MINHA LINHA
10 de março de 2015

Calçadão de Copacabana_Linhas

(As linhas tortas, ondulantes, feito o mar, do calçadão de Copacabana, Rio de Janeiro.)
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que o dono da fala que mora em mim, que o dono da fala que me habita, aquele que fala por mim, nunca permita que eu saia da linha: a linha que, quanto mais torta, quanto mais errada, quanto mais imperfeita, quanto mais retorcida, quanto mais em desaprumo, quanto mais curva, mais posso dizer que é a minha.

sempre fui meu próprio mestre, sempre aprendi com as coisas que vi, senti, ouvi, e li, e é sem tristeza, e é com alegria, que conto que não aprendi nada: não me considero pronto: a linha que me pertence, na qual escrevo a minha vida, é a linha que, quanto mais torta, quanto mais errada, quanto mais imperfeita, quanto mais retorcida, quanto mais em desaprumo, quanto mais curva, mais posso dizer que é a minha.

no caminhar dos passos, os passos, com o que colhemos vidafora, com o conhecimento que formamos, não se tornam acertados; muito pelo contrário: os passos continuam, e continuarão, incertos, continuarão a caminhar em linha torta (pelo menos os meus).

o conhecimento acumulado não consegue, nunca, acertar os passos em linha reta: você precisa saber o que eu sei & o que eu não sei mais, o que eu pensei, um dia, saber, e que, hoje, sei que não sei, reconheço que não aprendi.

(você precisa saber o que eu sei e, sobretudo, o que eu não sei mais.)

o dono da fala que mora em mim, o dono da fala que me habita, aquele que fala por mim, imerso em matéria tão complexa quanto a arte de entortar a linha, consegue, desse modo, reconhecer-se na beleza de ser um eterno aprendiz.

imerso em matéria tão complexa quanto a arte de entortar a linha, que nem a morte há de, um dia, endireitar.

(cantar & cantar & cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.)

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Modelos vivos. autor: Ricardo Aleixo. editora: Crisálida.)

 

 

MINHA LINHA

 

Que o dono da fala
nunca
permita que eu saia
da linha
a linha que
quanto mais torta
mais posso dizer
que é a minha

Sempre fui
meu próprio mestre
e é sem tristeza
que conto
que ainda não aprendi
nada
não me considero
pronto

Em matéria
tão complexa
quanto a arte
de entortar
a linha
que nem a morte
há de um dia
endireitar