AS BORBOLETAS
24 de setembro de 2014

Borboletas

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Eu vou lhe dar de presente uma coisa.
É assim: borboleta é pétala que voa.

(Clarice Lispector)

 

primavera: segundo o dicionário houaiss: “estação temperada e amena, entre o inverno e o verão. [No hemisfério sul, estende-se do equinócio de setembro (22) ao solstício de dezembro (20); no hemisfério norte, do equinócio de março (21) ao solstício de junho (20).]”

primavera: estação considerada a estação das flores, representante do renascimento, da transformação.

a estação das flores é a estação das borboletas.

borboletas: segundo o dicionário aurélio: “designação comum aos insetos lepidópteros diurnos, cujas antenas são clavadas. As larvas das borboletas não tecem casulos, passando o período ninfal sob forma de crisálidas.”

borboletas: insetos diurnos que se alimentam principalmente do néctar das flores & cujo desenvolvimento se caracteriza por quatro fases: o ovo, a lagarta, a pupa (quando em transformação, em metamorfose, dentro da crisálida) & a fase adulta (já borboleta).

sendo o néctar das flores um dos principais alimentos das borboletas, a primavera, estação que se inicia, estação considerada a estação das flores, é, também, a estação das borboletas, bichinhos que, além de flores, gostam do dia.

brancas, azuis, amarelas & pretas: uma profusão de cores soltas no ar: brincam, na luz do dia, as belas borboletas.

soltas no ar, delicadas, levíssimas, qual pétalas a voar, brincam as borboletas, que se misturam, se embaralham, se desordenam, em cores as mais diversas: brancas, azuis, amarelas & pretas.

enquanto brincam, na luz, as belas borboletas, brancas, azuis, amarelas & pretas, a poesia trata de lhes dar as rimas fantásticas, rimas lúdicas, como a brincadeira das borboletas à luz do dia, para que elas sofram mais uma metamorfose, para que elas se transformem em pura lírica:

borboletas brancas são alegres & francas.

borboletas azuis gostam muito de luz.

as amarelinhas são tão bonitinhas!

e as pretas, então… que escuridão!

enquanto brinca de rima a poesia, metamorfoseando borboletas em pura lírica, brincam, na luz, as belas borboletas: brancas, azuis, amarelas & pretas.

primavera: estação considerada a estação das flores, representante do renascimento, da transformação.

borboleta: pétala que voa.

que a estação que se inicia (in)vente a todos as belezas que lhe são caras, as belezas que lhe são estimadas, as belezas que reflitam a sua cara, que reflitam o seu rosto: que belas borboletas — brancas, azuis, amarelas & pretas — brinquem à luz do olhar de cada um nesta primavera.

beijo todos!
paulo sabino.
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(do site: Vinicius de Moraes — Oficial. autor: Vinicius de Moraes.)

 

 

AS BORBOLETAS

 

Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então…
Oh, que escuridão!
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Partimpim Dois. artista & intérprete: Adriana Calcanhotto. canção: As borboletas. poema: Vinicius de Moraes. música: Cid Campos. gravadora: Sony-BMG.)

AS APARÊNCIAS ENGANAM
11 de novembro de 2013

Fogo & Gelo

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(Esta é uma das coisas mais lindas que a música popular poderia ter feito por mim, por nós. E, nesta fase, tudo muito à flor da pele, é assim: coloco para escutar, e choro choro choro – rs.)
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As aparências enganam os que odeiam & os que amam: pois o amor & o ódio se tocam em suas extremidades: um amor, quando torna-se mágoa, é o avesso de um sentimento: oceano sem água.

O ódio, em caso de amor, só existe porque, no fundo do ser, existe algum sentimento resguardado pelo outro.

As aparências enganam os que odeiam & os que amam: porque o amor & o ódio se irmanam na fogueira das paixões: os corações pegam fogo e, depois, não há nada que os apague.

Se a combustão os persegue, as labaredas & as brasas são o alimento (aquilo que faz viver), o veneno (aquilo que faz morrer), o pão, o vinho seco (a bebida quente, que aquece & inebria, e que é, ao mesmo tempo, rascante): a recordação dos tempos idos de comunhão, dos tempos idos de união feliz — sonhos vividos de conviver…

As aparências enganam os que odeiam & os que amam: porque o amor & o ódio se irmanam na geleira das paixões: os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele.

Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser: não há mais forma de se aquecer… não há mais tempo de se esquentar… não há mais nada pra se fazer senão chorar sob o cobertor…

As aparências enganam os que gelam & os que inflamam: porque o fogo & o gelo se irmanam no outono das paixões: o outono das paixões: tempo de recolhimento, tempo de quietude, tempo de reestruturação do ser: pensar & repensar o relacionamento vivenciado, pensar & repensar se o relacionamento vivenciado vale a pena, e, caso não valha mais, aprontar-se para o porvir: os corações cortam lenha e, depois, se preparam para outro inverno.

Mas, apesar dos pesares, o verão que os unira — que unira os corações agora separados — ainda vive & transpira ali (ainda vive & transpira dentro do ser, na recordação dos tempos idos de comunhão, nos sonhos vividos de conviver): nos corpos juntos, na lareira; na reticente primavera, primavera — estação da floração, do renascimento — ainda hesitante; no insistente perfume de alguma coisa — que não sabemos & não podemos definir ao certo — chamada:

AMOR.

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(autores: Tunai / Sérgio Natureza.)

 

 

AS APARÊNCIAS ENGANAM

 

As aparências enganam
Aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio
Se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois
Não há nada que os apague
Se a combustão os persegue
As labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno, o pão
O vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão
Sonhos vividos de conviver

As aparências enganam
Aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio
Se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e depois
Não há nada que os degele
Se a neve cobrindo a pele
Vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer
Não há mais tempo de se esquentar
Não há mais nada pra se fazer
Senão chorar sob o cobertor

As aparências enganam
Aos que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo
Se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e depois
Se preparam pra outro inverno
Mas o verão que os unira
Ainda vive e transpira ali
Nos corpos juntos, na lareira
Na reticente primavera
No insistente perfume
De alguma coisa chamada amor
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Elis, essa mulher. artista & intérprete: Elis Regina. canção: As aparências enganam. autores da canção: Tunai / Sérgio Natureza. gravadora: WEA Music.)

EPIGRAMA: O PRESENTE
4 de dezembro de 2012

Paulo Sabino_Lençóis maranhenses

(Paulo Sabino & seu epigrama: avançar, sempre, com o presente que se desembrulha nas mãos.)
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epigrama: consta no dicionário houaiss: “entre os antigos gregos, qualquer inscrição, em prosa ou verso, colocada em monumento, estátuas, moedas etc., dedicada à lembrança de um evento memorável, uma vida exemplar etc.”
 
epigrama:
 
bom é ser árvore, vento, e sua grandeza inconsciente: não pensar, não temer; apenas: “ser”.
 
e, assim sendo (árvore, vento, e sua grandeza inconsciente), temer coisa alguma, ser “altamente”. “altamente” porque o único compromisso de vida num caso como esse — o de viver sendo como árvore & vento, dentro das suas grandezas inconscientes — é viver sem se preocupar em como, até quando, ou por quê.
 
bom é ser árvore, vento: ser, apenas: altamente.
 
permanecer uno, íntegro, inteiriço, permanecer sem se pensar em partes, fragmentos, pedaços, olho boca cérebro rim coração, permanecer sem se pensar como tipo, modelo, categoria, permanecer uno, sempre só, alheio à própria sorte, sem qualquer tipo de preocupação com o mais adiante, sem qualquer tipo de preocupação com o segundo seguinte (bom é ser árvore, vento: ser, apenas: altamente), sem qualquer tipo de preocupação com o minuto que atravessa estas linhas quando escrevo.
 
(meu tempo é quando.)
 
permanecer uno & sempre só & alheio à própria sorte, com o mesmo rosto tranqüilo, sereno, diante da vida ou da morte.
 
o rosto tranqüilo, sereno, diante da vida (assustadora por suas artimanhas & reviravoltas) ou diante da morte (assustadora por representar o fim & o desconhecido, viagem de onde não mais se retorna): a grandeza inconsciente de não pensar & de, não pensando, não temer: ser, apenas: altamente.
 
apenas “ser”: viver no mais cristalino, no mais puro presente: permanecer uno, alheio à própria sorte, sem qualquer tipo de preocupação com o mais adiante, sem qualquer tipo de preocupação com o segundo seguinte, sem qualquer tipo de preocupação com o minuto que atravessa estas linhas quando escrevo.
 
apenas “ser”: viver no mais cristalino, no mais puro presente:
 
o presente:
 
para mim, este rumor alado de primavera: pássaros a riscar o céu azul da estação que representa o eterno renascer, a presente renovação das coisas & do mundo.
 
dia claro, céu limpo de nuvens: o vinho da claridade, vinho doce, nada rascante, servido em copos de mais azul.
 
vida: dia claro céu azul: tua lúcida presença.
 
vida: viva acesa intransponível: este rumor alado de primavera.
 
enquanto a terra, que não sabe este instante (em sua grandeza inconsciente, assim como a árvore, o vento), enquanto a terra, distante (terra: por mais distante, este errante navegante: quem jamais te esqueceria), enquanto a terra, com toda a sua umidade, com todo o seu frescor primaveril, terra onde se renasce, onde se revive, segura & sem pressa (apoiada — a terra — na firmeza própria da sua matéria), a terra espera, a terra aguarda, espera por nosso encontro, encontro nosso que ocorrerá a qualquer instante, num instante qualquer.
 
(terra: o meu rosto, no futuro, sendo aquele de todos os teus mortos, mais um rosto passado, anônimo, desconhecido: rosto nenhum.)
 
o meu epigrama: desembrulhar eternamente o presente que me chega nas mãos, enquanto a terra, distante, com toda a sua umidade, segura & sem pressa, espera (por mim).
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Antologia poética. autora: Marly de Oliveira. organização: João Cabral de Melo Neto. editora: Nova Fronteira.)
 
 
 
EPIGRAMA
 
 
Bom é ser árvore, vento,
sua grandeza inconsciente;
e não pensar, não temer,
ser, apenas: altamente.
 
Permanecer uno e sempre
só e alheio à própria sorte,
com o mesmo rosto tranqüilo
diante da vida ou da morte.
 
 
 
PRESENTE
 
 
Para mim, este rumor
alado de primavera.
 
O vinho da claridade
em copos de mais azul.
 
Tua lúcida presença.
Enquanto, distante, a terra,
 
 com toda a sua umidade,
segura e sem pressa, espera.

PERFEIÇÃO
26 de novembro de 2010

Primavera

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Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito
Chega de opressão:
Quero viver a minha vida em paz

Quero um milhão de amigos
Quero irmãos e irmãs
Deve de ser cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta
E no meio de uma depressão
Te ver e ter beleza e fantasia

(trecho do poema-canção “vamos fazer um filme”, de renato russo)
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senhores,

celebremos a estupidez humana.

celebremos o meu país & sua corja de assassinos, covardes, estupradores & ladrões.

celebremos a estupidez do povo!

celebremos a nossa polícia, corrupta & violenta!

celebremos a nossa televisão, mentirosa, tendenciosa, caluniosa!

celebremos eros (o deus do amor) & tânato (gênio masculino alado que personifica a morte), celebremos a união de eros & tânato, isto é, a união do amor & da morte, a união na forma de uma síndrome — a síndrome da imuno-deficiência adquirida, popularmente conhecida como aids. (durante muito tempo, a associação do amor, da relação sexual, com a morte, foi muito emblemática. hoje em dia, a síndrome virou uma espécie de doença crônica, e essa associação, graças!, veio abaixo.)

celebremos a morte & seus deuses, perséfone & hades.

celebremos todos os mortos nas estradas (por conta de imprudências no trânsito), os mortos por falta de hospitais!

celebremos a nossa justiça, muitas vezes injusta!

os preconceitos! o voto dos analfabetos! o trabalho escravo! todo o roubo & toda a indiferença!

celebremos epidemias!

comemoremos a água podre — dos mares, rios, lagos!

celebremos a nossa bandeira (e o ufanismo, sempre demasiado & perigoso) & o nosso passado de absurdos gloriosos!

festejemos a violência & esqueçamos a nossa gente que trabalhou honestamente a vida inteira & que, agora, não tem mais direito a nada (sem direito a uma aposentadoria decente, sem direito a serviços públicos de qualidade)!

festejemos a aberração de toda a nossa falta de bom senso!

festejemos o nosso descaso por educação!

porém,

sobre-tudo & todos,

vamos celebrar o horror de tudo isso, de tudo o que foi escrito acima — com festa, velório & caixão!

já que está tudo morto & enterrado agora (com festa, velório & caixão!), podemos também celebrar:

a estupidez de quem tais horrores & atrocidades festejou, a estupidez de quem tais horrores & atrocidades cantou!

pôr abaixo tudo o que arquitetado nas linhas, e alimentar, no coração, a esperança & a vontade de melhorar, uma melhora para todos, estudando & discutindo caminhos, com os pés no chão: chega de maldade & ilusão! de meias-verdades! de travas! de portas fechadas!

lembrem-se: o amor tem sempre a porta aberta.

neste espaço, que faço de aufúgio, que tenho como guarida, abrigo, ninho, para quem o desejar & for do bem, a porta sempre aberta!

(venha, que o que vem, daqui, é afeição.)

beijo todos!
paulo sabino.
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(do encarte do cd: O descobrimento do Brasil. artista: Legião Urbana. autor: Renato Russo. gravadora: EMI.)

 

 

PERFEIÇÃO

 

1
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.

2
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e seqüestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.

3
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão.

4
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso — com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.

5
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição.
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: O descobrimento do Brasil. artista: Legião Urbana. canção: Perfeição. letra: Renato Russo. música: Dado Villa-Lobos / Marcelo Bonfá / Renato Russo. gravadora: EMI.)