OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (8ª EDIÇÃO) — O EVENTO: FOTOS & POEMAS
11 de dezembro de 2016

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(No camarim, antes da apresentação, da esquerda para direita: Cristina Flores, Renata Corrêa, Paulo Sabino, Maria Rezende, Elizeu Braga, Renato Farias, Pedro Mann, Emílio Dantas & Leo Pinheiro — Foto: Rafael Millon)

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(O coordenador do projeto, Paulo Sabino — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(A grande homenageada da noite, Maria Rezende, e o coordenador do projeto, Paulo Sabino — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(A homenageada da noite, Maria Rezende — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Renata Corrêa — Foto: Elena Moccagatta)

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(Renato Farias — Foto: Elena Moccagatta)

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(Mariza Leão — Foto: Elena Moccagatta)

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(Emílio Dantas — Foto: Elena Moccagatta)

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(Emílio Dantas & Leo Pinheiro — Foto: Elena Moccagatta)

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(Pedro Mann — Foto: Elena Moccagatta)

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(Cristina Flores — Foto: Elena Moccagatta)

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(Elizeu Braga — Foto: Elena Moccagatta)

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(Os agradecimentos ao final — da esquerda para direita: Leo Pinheiro, Emílio Dantas, Maria Rezende, Paulo Sabino, Renato Farias, Cristina Flores, Elizeu Braga, Renata Corrêa & Pedro Mann — Foto: Rafael Millon)

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(Após apresentação, Emílio Dantas, Paulo Sabino & Renata Corrêa — Foto: Rafael Millon)

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(Após apresentação, Paulo Sabino & Pedro Mann — Foto: Rafael Millon)

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(Após apresentação, Elizeu Braga, Paulo Sabino, Renato Farias & Mariza Leão — Foto: Rafael Millon)

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(Após a apresentação, Paulo Sabino & Maria Rezende — Foto: Elena Moccagatta)

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(Após tudo, no lançamento do mais recente livro de poesia da Elisa: Maria Rezende, Elisa Lucinda & Paulo Sabino — Foto: Rafael Millon)
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Uma pessoa nua no meio da rua
sem ser sonho
é o quê?
Pessoa desarmada
apta pra tropeços

Não há maravilha sem carne
Só o que pulsa se espatifa
É preciso estar vivo pra brilhar e pra doer

 

Que noite. Nem sei. Tô astronauta ainda. Transbordada. Agradeço loucamente a todos os convidados que aceitaram estar lá comigo e me emocionaram profundamente. Obrigada Paulinho pelo convite. Eu sou puro amor agora.

(Maria Rezende)

 

 

Queridos & Queridas,

A 8ª edição do projeto Ocupação Poética, no teatro Cândido Mendes (Ipanema), a última de 2016, em homenagem à jovem & talentosa poeta Maria Rezende (agora, ao usar o termo “jovem”, me lembro demais do seu pai, Maria!) & com participantes pra lá de especiais, fechou o ano com chave de ouro maciço! Foi realmente impactante pra todos nós que participamos e que assistimos. Como eu & a Maria resolvemos não “amarrar” muito o roteiro da noite, deixamos a edição bem solta, fluir com o andar dos minutos, e a apresentação colocou-se num lugar inesperadamente lindo & muito emocionante, incrível. Amigos meus que foram a algumas várias edições me confidenciaram que esta foi a mais emocionada & emocionante de todas. Muitos risos, muita alegria, mas a noite, sem que planejássemos, também nos reservou boas lembranças & lágrimas. Foi um deslumbre! Foi um desbunde! Foi uma catarse! Foi de uma delicadeza & sensibilidade ímpares! Teatro cheio, público quente, leve, que se permitiu embarcar na apresentação junto com todas as histórias contadas & todos os poemas lidos. Eu, hoje, como já disse à Maria, estou com os pés acima do chão, hoje certamente caminho numa nuvenzinha, tamanha leveza & tamanho contentamento por todas as vivências no palco. Eu não esperava tanto, não mesmo. Não podia sequer imaginar que o ano de 2016, com a Ocupação Poética, fecharia assim, tão mágico, tão poético! Eu, mais uma vez, por graça & obra da Poesia, Musa Maior na minha vida, sou amor da cabeça aos pés!

Agradecer demais a presença de todos os participantes & envolvidos para que o projeto acontecesse do jeito que aconteceu: Cristina Flores, Elizeu Braga, Emílio Dantas, Mariza Leão, Pedro Mann, Renata Corrêa, Renato Farias & Rafael Millon.

Agradecer sempre ao Adil Tiscatti & à Fernanda Oliveira por acreditarem no potencial do projeto. Agradecer demais à Julia Mendes de Almeida, sempre simpática & solícita nos arranjos & rearranjos das datas pro projeto (Julinha, que bom te conhecer pessoalmente!).

Mariaaaaaa, cola em mim porque agora eu não desgrudo de você!

De bônus, depois da enxurrada de emoções & beleza que foi a apresentação, pertinho do teatro uma diva tanto minha quanto da Maria lançava o seu mais recente livro de poemas, o que, inclusive, a impossibilitou de participar desta 8ª edição como convidada: Elisa Lucinda. No meu exemplar, a dedicatória que conseguiu me deixar (uma coisa que pensava ser impossível) ainda mais feliz do que já estava:

“Paulo Sabino, com meu amor pelo amor com o qual você trata nossa arte. Beijo da Elisa.”

Valeu demais, valeu por tudo, valeu imensamente! Depois dessa injeção de ânimo, que venham as edições de 2017! Já temos poetas espetaculares para o ano que se aproxima, um luxo só! Vamos que vamos!

De brinde, abaixo, deixo aos interessados dois lindíssimos poemas da Maria Rezende que tive o prazer de ler nesta noite mágica.

Até já, até lá, com mais Ocupações Poéticas!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do livro: Bendita palavra. autora: Maria Rezende. editora: 7Letras.)

 

 

ESCREVO PORQUE ESTOU VIVA
escrevo porque é preciso
pra acordar, pra estar despida
porque o mundo não é só isso
que acontece aqui em cima

Escrevo porque não vivo
escrevo porque preciso
dessa roupa, esse colírio
escrevo pra pôr delírio
em tudo que é preto-e-branco

Escrevo pra estar viva
escrevo porque aqui minto
as belezas que não tenho
e as coragens que persigo
escrevo porque assim finjo

Escrevo contra as burrices
contra os medos que hoje sinto
escrevo a favor do sonho
escrevo pra estar livre
escrevo quando consigo
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(do livro: Carne do umbigo. autora: Maria Rezende. Edição do autor.)

 

 

MEU NORTE

 

O amor me deu um susto
o amor me deu um tapa
um soco doce
um sopro na asa
o amor me encheu de porrada

Me empurrou da bicicleta
me pôs de cama
mudou meu rumo
me deu um norte
roubou meu chão

O amor me botou no colo
deu plural pros verbos
curou minha tosse
me encheu de sede
me tirou das ruas
o amor me deu a mão

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (8ª EDIÇÃO) — MARIA REZENDE & CONVIDADOS
28 de novembro de 2016

 

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(O convite para a edição com a Maria Rezende)

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(A homenageada da noite, a poeta, performer, montadora de cinema & tv & celebrante de casamentos, Maria Rezende)

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(Pedro Mann)

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(Emílio Dantas)

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(Elizeu Braga)

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(Cristina Flores)

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(Renata Corrêa)

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(Renato Farias)

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(Mariza Leão)
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Anotem na AGENDA, espalhem a NOTÍCIA, compartilhem ESTA PUBLICAÇÃO!

Dia 5 DE DEZEMBRO (segunda-feira), às 20H: a 8ª edição do projeto OCUPAÇÃO POÉTICA, coordenado por ESTE QUE VOS ESCREVE, PAULO SABINO, no teatro CÂNDIDO MENDES (Ipanema – Rio de Janeiro), com leituras baseadas na obra da poeta, performer, montadora de cinema & televisão & celebrante de casamentos MARIA REZENDE.

Além da participação da poeta homenageada & da participação deste que vos escreve, o evento contará também com as participações pra lá de ESPECIAIS:

– do cantor, compositor & instrumentista PEDRO MANN (banda BONDESOM);
– do ator EMÍLIO DANTAS;
– do poeta, ator & curador da ARIGÓCA, de Porto Velho (Rondônia), ELIZEU BRAGA;
– da atriz & diretora CRISTINA FLORES;
– da roteirista & escritora RENATA CORRÊA;
– do ator & diretor da Cia de Teatro Íntimo RENATO FARIAS;
– da produtora cinematográfica & mãe da homenageada MARIZA LEÃO.

5 DE DEZEMBRO (segunda-feira), às 20H, no teatro CÂNDIDO MENDES (Ipanema – Rio de Janeiro): a 8ª edição do projeto OCUPAÇÃO POÉTICA.

Homenageada: MARIA REZENDE.
Coordenação do projeto: PAULO SABINO.

Esperamos todos!

SERVIÇO

Ocupação Poética (8ª edição)

Coordenação: Paulo Sabino

Participantes: Maria Rezende e convidados especiais

Teatro Cândido Mendes

Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema

Tel: (21) 2523-3663

Data: 05/12 SEGUNDA-FEIRA

Horário: 20h

Entrada: R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)*

Vendas antecipadas na bilheteria

Classificação livre

*Para quem não tem carteirinha de estudante, de professor, a carteirinha do Cine Santa ou acima de 65 anos, nomes na lista-amiga. O nome na lista-amiga não garante o ingresso na bilheteria; garante o valor da meia-entrada (R$ 10,00). Caso queira o seu nome na lista-amiga, deixe o seu nome nos comentários desta publicação.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (6ª EDIÇÃO) — VÍDEOS: MORAES MOREIRA & ELISA LUCINDA — ENCERRAMENTO
16 de novembro de 2016

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(Moraes Moreira — Foto: Elena Moccagatta.)

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(Foto: Elena Moccagatta.)

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(Elisa Lucinda — Foto: Elena Moccagatta.)

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(Foto: Elena Moccagatta.)

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(Moraes Moreira & Elisa Lucinda — Foto: Elena Moccagatta.)

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(Foto: Elena Moccagatta.)

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(Foto: Felipe Fernandes.)

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(O quarteto fantástico da 6ª edição: Elisa Lucinda, Moraes Moreira, Paulo Sabino & Maria Rezende — Foto: Felipe Fernandes.)
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Aos interessados, os 2 últimos vídeos da 6ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido no dia 2 de agosto (terça-feira), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação estelar de: Elisa Lucinda, Moraes Moreira & Maria Rezende.

No primeiro vídeo desta publicação, a grande homenageada da noite, a poeta & atriz Elisa Lucinda, bate um papo descontraído com o cantor, compositor, instrumentista, poeta & membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Moraes Moreira, que fala da sua paixão pelo livro “Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada”, o primeiro romance da Elisa & finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2015, conta a divertidíssima história de composição do seu poema-canção “Sonhei que estava em Portugal”, além de recitá-lo & recitar um outro poema-canção seu, ainda não gravado & ainda pouco conhecido porque composto recentemente, “O samba e a língua”. No segundo vídeo, a homenageada da noite recita um poema do grande homenageado por ela na noite (e por todos nós, participantes), Fernando Pessoa, um poema do seu heterônimo Álvaro de Campos. Ainda de presente, o áudio da canção “Sonhei que estava em Portugal”, na interpretação da abelha-rainha Maria Bethânia.

Mais à frente, publicarei a noite da 7ª edição do projeto, em homenagem aos 70 anos do poeta, letrista & agitador cultural, além de querido amigo, Jorge Salomão, e já aviso que está acertada a data da 8ª edição do projeto (5 de dezembro), a homenageada da 8ª edição & confirmados alguns vários convidados. Em breve maiores informações.

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. Bate-papo entre Elisa Lucinda & Moraes Moreira. Moraes Moreira recita dois poemas-canções de sua autoria, Sonhei que estava em Portugal & O Samba e a Língua.)

 

 

SONHEI QUE ESTAVA EM PORTUGAL  (Moraes Moreira)

 

Sonhei que estava um dia em Portugal
À toa num carnaval em Lisboa
Meu sonho voa além da poesia
E encontra o poeta em pessoa

A lua mingua e a língua lusitana
Acende a chama e a palavra Luzia
Na via pública e em forma de música
Luzia das, luzíadas, Luzias

 

 

O SAMBA E A LÍNGUA  (Moraes Moreira)

 

O que é que une o Brasil
De norte a sul com certeza?
É o samba
E a língua portuguesa

O samba e suas vertentes
A língua e os seus sotaques
O que é que nos faz diferentes
É ter os mesmos destaques
O samba e os seus poetas
E eu morro, sim, de amores
Por essas obras completas

O samba tem a cadência
A língua a sua sintaxe
O samba é malemolência
A língua diz: não relaxe
O samba é mais popular
A língua é mais erudita
Eu ouço o povo falar
Cantar de forma bonita
O samba tem a cabrocha
A língua sua cachopa
O samba acende uma tocha
A língua muda de roupa
O samba é uma escola
A língua é Academia
No samba a gente rebola
Na língua a gente vicia
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(do site: Youtube. áudio extraído do cd: Ciclo. artista & intérprete: Maria Bethânia. canção: Sonhei que estava em Portugal. versos: Moraes Moreira. música: Moraes Moreira. gravadora: Universal Music. citação da canção: Anda Luzia. autor: João de Barro.)


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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. Elisa Lucinda recita Poema em linha reta, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.)

 

 

POEMA EM LINHA RETA  (Álvaro de Campos / heterônimo de Fernando Pessoa)

 

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo, neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (6ª EDIÇÃO) — VÍDEOS: MARIA REZENDE & ELISA LUCINDA
15 de setembro de 2016

(Todas as fotos: Elena Moccagatta.)

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(As poetas Maria Rezende & Elisa Lucinda)

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(A poeta Maria Rezende)

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(A grande homenageada da noite — a poeta & atriz Elisa Lucinda)
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Aos interessados, 3 vídeos da 6ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido no dia 2 de agosto (terça-feira), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação estelar de: Elisa Lucinda, Moraes Moreira & Maria Rezende.

Nos vídeos desta publicação, a grande homenageada da noite, a poeta & atriz Elisa Lucinda, lê um trecho do seu mais recente livro — e o primeiro romance — intitulado “Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada”, finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2015, com a poeta Maria Rezende; depois, separadamente, tanto a Maria quanto a Elisa lêem trechos do livro escolhidos por ambas.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. Elisa Lucinda & Maria Rezende lêem um trecho do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda.)

 

(trecho do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora:Elisa Lucinda. editora: Record.)

 

A noite chegou. Tive a impressão de que a tarde passara e que a minha mãe nem soubera de minha febre. (…) O tempo corria denso, e em meu coração o amor por ela subitamente pareceu ter dobrado de tamanho. Cavaleiro de Nada apareceu no quarto.

(…)

— Tu deverias falar com ela.
— Mas falar o quê?
— Que não queres ficar aqui. Que não podes viver longe dela, que preferirias a morte por febre ou tuberculose como o teu pai e o Jorge, teu pequenino irmão. Vai funcionar, bobo! Ela não suportaria mais essa dor, ainda que fosse em favor do seu casamento. Nenhuma grinalda vale isso.
— E se ela realmente leva-me com ela? Tu irás comigo, Cavaleiro de Nada?

(…)

— Sou teu, meu amigo, a ti pertenço mais do que aquela bola com o desenho de um cão verde, mais do que todos os teus brinquedos. Irei contigo aonde me levares. Agora vai lá. Ela ainda está ao piano. Apura-te.

Abracei com força o meu querido amigo. (…) O piano de minha mãe fazia com que, subitamente, tudo retornasse ao seu lugar de paz. (…) Com o indicador de um menino de 5 aninhos, toquei levemente as costas da minha querida Magdalena. Ela sorriu-me de volta e beijou a ponta do meu dedinho, demorada e carinhosamente. Depois me abraçou:

— Que queres, meu príncipe pequeno? Sabias que está perto de aprenderes o português escrito? Está já a chegar a hora.
— Sim, minha mamã.
— E na escola, percebes? Com os teus colegas da mesma idade, com uniforme e tudo! Vais ficar mais lindo ainda! A escola é um lugar cheio de amigos novos que falam a mesma língua que a gente e que, juntos, aspiram a crescer amando a pátria, o país. Isto tudo é para depois seres um português legítimo, forte e corajoso para a nação e para o mundo. Tu não queres ser esse homem? Hã, meu menino?

Fiquei em silêncio por um tempo no seu colo, minhas costas coladas ao peito dela, a escutar o suspeito batimento do seu coração. Ai, ai… Sabia o fundamento daquele novelo de palavras, percebia-lhe o casco, farejava o rastro das suas intenções, ainda que a doçura encobrisse a cena, aquelas eram palavras de deixar-me. Em meu pensamento, percorri Cavaleiro de Nada: Socorro! Amigo meu, o que é que eu faço? Pois que faça um poema para ela, disse-me ele. Qual? (…) Ele soprou-me ao ouvido, ditando-me as palavras.

(…)

— Acho que fiz uma quadra, posso declamá-la agora, mamã?
— Claro, meu querido, estou aqui e sou tua plateia.

Dito isso, ela saiu do banco do piano disposta a acomodar-se no sofá azul-escuro que acompanhava a família desde que eu me entendia por gente (…). Pus os bracinhos para trás e disparei estes versinhos como se fossem um só buquê oferecido a ela. Embora aparentemente inocente, hoje sei, era um desesperado buquê: À minha querida Mamã: Eis-me aqui em Portugal, nas terras onde nasci. Por muito que goste delas ainda gosto mais de ti. Minha mãe deu-se a chorar como uma criança à minha frente naquele dia. (…) Depois, demorou-se com seus olhos fundos dentro dos meus, como a pedir perdão. “Que linda quadra, meu bem, meu pequeno poeta. Pois está decidido. Tu vens com a mamã, meu amor. Vamos para a África com a mamã e faremos dentro de nossa casa lá a nossa língua, o nosso Portugal. Se te ensinei o francês aqui, ora pois, quem, que circunstância, por desconhecida que seja, ousaria impedir-me de ensinar-te a escrever a nossa língua-mãe? Hein, meu pequeno lusíada?” E passou a fazer-me cócegas, a brincar materna e humana com a sua cria.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. No 1º vídeo, a poeta Maria Rezende apresenta ao público o trecho que lerá do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda. No 2º vídeo, Elisa Lucinda & Maria Rezende lêem, cada uma, um trecho do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda.)

 

 

(trecho do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora:Elisa Lucinda. editora: Record.)

 

(…) Cada um deixa aqui sua história no mais minúsculo dos atos. Quem é Noronha? Li uma vez num jornal americano que um explorador casual, que por ousadia se aventurou por uma garganta intransitável das Montanhas Allegheny, ficou surpreendido com o aparecimento numa parte lisa de um rochedo escuro, de umas breves palavras gravadas. Era impossível que alguém lá antes estivesse estado. O viajante era de raça inglesa, e, como tal, não falava outra língua senão a sua. Desconheceu por isso a língua em que a inscrição estava feita. Copiou-a porém, esperando sem dúvida ter descoberto o indício de qualquer povo primitivo, misterioso e estranho. Porém quando, regressado à planície e à povoação, mostrou a inscrição que copiara, alguém houve que a lesse logo. A inscrição, afinal, era em português; era simples: ESTEVE AQUI O NORONHA. O Noronha não seguiu a rotina, porque a rotina não conduzia a paragens desconhecidas. O Noronha não buscou celebridade, porque então teria deixado ao menos o nome próprio também, para sabermos qual dos numerosos Noronhas é que tinha passado por ali. O Noronha é o exemplo supremo da iniciativa, que tem por prêmio só a mesma iniciativa. Aquela frase simples que o inglês não pôde traduzir dizia, na verdade, aqui esteve o inédito, o Noronha. Por isso, cuida-te. Ama o que fazes e faça-o com tudo o que tens. Qualquer que seja o teu trabalho, põe individualidade nele, esforça-te por lhe pores qualquer coisa de único, de diferente, de teu. Há aventuras até no fazer embrulhos. Há campo para criação até na redação de faturas. Lembra-te do Noronha. Ninguém podia passar pelas gargantas das Allegheny. Foi lá ter o Noronha. Eras capaz de ir lá ter? Sê ao menos capaz de ir ter a um novo modo de redigir cartas, de dobrar circulares, de colar selos. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive. Sê original em qualquer coisa. Vive. Sê gente… Não te deixes ser igual aos outros como se tivesse nascido carneiro. Não faças isso para brilhar. O Noronha não quis brilhar, pois nem sequer disse bem quem era. Faz isso para te sentires homem. Ele deixou o bilhete da visita e é de supor, retornou, se não morreu lá. Mas, seja como for, fez aquilo só porque ninguém o tinha feito. Tanto basta para justificar uma vida. Tudo é encontrar qualquer coisa. Mesmo perder é achar o estado de ter essa coisa perdida. Nada se perde, só se encontra qualquer coisa. Sentir é buscar.
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(trecho do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora:Elisa Lucinda. editora: Record.)

 

Estou pela rua, agora já vindo do Abel. Daquele jeito. Passam rapidamente os anos. Rapidamente passa a vida e não há nisso novidade. Não vem com a tarde oportunidade nenhuma. Quando fiz 38 anos, vi que estava sempre mais próximo de nunca ter realizado coisa alguma na vida, e ainda pensei: Que bom, a realização envelhece-nos. Tudo tem o seu preço; o preço da realização é a perda da juventude. Não me casei e por isso mantive-me livre tanto dos prazeres especiais como dos cuidados próprios dessa espécie de parceria; e o bem e o mal desse estado são igualmente envelhecedores. Nunca fiz um esforço real atrás de coisa alguma, nem apliquei fortemente a minha atenção exceto a coisas fúteis, desnecessárias e ficcionais. Sinto-me jovem porque tenho vivido desta maneira. Dirá o senhor que não prestei qualquer serviço à humanidade. Mas prestei a muitas pessoas o serviço de não estar no seu caminho. Não competi com as ambições de nenhum homem, nem me pus no caminho da grandeza natural de nenhum tolo. Ah, tudo isso é bastante literário, pois sou sempre bastante literário — já que é esta a inclinação certa de um espírito que não tem inclinações. Aqui, neste misérrimo desterro onde nem desterrado estou, habito, fiel, sem que queira, àquele antigo erro pelo qual sou proscrito. O erro de querer ser igual a alguém feliz. Estou a sentir que passo pela rua no horário em que os maridos voltam do trabalho, entram em suas casas, jantam com os seus filhos. Ao passar aqui fora, ouço todos os sons da cena familiar por dentro. Por um momento sou parte daquilo:

— Papai, um dia você me leva às touradas espanholas? Leva, não leva, papai?

(Silêncio)

— Ó Fernando, onde estás com a cabeça? Sou tua mulher. Não estás a ver-me aqui? Não escutas o que teu filho está a pedir-te?
— Não te deixes incomodar com eles, papai, compre um vestido novo para mim porque sábado haverá baile e o meu vestido, o senhor sabe, eu quero que seja o mais bonito. Estás a ouvir-me, meu papá?

(Silêncio)

— Fernando, não escutas a tua filha? Já é uma rapariga linda, e tu nem percebes?
— Ah, seu Fernando, para aproveitar a oportunidade que o senhor está aqui, eu estava a precisar de um aumento, porque o que eu ganho cá não está a compensar, não. Melhor voltar para Trás-dos-Montes, largar Lisboa para trás.

(Silêncio)

— Fernando, tu estás doido, surdo, em estado de choque ou o quê? A Alvina, nossa empregada, está a esperar a tua resposta, aliás como estamos todos!

Felizmente, minha imaginação foi quem me conduziu àquela mesa portuguesa, onde não bebi a açorda nem gostei do que vi. E foi a mesma imaginação que de lá me tirou, graças a Deus! Que maçada, aquele homem, aqueles filhos, aqueles assuntos, aquela família! Não. Não nasci para marido, definitivamente. A pessoa tem que ter vocação para aquilo. A pessoa do Pessoa não tem. Quem escreveria por mim, enquanto eu estivesse a jantar com aquela tribo vestida? Sigo meus próprios passos no breu da rua. Tudo que me cerca é feito de enormes silêncios. Ora, ora, meu verdadeiro clã é feito de palavras, sou o pai delas. É certo que tenho palavras grandes, desenvolvidas, independentes já, mas ainda há aquelas palavras pequenas, eu tenho palavras de colo ainda, palavrinhas. E, se não sou eu, quem há de garantir-lhes o leite? Vivo entre próclises e mesóclises a fazer bacanais indescritíveis e inconfessáveis. E, como sou português, o cardume de ênclises não sai da minha cama! Agora, casado verdadeiramente com uma figura de linguagem: uma Metonímia, uma Hipérbole, uma Metáfora, quem sabe? Também há desconfianças de que andou pela minha casa um tal de Substantivo, sendo que o Adjetivo, este sim não sai de lá. Sou um escravo do Adjetivo. Mas não é nada disso. Não houve nada, são as más línguas. Essa é que é minha gente.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (6ª EDIÇÃO) — VÍDEO: PAULO SABINO & ELISA LUCINDA
29 de agosto de 2016

(Todas as fotos: Elena Moccagatta.)

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(O coordenador do projeto — Paulo Sabino — & a homenageada da noite — Elisa Lucinda.)
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Aos interessados, vídeo da 6ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido no dia 2 de agosto (terça-feira), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação estelar de: Elisa Lucinda, Moraes Moreira & Maria Rezende.

No vídeo desta publicação, um bate-papo com a homenageada da noite, a poeta & atriz Elisa Lucinda, que fala sobre o convite para fazer o seu mais recente livro — e o primeiro romance — intitulado “Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada”, finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2015, sobre a construção da narrativa, sobre o seu contato com o escritor & poeta moçambicano Mia Couto, responsável pelo prefácio do livro, e conta casos divertidos que permeiam a sua vivência com a obra. Ao final, a poeta & atriz recita “Mar português”, poema do grande homenageado da noite, o poeta português Fernando Pessoa.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. Bate-papo com Elisa Lucinda & Paulo Sabino a respeito do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda. Elisa Lucinda recita Mar português, poema de Fernando Pessoa.)

 

MAR PORTUGUÊS  (Fernando Pessoa)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (6ª EDIÇÃO) — FOTOS & VÍDEO DE ABERTURA: PAULO SABINO
11 de agosto de 2016

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(Instante antes do início — Foto: Felipe Fernandes)

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(Paulo Sabino — Foto: Felipe Fernandes)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

Paulo Sabino 6ª Ocupação Poética

(Foto: Taís Campos)

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(A homenageada: Elisa Lucinda — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Felipe Fernandes)

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(Maria Rezende — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Felipe Fernandes)

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(Moraes Moreira — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Maria Rezende & Elisa Lucinda — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Moraes Moreira & Elisa Lucinda — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Felipe Fernandes)

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(Paulo Sabino & Maria Rezende — Foto: Rafael Roesler Millon)

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(Foto: Rafael Roesler Millon)

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(Moraes Moreira & Paulo Sabino — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Rafael Roesler Millon)

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(O coordenador do projeto — Paulo Sabino — & a homenageada da noite — Elisa Lucinda — Foto: Felipe Fernandes)

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(Foto: Elena Moccagatta)

Paulo Sabino & Elisa Lucinda 6ª Ocupação Poética

(Foto: Singoala Luz)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Felipe Fernandes)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Rafael Roesler Millon)

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(O quarteto fantástico: Elisa Lucinda, Moraes Moreira, Paulo Sabino & Maria Rezende — Foto: Elena Moccagatta)

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(Foto: Elena Moccagatta)
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“Meu pretinho, muito obrigada, você é muito querido, espontâneo, foi uma noite mágica. Quero fazer outra o ano que vem, ou quando você puder e quiser, com a obra poética minha. Meu beijo imenso, Paulo, muito obrigada mesmo.”

(Elisa Lucinda)

 

Mensagens de espectadores da 6ª edição do projeto Ocupação Poética:

“Muito bom, ver o trabalho de Elisa Lucinda é sempre transformador, e os convidados Moraes Moreira e Maria Rezende tb colaboraram para florear o ambiente. Parabéns Paulo Sabino”.

“Foi uma noite maravilhosa meu lindo amigo, sou sua fã de seu projeto de carteirinha. Gratidão!”

“Misturar o talento e a luz de Elisa Lucinda com a genialidade de Fernando Pessoa não poderia resultar em nada menos que MARAVILHOSO!”

“Foi demais! Vou devorar o livro nas férias.”

 

 

Só me chegaram registros lindos da 6ª edição do projeto Ocupação Poética, que coordeno no teatro Cândido Mendes de Ipanema, que teve, como homenageada, no dia 2 de agosto (terça-feira), a atriz & poeta & minha diva Elisa Lucinda, que, por sua vez, homenageou o poeta Fernando Pessoa, e as participações para lá de especiais da poeta Maria Rezende & do cantor, músico & compositor Moraes Moreira.

Uma noite linda, descontraída, e cheia de conteúdo.

Todos muito felizes. As fotos traduzem a beleza & a descontração que conseguimos imprimir na apresentação.

Como base das leituras, o mais recente livro — e o primeiro romance — da Elisa Lucinda, intitulado “Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada”, finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2015.

No vídeo desta publicação, a apresentação do projeto, o poema de Carlos Drummond de Andrade em homenagem a Pessoa & o trecho do livro da Elisa escolhido por mim para a minha leitura.

Ao que tudo indica, pela mensagem da Elisa postada acima, teremos a atriz & poeta uma segunda vez no projeto. Elisa já me contou que tem livro inédito de poesia chegando na área; então a idéia é fazermos uma edição focada no seu mais recente livro de poemas! Oba!

Elisa Lucinda merece repeteco! Eu quero Elisa Lucinda mais uma vez na Ocupação Poética!

Agradecer imensamente aos participantes, Maria Rezende & Moraes Moreira, que só fizeram abrilhantar a noite ainda mais!

Mais vídeos desta edição serão publicados! É só aguardar!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [6ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 02/08/2016. Paulo Sabino apresenta o projeto Ocupação Poética, recita As identidades do poeta, poema de Carlos Drummond de Andrade, e lê um trecho do livro Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, de Elisa Lucinda.)

 

AS IDENTIDADES DO POETA  (Carlos Drummond de Andrade)

De manhã pergunto:
Com quem se parece Fernando Pessoa?
Com seus múltiplos eus, expostos, oblíquos
em véu de garoa?
Com tripulantes-máscaras de esquiva canoa?
Com elfo imergente
em frígida lagoa?
Com a garra, a juba, o pelo amaciado
de velha leoa?

Quem radiografa, quem esclarece
Fernando Pessoa,
feixe de contrastes, união de chispas,
aluvião de lajes
figurando catedral ausente de cardeais,
com duendes oficiando absconso ritual
vedado a profanos?

Que sina, frustrado destino, foi a coroa
desse Pessoa,
morto redivivo, presentifuturo
no céu de Lisboa?

Que levava (leva) no bolso
Fernando Reis de Campos Caeiro Pessoa:
irônico bilhete de identidade,
identity card
válido por cinco anos ou pela eternidade?

Que leva na alma:
augúrios de sibila,
Portugal a entristecer,
a desastrosa máquina do universo?

Fernando Pessoa caminha sozinho
pelas ruas da Baixa,
pela rotina do escritório
mercantil hostil
ou vai, dialogante, em companhia
de tantos si-mesmos
que mal pressentimos
na seca solitude
de seu sobretudo?

Afinal, quem é quem, na maranha
de fingimento que mal finge
e vai tecendo com fios de astúcia
personas mil na vaga estrutura
de um frágil Pessoa?

Quem apareceu, desapareceu na proa
de nave-canção
e confunde nosso pensar-sentir
com desconforto de ave poesca
e doçura de flauta de Pã?

À noite divido-me:
anseio saber,
prefiro ignorar
esse enigma chamado Fernando Pessoa.
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(trecho do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora: Elisa Lucinda. editora: Record.)

 

Abro a janela por onde vejo minha gênese: para revelar que mais tarde eu poderia vir a ser o mais popular, o mais conhecido poeta de língua portuguesa do mundo, nasci numa tarde nítida de fim de primavera quando o sol confirmava três horas e vinte minutos no meio do signo de gêmeos daquela brilhosa hora, no quarto andar esquerdo do número quatro do largo de São Carlos, em frente ao Teatro de Ópera do mesmo bairro. Quem ler o meu mapa astral logo interpretará com facilidade o meu destino mais do que eu fui capaz de fazê-lo. Um mês e uma semana depois houve batizado daquele bebê reluzente ao colo da satisfeita madrinha, tia Anica, na basílica dos Mártires, lá no Chiado. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, a minha mãe e primeiro amor de minha vida, minha verdadeira pátria, a quem amei mais do que a minha própria pátria, e o meu pai, Joaquim Seabra Pessoa, funcionário público do Ministério da Justiça durante o dia e crítico musical do Diário de Notícias à noite, encontraram-se. O amor dos dois deu-me este nome porque nasci em 13 de junho, dia de Santo Antônio e também dia de Lisboa. Logo ele que, por batismo, era Fernando de Bulhões, o nome verdadeiro do santo de quem a minha família se afirmava parente mesmo, genealogicamente falando, e do qual reclamava consanguinidade. Pois bem, este homem recebeu, dentro da ordem franciscana, o pseudônimo de Antônio. Assim resultou em mim como Fernando Antônio Nogueira Pessoa, cujo duplo nome havia de gerar várias pessoas, outros eus meus, criados por mim com nome e obra próprios, mas isto é assunto para depois, é outro capítulo. Prefiro que nos detenhamos por agora nesta casa que fica entre uma igreja e um teatro lírico. As cenas de devoção e óperas, eu primeiro as ouvi para depois vê-las. Isto é, depois já de tê-las criado automaticamente em minha imaginação. Êh, êh, êh, êh, minha imaginação, aquela que dá facilmente partida, desde aí, ao pé de fortes impressões sonoras! Veja em que deu tamanha alegórica vizinhança: De um lado, ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia, e cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça. Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso, e as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro. Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça e sente-se o chiar da água no fato de haver coro. A missa é um automóvel que passa. Súbito vento sacode em esplendor maior a festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe, com o som das rodas do automóvel, e apagam-se as luzes da igreja na chuva que cessa. E tudo isto tilintando num coraçãozinho destes como é o meu.

Do outro lado, todo o teatro é meu quintal, a minha infância: o maestro sacode a batuta, aquele dia em que eu brincava ao pé dum muro de quintal, atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado o deslizar dum cão verde, ora um cavalo azul com um jóquei amarelo. O teatro é o meu quintal, está em todos os lugares, e a bola vem a tocar a música. Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos. O muro do quintal é feito de gestos de batuta. Todo o teatro é um muro branco de música por onde um cão verde corre atrás de minha saudade da minha infância. (…) O maestro agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro, e curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça, bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo. Prossegue a música, e eis a minha infância.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (6ª EDIÇÃO) — O TIME COMPLETO
31 de julho de 2016

(Aqui, o elenco completo da 6ª edição do projeto “Ocupação Poética”, coordenado por este que vos escreve.)

Elisa Lucinda

(Elisa Lucinda)

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(Fernando Pessoa)

Moraes Moreira

(Moraes Moreira)

Dani Ornellas_Amarelo Manga

(Dani Ornellas)

Miguel Falabella

(Miguel Falabella)

Maria Rezende

(Maria Rezende)

Geovana Pires & Elisa Lucinda

(Geovana Pires & Elisa Lucinda)

Flyer 6ª Edição

(Divulgação da 6ª edição do projeto Ocupação Poética)
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Anotem na agenda, espalhem a notícia, compartilhem esta publicação!

Dia 02 DE AGOSTO (terça-feira), às 20H: a 6ª edição do projeto OCUPAÇÃO POÉTICA, coordenado por ESTE QUE VOS ESCREVE, no teatro CÂNDIDO MENDES (Ipanema – Rio de Janeiro), com leituras baseadas no primeiro romance da poeta, dramaturga, atriz & cantora ELISA LUCINDA, intitulado “FERNANDO PESSOA, O CAVALEIRO DE NADA”.

A poeta é a primeira mulher (e espero, MESMO!, que Elisa abra alas a outras tantas) a integrar este projeto.

Na noite, prestaremos uma homenagem ao maior poeta da língua portuguesa, FERNANDO PESSOA.

Além da participação da poeta homenageada & da participação deste que vos escreve, o evento contará também com as participações para lá de ESPECIAIS:

— do cantor & compositor MORAES MOREIRA;
— da atriz DANI ORNELLAS;
— do ator & diretor MIGUEL FALABELLA;
— da poeta MARIA REZENDE;
— da atriz & dramaturga GEOVANA PIRES;

 

02 DE AGOSTO (terça-feira), às 20H, no teatro CÂNDIDO MENDES (Ipanema – Rio de Janeiro): a 6ª edição do projeto OCUPAÇÃO POÉTICA.

Coordenação do projeto: PAULO SABINO.

Esperamos todos!

 

SERVIÇO

Ocupação Poética – Teatro Cândido Mendes

Coordenação: PAULO SABINO

Terça-feira (02/08)

Participantes: PAULO SABINO, ELISA LUCINDA, MORAES MOREIRA, DANI ORNELLAS, MIGUEL FALABELLA, MARIA REZENDE, GEOVANA PIRES

Horário: 20h
Entrada: R$ 40,00 (inteira) / R$ 20,00 (meia)
Vendas antecipadas na bilheteria do teatro
End.: Joana Angélica, 63 – Ipanema, Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2523-3663.
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(do livro: Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada. autora: Elisa Lucinda. autor dos trechos selecionados: Fernando Pessoa. editora: Record.)

 

 

 

Sou um pobre recortador de paradoxos, mas possuo a qualidade de arranjar argumentos para defender todas as teorias, mesmo as mais absurdas, e é esta última a habilitação com que me recomendo. Por mim, o meu egoísmo é a superfície da minha dedicação. O meu espírito vive constantemente no estudo e no cuidado da verdade, e no escrúpulo de deixar, quando eu deixar a veste que me liga a este mundo, uma obra que sirva ao progresso e ao bem da humanidade.
 
 
Se eles [os heterônimos do poeta] escrevem coisas belas, essas coisas são belas, independentemente de quaisquer considerações metafísicas sobre os autores “reais” delas. Se, nas suas filosofias, dizem quaisquer verdades, essas coisas são verdadeiras independentemente da realidade de quem as disse. Tornando-me assim, pelo menos um louco que sonha alto, pelo mais, não um só escritor, mas toda uma literatura, quando não contribuísse para me divertir, o que para mim já era bastante, contribuo talvez para engrandecer o universo, porque quem, morrendo, deixa escrito um verso belo deixou mais ricos os céus e a terra e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente.
 
 
Da mais alta janela da minha casa com um lenço branco digo adeus aos meus versos que partem para a Humanidade. E não estou alegre nem triste. Esse é o destino dos versos. Escrevi-os e devo mostrá-los a todos porque não posso fazer o contrário, como a flor não pode esconder a cor, nem o rio esconder que corre, nem a árvore esconder que dá fruto. Ei-los que vão já longe como que na diligência e eu sem querer sinto pena como uma dor no corpo. Quem sabe quem os lerá? Quem sabe a que mãos irão? Flor, colheu-me o meu destino para os olhos. Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas. Rio, o destino da minha água era não ficar em mim. Submeto-me e sinto-me quase alegre, quase alegre como quem se cansa de estar triste. Ide, ide de mim! Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza. Murcha a flor e o seu pó dura sempre. Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua. Passo e fico, como o Universo.