era muito prestigiado em seu reino e em reinos vizinhos,
mas desejava algo mais para instilar medo nos corações dos homens.
Para isso convocou os maiores feiticeiros de Oió
e lhes pediu que inventassem novas fórmulas
para aumentar seu poder.
Xangô não ficou satisfeito com o trabalho dos feiticeiros
e pediu ajuda a Exu.
Exu aceitou a tarefa, pediu uma cabra como sacrifício
e ordenou que dentro de sete dias Oiá fosse buscar o preparado.
Quando chegou o dia combinado, lá foi Oiá à casa de Exu.
Lá chegando, ela saudou Exu
e disse que o sacrifício estava a caminho.
O preparado estava embrulhado numa folha.
Oiá pegou o pacote e partiu.

No caminho, Oiá parou para descansar.
Não contendo a crescente curiosidade,
desembrulhou o pacote para ver o que tinha dentro.
Não havia nada além de um pó vermelho
e ela pôs um pouquinho na boca para experimentar.
Não era bom nem ruim; tinha um gosto diferente.
Oiá fechou novamente o pacote e prosseguiu.
Chegou a Oió e deu o remédio a Xangô, que perguntou:
“Que instruções Exu te deu? Como o remédio deve ser usado?”.
Quando ela começou a falar, saiu fogo de sua boca.
Xangô entendeu que Oiá tinha provado o remédio.
Ficou irado e tentou bater em Oiá,
mas ela fugiu de casa, com Xangô a persegui-la.
Oiá foi para um lugar onde carneiros pastavam.
Escondeu-se entre os carneiros,
pensando que Xangô não a encontraria.
Mas a ira de Xangô era grande.
Ele arremessava suas pedras de raio em todas as direções.
Arremessou-as entre os carneiros, matando-os.
Oiá ficou escondida embaixo dos corpos dos carneiros mortos
e assim Xangô não pôde encontrá-la.

Xangô voltou para casa.
Muitas pessoas de Oió estavam reunidas lá
e clamavam pedindo que Xangô perdoasse Oiá.
A raiva dele abrandou-se.
Mandou seus empregados procurar Oiá e trazê-la para casa.
Mas ele ainda não sabia como usar o preparado.
Quando anoiteceu, ele pegou o pacote de Exu
e foi a um lugar bem alto, de onde podia ver toda a cidade.
Colocou um pouco do pó vermelho na língua
e, quando expirou o ar dos pulmões,
uma enorme labareda jorrou de sua boca,
depois outra e mais outra, sem parar.
As chamas se estenderam por sobre toda a cidade,
lambendo os telhados de palha das casas de seus súditos
e também as dependências do palácio real.
Um grande incêndio tomou conta de Oió.
Tudo foi consumido pelo fogo até as cinzas.
Oió foi destruída e teve que ser reconstruída.
Depois que a cidade ressurgiu de suas cinzas,
Xangô continuou a governá-la.

Em tempos de guerra,
ou quando as coisas o desagradam,
Xangô arremessa as pedras de raio.
E o fogo da boca de Xangô queima seus desafetos.
Os carneiros que morreram protegendo Oiá
das pedras de raio de Xangô não foram esquecidos.
Os devotos de Oiá não comem mais carne de carneiro.

 

 

XANGÔ VENCE OGUM NA PEDREIRA

 

Xangô e Ogum sempre lutaram entre si,
ora disputando o amor da mãe, Iemanjá,
ora disputando o amor da amada, Oxum,
ora disputando o amor da companheira, Iansã.
Lutaram no começo do mundo e ainda lutam agora.
Ogum usa da sua força física e das armas que fabrica,
Xangô usa da estratégia e da magia.
Ambos são fortes e valentes,
ambos são guerreiros temidos.
Mas só uma vez Xangô venceu Ogum na luta.
Numa disputa que travaram por Iansã,
ora a batalha pendia para um lado,
ora pendia para o outro.
Ninguém conseguia prever o final,
ninguém podia apostar quem seria o vencedor.
Foi então que Xangô apelou para a astúcia,
como é de seu feitio numa hora dessa.
Conduziu a batalha como quem se retirava
e, sem que Ogum percebesse, Xangô o atraiu para a pedreira.
Foi então que Xangô apelou para a magia,
como é de seu feitio numa hora dessa.
Quando Ogum estava bem no pé da montanha de pedra,
Xangô lançou seu machado oxé de fazer raio
e um grande estrondo se ouviu.
Com o trovão veio abaixo uma avalanche de pedras
e as pedras soterraram o desprevenido Ogum.
Xangô vencera Ogum naquele dia,
única vez que alguém venceu Ogum.
Mas esses dois filhos de Iemanjá seguem lutando ainda,
ora disputando o amor da mãe, Iemanjá,
ora disputando o amor da amada, Oxum,
ora disputando o amor da companheira, Iansã.

 

 

XANGÔ CONQUISTA IANSÃ NA GUERRA CONTRA OGUM

 

Um dia Xangô e Ogum se colocaram frente a frente,
no campo de batalha:
lutavam pela conquista de Iansã.
Ogum veio furioso, vestido em sua armadura metálica
com todo tipo de proteção.
Ele trazia muitas armas, vinha carregado de ferro
e era impossível vencê-lo numa luta corpo a corpo.
Ele era todo armadura.
Xangô veio sem nada,
porque sempre fez tudo por impulso
e nunca soube como se organizar corretamente.
Sua única arma era uma pedra que carregava na mão.
Então Xangô jogou a pedra em Ogum e ele pegou fogo.
A pedra de Xangô era o corisco, um meteorito que solta chamas,
era a pedra de raio, edum ará.
Com sua magia Xangô derrotou Ogum e ganhou Iansã.
Ogum foi um orixá guerreiro, feroz,
sempre caçando nas florestas, lutando para sobreviver.
Xangô foi um orixá briguento
e soube brigar tanto como Ogum.
Mas Xangô, ao contrário de Ogum, soube desfrutar da boa vida.

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(Autor dos versos: Toninho Nascimento.)

 

 

A DEUSA DOS ORIXÁS

 

Iansã, cadê Ogum?
Foi pro mar
Mas, Iansã, cadê Ogum?
Foi pro mar

Iansã penteia os seus cabelos macios
Quando a luz da lua cheia clareia as águas do rio
Ogum sonhava com a filha de Nanã
E pensava que as estrelas eram os olhos de Iansã

Mas, Iansã, cadê Ogum?
Foi pro mar
Mas, Iansã, cadê Ogum?
Foi pro mar

Na terra dos orixás o amor se dividia
Entre um deus que era de paz e outro deus que combatia
Como a luta só termina quando existe um vencedor
Iansã virou rainha da coroa de Xangô

Mas, Iansã, cadê Ogum?
Foi pro mar
Iansã, cadê Ogum?
Foi pro mar
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Claridade. artista & intérprete: Clara Nunes. canção: A deusa dos orixás. autor dos versos: Toninho Nascimento. autor da música: Romildo S. Bastos. gravadora: EMI.)