
(Na foto, a capa do livro “O voo das palavras cantadas”, de Carlos Rennó, editora “Dash”.)
_____________________________________________________________________
prezados,
no dia 14 de agosto (quinta-feira), a partir das 19h, na livraria argumento, no leblon (rio de janeiro), o meu querido amigo, o jornalista poeta letrista tradutor & pesquisador musical carlos rennó, lança o seu livro intitulado “o voo das palavras cantadas”, pela editora dash, ao custo de R$ 42,00.
o livro é uma reunião de textos sobre canção que priorizam, dão maior ênfase à poesia da música popular.
como bem anuncia o grande rennó:
“Em foco, as obras de grandes compositores-letristas surgidos na primeira metade do século vinte (Orestes Barbosa, Noel, Lamartine, Caymmi; Gershwin, Porter, Berlin); nos anos 1960 (Caetano, Gil, Chico, Tom Zé, Dylan, Lennon etc.); as relações entre poesia literária e de canção; Vinicius; além de uma diversidade de criadores — de Itamar aos Racionais, Peninha a Aldo Brizzi.”
a partir das 21h, pocket show com lívia nestrovski & fred ferreira.
abaixo, aos senhores, os textos escritos (só por craques!) à introdução da obra.
beijo todos!
paulo sabino.
_____________________________________________________________________
(do livro: O voo das palavras cantadas. autor: Carlos Rennó. editora: Dash.)
INTRODUÇÃO
“Um Catulo da canção”
O poeta-crítico Carlos Rennó escolheu, para ser fertilizado com seu talento e empenho, o terreno da canção popular. Interessado fundamentalmente em poesia, e convicto de que “é possível se fazer poesia de verdade a partir da conjugação de letras e músicas”, situa-se e transita, de modo tão à vontade como é possível apenas a quem conhece o ofício “desde dentro”, no profundo e pleno vale da palavra cantada, área antiga de confluência — que já foi inseparabilidade — de duas artes irmãs.
Quando comenta letras, composições, compositores ou intérpretes, Rennó o faz como criador que é, dedicado prioritariamente à realização ou ao reconhecimento da “correspondência sempre desejável […] que se pode instaurar entre as frases verbais e musicais”. De certo modo, toda a sua ação, tanto criadora como crítica, volta-se ao “casamento, enfim, de letra e música” e, particularmente, aos “instantes em que uma e outra coisa parecem falar exatamente a mesma linguagem”: para ele, a canção é uma “arte em que palavras e sons devem dizer o mesmo, traduzindo-se”.
Tal encontro buscado reflete-se em outros encontros, realizados: no próprio conteúdo deste livro, em que a reflexão, a sensibilidade e a criação se conjuminam; na noção de poesia que impregna a obra, orientada pela ideia da relação entre som e sentido; nas atividades artísticas do autor, letrista e versionista, poeta que recria como quem cria, e cria como quem recria (cioso da necessidade de diálogo com as tradições e invenções referenciais); ou em sua procura da dissolução dos limites entre o alto e o baixo repertórios e entre a cultura “erudita” e a “popular”: nesse sentido, Carlos Rennó escolheu — para jogar e ser craque — o campo em que a poesia de nosso tempo (e de outros tempos) alcança, no mais amplo público, sua presença plena e indistinta.
Neste trabalho (de um Catulo, ao mesmo tempo latino e Da Paixão), documento de uma vida de elaboração e labor, muito se poderá colher — como fruta madura a ser apreciada — de quase tudo sobre a arte da palavra e da palavra cantada.
Marcelo Tápia (poeta e ensaísta)
*
“Erudição popular, leveza e seriedade”
História descontínua da canção popular brasileira e farta fatura do percurso crítico de seu autor, são os dois eixos principais deste livro: a afirmação do valor da invenção e o privilégio dado às obras em que as letras de canção, sem deixar de servirem às melodias com eficácia, ultrapassam-nas, planando no céu da autossuficiência — eis o voo da palavra cantada.
Tomando como modelo crítico os concretistas e Pound, sua matriz valorativa, Carlos Rennó é alheio, entretanto, àquela hybris vanguardista drástica, capaz de ver muito mais e um pouco menos ao mesmo tempo. Sua abertura irrestrita permite-lhe compreender fenômenos estéticos para além dessa matriz, sem preconceitos, mas também sem condescendências.
No fundo de tudo, a convicção de que a canção popular é a gaia ciência capaz de aliar invenção e mercado, vanguarda e massas. Daí o permanente contraponto entre as canções brasileira e americana, lugares máximos desse cruzamento de linguagens.
Sempre atento aos lances de isomorfia das canções — o hoje desvendado mistério de que falava Augusto de Campos —, os textos de Rennó são eles mesmos isomórficos, apresentando qualidades análogas às de seu objeto cultural: erudição popular, alta informação sem esforço, seriedade da leveza e leveza da seriedade.
Francisco Bosco (ensaísta e letrista)
*
“A sofisticação da poesia da canção”
Carlos Rennó é letrista com uma vasta folha de serviços prestados à canção brasileira. Parceiro de muitos e autor de algumas pérolas a quatro mãos com Arrigo Barnabé, Gil, Lenine ou Chico César, Rennó agora surge com esta boa nova surpresa: pequenos ensaios cujo foco principal é a poesia da canção, em toda a sua sofisticação e magnitude, fazendo ruir o tolo Fla-Flu entre poesia literária e letra de música, discussão que até hoje ocupa espaço nos debates culturais, seja na mesa do bar ou no simpósio acadêmico.
A ênfase de Rennó é no emaranhado de possibilidades criativas e soluções estéticas (instintivas ou calculadas, não importa) que os cancionistas / poetas trazem em sua bagagem. E seu olhar analítico é de um rigor microscópico: “Depois, quase no final, temos essa marcada e marcante sucessão de tês, além de dois efes”, frisa ele, ao discorrer sobre o emprego de aliterações na obra inicial de Chico Buarque (neste caso em especial, fala de “Pedro Pedreiro”).
Assim é Rennó, meticuloso em sua busca sherlockiana pelas tramas e mistérios da música popular — alguns / algumas insondáveis. Instigar é seu papel, e seu objeto de estudo são os grandes craques da canção. Orestes Barbosa, Caymmi, Mautner, Tom Zé, Ira Gershwin e Irving Berlin, entre outros poucos, estão neste seleto escrete.
As palavras cantadas voam longe, Rennó sabe.
Zeca Baleiro (cantor e compositor)
*
“Atenção concentrada, cuidadosa e amorosa”
Conheço Carlos Rennó há mais de 30 anos e, desde então, me impressionam os seus olhos fundos que, na verdade, depois entendi, significam que sua atenção, para com as coisas para as quais eles se voltam, é sempre concentrada, cuidadosa e amorosa.
Seja nos seus artigos para jornais e livros, sobre música, poesia, cantores, compositores e poetas, seja nas suas letras de canções ou nas suas versões de standards da canção norte-americana, percebe-se o mesmo cuidado. E esse cuidado começa com o uso sempre correto e consciencioso da nossa língua. E é isso tudo que se pode ver neste livro.
Há alguns anos, ele me deu o prazer de escrever o release de imprensa de meu disco Sobre as Ondas e, ali, com as qualidades de sempre de seu texto, ele destacou, no meu estilo de compor e fazer discos, características nunca antes notadas. Também, por isso, espero que este pequeno comentário possa retribuir um pouco da alegria que ele me deu ao escrever aquelas palavras.
Péricles Cavalcanti (cantor e compositor)
*
“Uma lupa rigorosa e minuciosa”
Conheço Carlos Rennó da época do Lira Paulistana, aquele teatro, etc… Música, festas, vida, trabalho. “Ah, o Rennó faz letras e macrobiótica”, dizíamos. Com o tempo aprendi que o Rennó… faz. Quando o vi brilhando com “Escrito nas Estrelas”, torci junto. Quando lançou Cole Porter — Canções, Versões, torci mais ainda. Vibrei quando ele induziu Itamar Assumpção a cantar Ataulfo Alves. Não sou bom em poesia, fanopeia, melopeia, logopeia. No máximo, Sesc Pompeia. Mas havia algo naquele cara. Trabalhando com ele, entendi que era rigoroso. Lendo-o, percebi que era minucioso, pesquisador, sério. Passei a ouvir o que não havia visto até então. Seu texto é uma lupa macrobiótica que permite dezenas, quiçá centenas, de mastigações de cada palavra, rimas, intenções. E mais, revela o interesse, saudável interesse, em mostrar um pouco disto que chamamos de vida. A reunião de suas matérias, seus escritos, já se fazia imprescindível. Elas juntas num só ser.
Luiz Chagas (músico e jornalista)