queridos,
as linhas que seguem para vocês me chegaram através de associações as mais curiosas (curiosas para mim, que, até agora, não entendo exatamente como foram surgindo…).
primeiro pensei num comentário que li, da marina lima, sobre a peça “o estrangeiro”, baseada no livro homônimo de albert camus, em cartaz no rio de janeiro. depois me surgiu uma conversa que mantive com um grupo de pessoas, onde o meu amado amado amado thiago facina, também conhecido como “abel”, fizera uma observação sobre esta mesma personagem, o “estrangeiro”, a personagem da peça comentada por marina, personagem, inclusive, bastante conhecida por estudos filosóficos e psicossociais.
“estrangeiro” é aquele indivíduo que não pertence ao lugar em que está; é o diferente, o que se localiza à parte. o “estrangeiro” de camus é um homem que desaceita o jogo social moralista e rompe com as convenções. é um homem que se vê distanciado, esquivo àquela conjuntura do seu círculo social. e paga o preço por sua ousadia.
deste modo, pensando em camus e na sua personagem, cheguei a hilda hilst e ao seu livro intitulado “kadosh”, termo hebraico que dá sentido ao que se faz separado, ao que é diferente, ao que é distanciado do grupo, sendo “a diferença” — “a particularidade” que causa a diferença — associada a uma característica sagrada, santificada. porém, na obra de hilst, o que importa é o sentido que esta palavra, “kadosh”, abriga para nomear aquilo que se encontra à parte, à distância, em destaque.
daí, saltando de hilda, agarrei-me ao autor das palavras abaixo. porque ele foi, de algum modo, por sua postura ante a vida e pelo preço que pagou por causa desta sua postura, um “estrangeiro”. um homem que quebrou algumas importantes convenções sociais da sua época, as convenções que, segundo o próprio, estariam na categoria das “ações más que não podemos cometer”. um escritor que experimentou a fama e a difamação de forma vertiginosa. um intelectual que nos tem muito a dizer, a notar pela seleção de frases e trechos aqui deixados.
aproveitem-no!
beijo em vocês.
paulinho / paulo sabino.
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(livro: As obras-primas de Oscar Wilde. editora: Ediouro. capítulo: Frases, Citações e Aforismos. tradução: Dilermando Duarte Cox)
Todo meu gênio coloquei em minha vida;
no trabalho, tudo o que pus foi meu talento.
Experiência é algo que você não pode obter em troca de nada.
É uma pena que só levemos a sério as lições da vida
quando elas já não nos servem mais.
A beleza é a única coisa contra a qual a força do tempo nada pode.
As filosofias se desfazem como areia, as crenças sucedem-se
umas após outras, mas o que é belo é uma alegria a qualquer tempo,
algo que pertence a toda humanidade para sempre.
Eu não sou jovem suficiente para saber de tudo.
Não há outro jeito de livrar-se de uma tentação
a não ser sucumbindo a ela.
O mundo classifica as ações segundo três categorias: as ações boas, as ações más que podemos cometer, e as ações más que não podemos cometer. Se vocês se limitarem às boas ações, merecerão o respeito dos bons. Se ficarem apenas com as más ações que podem ser cometidas serão respeitados pelos maus. Mas se realizarem as más ações que não podem ser cometidas, os bons e os maus se juntarão contra você e não haverá mais coisa alguma que possa salvá-lo.
O egoísmo não está em vivermos conforme nossos desejos,
mas em exigirmos que os outros vivam da mesma forma.
O verdadeiro altruísmo é deixar cada um viver
do modo que lhe parecer melhor.
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(trecho extraído de: O retrato de Dorian Gray. tradução: Marina Guaspari. livro: As obras-primas de Oscar Wilde. editora: Ediouro.)
O prazer é a única coisa merecedora de que se lhe dedique uma teoria (…). Mas desconfio de que não posso reivindicar a qualidade de autor desta teoria. Ela pertence à natureza e não a mim. O prazer é o teste da natureza, o seu sinal de aprovação. Quando somos felizes, sempre somos bons, mas, por sermos bons, nem sempre seremos felizes.
(…)
Ser bom é estar em harmonia consigo mesmo (…). A discordância está em sermos forçados a viver em harmonia com os outros. A nossa vida: eis o que importa. A vida dos nossos semelhantes… quem quiser dar-se ares de pedante ou de moralista poderá julgá-la pelos seus critérios morais, mas a vida alheia não é da nossa conta. (…) A moral moderna consiste em aceitar o padrão da nossa época. Ora, a meu ver, um homem de cultura aceitar o padrão da sua época é uma forma da mais crassa imoralidade.