ENTRE O NÃO E O SIM
22 de fevereiro de 2010

A vida ensina
Que não se aprende a viver
Senão vivendo
Entre o não e o sim 
 
(versão: Nelson Motta)
 
 
entre o não e o sim a vida ensina a viver. e tão árdua a lição…
 
o poema que segue, das coisas lidas recentemente, traduz um tanto do meu estado, do meu desejo — hoje —.
 
(vontade de compaixão, e desta transformando-se em boca, a boca transformando-se em pele, e a pele abrigando-nos da tempestade lá fora…)
 
as dores de amar… contumazes, lancinantes, pungentes, afiadas, duras. procuro um tanto de resignação já que não posso contra elas. todavia, resignação sem autocomplacência, sem que eu sobre de vítima das circunstâncias, ainda que me invada o impulso de comiseração vez por outra. afinal, não sou de ferro nem nasci para nervos de aço. e sei muito bem o que é ter um amor. 
 
o que espero de mim e de todos: felicidade.
 
(embora o momento seja de recolhimento.)
 
quero sofrer de alegria, de felicidade, quero tê-la como um tipo de enfermidade incurável.
 
eu tenho um tipo raro. (e espero que dessa doença a vida não nos poupe nunca!)
 
beijo bom em todos,
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Cinemateca. autor: Eucanaã Ferraz. editora: Companhia das Letras.)
 
 
O ATOR
 
Pensei em mentir, pensei em fingir,
dizer: eu tenho um tipo raro de,
estou à beira,
 
embora não aparente. Não aparento?
Providências: outra cor na pele,
a mais pálida; outro fundo para a foto:
 
nada; os braços caídos, um mel
pungente entre os dentes.
Quanto à tristeza
 
que a distância de você me faz,
está perfeita, fica como está: fria,
espantosa, sete dedos
 
em cada mão. Tudo para que seus olhos
vissem, para que seu corpo
se apiedasse do meu e, quem sabe,
 
sua compaixão, por um instante,
transmutasse em boca, a boca em pele,
a pele abrigando-nos da tempestade lá fora.
 
Daria a isso o nome de felicidade,
e morreria.
Eu tenho um tipo raro.