EXPOSIÇÃO “SOMOS SOMAS” — PAULO SABINO — OI FUTURO FLAMENGO
10 de setembro de 2019

(Convite da exposição “Somos Somas”, que inaugurou no dia 5 de agosto e que encerraria no dia 15 de setembro, mas foi prorrogada até 22 de setembro)

(No entrada do centro cultural, o anúncio da exposição e o curador, Alberto Saraiva)

(Montagem do anúncio)

(Foto que originou o cartaz da entrada do centro cultural — Américo Vermelho)

(Abertura da exposição “Somos Somas”, 5 de agosto — ao fundo, painel de 11 metros de largura que reproduz parte da minha biblioteca — Fotos: Americo Vermelho)

(No painel de 11 metros de largura que reproduz parte da minha biblioteca — Foto: Americo Vermelho)

(A coordenadora geral da exposição, Shirley Fioretti, e a produtora executiva, Veralu de Andrade — Foto: Americo Vermelho)

(O assessor de imprensa do projeto, George Patiño, e a responsável pelo painel da biblioteca e anúncio da entrada do Oi Futuro, Sandra Fioretti — Foto: Americo Vermelho)

(Foto: Americo Vermelho)

(O gerente-executivo de Cultura, Roberto Guimarães, e o acadêmico Antonio Carlos Secchin — Foto: Americo Vermelho)

(O poeta e professor Eucanaã Ferraz — Foto: Americo Vermelho)

(Os poetas Jorge Salomão e Alice Monteiro — Foto: Americo Vermelho)

(Na 1ª foto, na porta da galeria; na 2ª, dentro da galeria: Mariana Roquette-Pinto, Charles Gavin, Claudia Roquette-Pinto e Paulo Henriques Britto — Foto: Americo Vermelho)

(Os poetas Eduardo Macedo e Christovam de Chevalier — Foto: Americo Vermelho)

(Os poetas Mauro Santa Cecília, Luis Turiba e Christovam de Chevalier — Foto: Americo Vermelho)

(A poeta Thereza Rocque da Motta e os poetas Cláudio Cacau e Luis Turiba — Foto: Americo Vermelho)

(A cantora, compositora e pianista Maíra Freitas — Foto: Americo Vermelho)

(O poeta Tanussi Cardoso — Foto: Americo Vermelho)

(A minha caboclinha e mãe Jurema Armond — Foto: Americo Vermelho)

(O poeta Márcio Catunda — Foto: Americo Vermelho)

(Os poetas Victor Colonna e Thassio Ferreira — Foto: Americo Vermelho)

(A poeta Rosalia Milsztajn e o poeta Salgado Maranhão — Foto: Luciana Queiroz)

(Eu e Alberto Saraiva, o curador “marlindo” que se pode querer — Foto: Luciana Queiroz)

(A entrada da galeria, com texto sobre a exposição — Foto: Luciana Queiroz)

(Dentro da galeria, público com os vídeos projetados — Fotos: Luciana Queiroz)

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Oi Futuro apresenta exposição do poeta carioca Paulo Sabino
 
Imagens de artistas e poetas como Charles Gavin, Mabel Velloso, Claudia Roquette-Pinto, Péricles Cavalcanti, Maíra Freitas, Carlos Rennó, Ricardo Silvestrin e Adriano Nunes lendo poesias de Sabino serão projetadas nas galerias do Centro Cultural a partir de 5 de agosto
 
 
O Oi Futuro inaugura dia 5 de agosto, segunda-feira, a exposição “SOMOS SOMAS”, do poeta e jornalista Paulo Sabino, dentro do Programa Poesia Visual e Digital, com curadoria de Alberto Saraiva. A exposição vai ocupar o térreo e o 2° piso do Centro Cultural Oi Futuro, no Flamengo, e tem patrocínio da Oi, Prefeitura do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, com apoio cultural do Oi Futuro.
 
“SOMOS SOMAS” alterna poemas gravados em celular pelo próprio Sabino e convidados virtuais. Charles Gavin, ex- Titãs, Mabel Velloso, Claudia Roquette-Pinto, Ricardo Silvestrin, Maíra Freitas, Péricles Cavalcanti, Adriano Nunes, Carlos Rennó, entre outros, têm suas imagens projetadas em grandes formatos. Os poemas inéditos do autor serão exibidos em três monitores, que ficam localizados no térreo do centro cultural.
 
Conhecido como agitador cultural e promotor de saraus de poesia no Rio, Sabino faz sua primeira exposição individual. Na galeria 2 do Oi Futuro, o artista convida outros amantes da palavra para participar das obras apresentadas, criando uma rede de pessoas em torno da poesia. Em um grande painel no térreo do centro cultural será reproduzida a biblioteca do artista, cenário constante em seus vídeos poéticos, postados regularmente nas redes sociais.

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(Exposição: Somos Somas. Vídeo: Painel biblioteca. Local: Centro Cultural Oi Futuro. Período de tempo: 05/08 a 22/09/2019.)

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(Exposição: Somos Somas. Edição de vídeo: Joao Oliveira, Alberto Saraiva e Paulo Sabino. Local: Centro Cultural Oi Futuro. Período de tempo: 05/08 a 22/09/2019. Poema: Um para dentro todo exterior. Autor: Paulo Sabino.)

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (10ª EDIÇÃO) — RICARDO SILVESTRIN E CONVIDADOS — O EVENTO, FOTOS, MATÉRIA & POEMA
15 de setembro de 2017

(O convite da 10ª edição do projeto Ocupação Poética — homenagem ao poeta e compositor gaúcho Ricardo Silvestrin)

(Casa cheia, público quente, que abraçou a divertida e sagaz e direta e sofisticada poesia do homenageado da noite — Foto: Luciana Queiroz)

(Casa cheia, público quente, que abraçou a divertida e sagaz e direta e sofisticada poesia do homenageado da noite — Foto: Luciana Queiroz)

(O coordenador do projeto, Paulo Sabino — Foto: Luciana Queiroz)

(O coordenador apresentando o homenageado, Ricardo Silvestrin — Foto: Luciana Queiroz)

(Ricardo Silvestrin em ação — Foto: Luciana Queiroz)

(O homenageado, mostrando o seu lado compositor, acompanhado do violonista André Barros — Foto: Luciana Queiroz)

(Antonio Carlos Secchin — Foto: Luciana Queiroz)

,

(Foto: Luciana Queiroz)

(Antonio Cicero — Foto: Luciana Queiroz)

(Foto: Luciana Queiroz)

(Luis Turiba — Foto: Luciana Queiroz)

(Foto: Luciana Queiroz)

(Noélia Ribeiro — Foto: Luciana Queiroz)

(Foto: Luciana Queiroz)

(Leoni — Foto: Luciana Queiroz)

(Foto: Luciana Queiroz)

(Eduardo Tornaghi — Foto: Luciana Queiroz)

(Foto: Luciana Queiroz)

(Tavinho Paes — Foto: Luciana Queiroz)

(Foto: Luciana Queiroz)

(Mano Melo — Foto: Luciana Queiroz)

(Foto: Luciana Queiroz)

(Salgado Maranhão — Foto: Luciana Queiroz)

(Foto: Luciana Queiroz)

(Encerrando a noite, o homenageado — Foto: Luciana Queiroz)

(Ricardo Silvestrin e Kleiton Ramil — Foto: Luciana Queiroz)

(A turma toda nos agradecimentos finais; da esquerda pra direita: Kleiton Ramil, Ricardo Silvestrin, Eduardo Tornaghi, Mano Melo, Salgado Maranhão, Tavinho Paes, Noélia Ribeiro, Luis Turiba, Antonio Carlos Secchin, Antonio Cicero, Leoni, Paulo Sabino e André Barros — Foto: Luca Andrade)

(Destaque na coluna “Gente Boa”, do carderno cultural do jornal O Globo, a 10ª edição do projeto Ocupação Poética — Fotos: Marcos Ramos)

(Destaque na coluna “Gente Boa”, do carderno cultural do jornal O Globo — Fotos: Marcos Ramos)

(Destaque na coluna “Gente Boa”, do carderno cultural do jornal O Globo, a 10ª edição do projeto Ocupação Poética — Fotos: Marcos Ramos)
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Foi lindo! Que momento, que vivência!

A cada noite como a que tivemos, na 10ª edição do projeto Ocupação Poética no teatro Cândido Mendes de Ipanema, ocorrida na segunda-feira (11/09), em homenagem ao grande poeta e letrista e cantor gaúcho Ricardo Silvestrin, o coração só faz transbordar alegria e fé na poesia, no que ela pode de afeto, de alcance, de projeção. Tá faltando Poesia no cardápio nosso de cada dia! No que depender de mim, tendo sempre esta turma da pesada juntinho de mim (porque não acredito, mesmo!, que ninguém é nada sozinho), a Poesia vem gostosa, como o prato principal de todos nós. Que assim seja!

O meu muito obrigado a todos os participantes: Antonio Cicero, Antonio Carlos Secchin, Eduardo Tornaghi, Salgado Maranhão, Tavinho Paes, Noélia Ribeiro, Leoni, Luis Turiba, Kleiton Ramil, Mano Melo; e ao público, quente, risonho e festivo. O público abraçou a bela e sagaz e direta e sofisticada poesia do Silvestrin. Uma alegria imensa. Gente que encomendou livro em site pós evento. Lindo de saber. E vamo que vamo!  Valeu demais!

Aos interessados, deixo, na íntegra, o poema que fez sucesso na voz do cantor e compositor Leoni e que foi citado (ver fotos acima) na matéria jornalística.

Dia 13 de novembro acontece a 11ª edição do projeto. Mais à frente, maiores informações.

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do livro: Metal. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Artes e Ofícios.)

 

 

deus descansou
e esse foi o seu vacilo
achou que o jogo estava ganho
e o mundo então deu naquilo
deus lavou as mãos
disse se virem
já fiz a minha parte
pensam que é mole
tirar um mundo da cartola
se querem perfeito
nada feito
tô fora
e se foi pelo infinito
sem dar ouvidos
aos gritos
de deus do céu
deus nos proteja
deus nosso senhor
onde anda
por hoje o criador
pelo universo
de banda
gozando a aposentadoria
que ganhou em sete dias
fez um mundo imperfeito
mas bate no peito
e diz
se não gostarem
façam outro
devolução não aceito
já fiz o homem
à minha imagem e semelhança
pra continuar
no meu lugar
a lambança

MONTANHA-RUSSA
14 de abril de 2015

Montanha-russa
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a vida é um sobe & desce constante, os seus altos & baixos, ladeiras contínuas, uma gangorra sentimental, montanha-russa vertiginosa: em alguns momentos da descida, a impressão de que o carrinho descarrilhou, perdendo o seu curso & mergulhando num fosso sem fim: fossa funda, agonia atroz.

todavia, num dado momento do mergulho no breu, a percepção de que os trilhos sempre estiveram por debaixo do carrinho, só não estavam à vista (o fosso é um escuro absoluto), e, como em toda montanha-russa, em determinado trecho, a trajetória ganha de volta a sua ascensão. o carrinho, mais uma vez, e aos poucos, ganha fôlego & força & é impulsionado ao topo.

à montanha-russa que me cabe, caibam sempre subidas & descidas, altos & baixos.

é o que está certo.

e que o carrinho, nas descidas ainda por vir percurso afora, nunca descarrilhe, sempre esteja apto às alturas.

é o que está certo.

a vida gosta de quem gosta da vida.

(eu sou um que gosta.)

beijos todos!
paulo sabino.
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(Do livro: O menos vendido. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Nankin Editorial.)

 

 

57.

 

ninguém está a salvo da tristeza
no horizonte nuvens negras
ventos anunciam confusão
mesmo na alma mais ensolarada
nem o rei do que quer que seja
do alto do seu trono de alegria
servos devotados
em fazê-lo sorrir cinco vezes por dia
nem o mestre mais desapegado
quando vê está triste
como um corvo num galho seco
contra o céu cinza

 

58.

 

ainda menino
se descobre lá dentro
o guerreiro
pra lutar contra o destino
armado de escudo e uma espada
dentro do corpo franzino
segue valente
enfrentando o que vier pela frente
o menino cresce
fica homem
e tudo que chorou
e tudo que sorriu
numa conta de subtração
vai dizer a sua sorte
mas a morte só vem
quando um tiro certeiro
derruba não o homem
mas o guerreiro

À VIDA SEM SENTIDO: POESIA
4 de novembro de 2014

Atins_Lençóis Maranhenses

082 2

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se passar a vida, como um detetive, procurando, investigando, o sentido de cada palavra que o infinito, que é a existência, guarda, de cada palavra que é lançada no mundo, se passar a vida, como um detetive, procurando, investigando, o sentido de cada cabeça, de cada cuca pensante, que não passa de uma cabeça de fósforo, pequena, de luminosidade fugaz, incapaz de compreender a existência no seu todo, se passar a vida, como um detetive, procurando, investigando, o sentido de cada estrela mirada da janela do apartamento ou de um foguete (caso embarque em viagem espacial), a vida se foi, a vida passou, e o sentido não veio, o sentido não chegou.

porque a nossa cabeça, de fósforo, é deveras pequena & de luminosidade efêmera para abrigar entendimento tão imenso que é o da existência.

indo inda mais fundo: e será que há algum entendimento a ser buscado, a ser revelado? será que há alguma coisa a ser compreendida?

o mundo, que, segundo a ciência, nasceu da explosão de uma estrela numa sucessão de acasos, de erros (por isso a vida é errância), de mutações aleatórias, passados bilhões & bilhões de anos chegou onde chegou — até aqui.

será que ao mundo cabe entendimento, compreensão?…

o mundo não está aí para ser entendido, o mundo está aí para ser vivido.

o mundo não está aí para virar poesia, o mundo está aí para ser vivido — embora as coisas, no mundo, pareçam estar em estado de poesia.

o mundo não está aí para virar poesia, embora a árvore, com suas forma & cor & beleza plástica, sempre parada, aguarde em silêncio, apta a ser fotografada. o mundo não está aí para virar poesia, embora o gato preto de patinhas brancas ande sempre com seu melhor traje (o traje: a sua pelagem feita sob medida, como se um black tie). o mundo não está aí para virar poesia, embora os pássaros, em vôo sincronizado no céu, denunciem, pela perfeição dos movimentos, que ensaiaram durante horas (um ensaio sem pretensões de estréia).

o mundo não está aí para virar poesia, mas o vento orquestra uma sinfonia muda (com os sons que suscita a sua passagem), os panos — à passagem do vento — dançam pendurados nas janelas, as formigas — fingindo trabalhar — desfilam, com suas folhas verdes, alegorias de mão, e mesmo as paredes se deixam cobrir de limo & descascam voluntariamente (sem esforço contrário), em permanente exposição (como se num museu ou centro cultural), expostas às artes & artimanhas do tempo em sua casca.

o mundo não está aí para virar poesia, o mundo está aí para ser vivido — embora as coisas, no mundo, pareçam estar em estado de poesia.

a fim de que a vida vivida ganhe um brilho ainda mais vívido, à vida sem motivo & sentido:

poesia!

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Metal. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Artes e Ofícios.)

 

 

se passar a vida
como um detetive
procurando o sentido
de cada palavra
que guarda
o infinito
de cada cabeça
que não passa
de uma cabeça
de fósforo
de cada estrela
mirada da janela
do apartamento
ou de um foguete
a vida se foi
e o sentido não veio

 

 

o mundo não está aí pra virar poesia
embora a árvore parada aguarde em silêncio
pronta pra ser fotografada
o gato de preto e punhos bancos
ande sempre com seu melhor traje
e os pássaros em vôo sincronizado
denunciem pela perfeição dos movimentos
que ensaiaram durante horas

o vento orquestra uma sinfonia muda
os panos de chão dançam pendurados nas janelas
as formigas
fingindo trabalhar
desfilam com suas folhas verdes
alegorias de mão
e mesmo as paredes se deixam cobrir de limo
descascam voluntariamente
em permanente exposição

LANÇAMENTO DO LIVRO “ANTÍPODAS TROPICAIS”, DE ADRIANO NUNES
20 de maio de 2014

Antípodas Tropicais_Adriano Nunes_Convite

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prezados,

acima, o convite para o lançamento do mais novo rebento do poeta que, desde sempre, desde que conheci a sua poesia (e tornamo-nos amigos ao mesmo tempo), considero o mais importante da minha geração, da geração que começa a despontar na poesia: o meu queridíssimo & amado poeta das alagoas, adriano nunes!

no mês de aniversário do poeta, quem ganha o presente somos nós, leitores de poesia!

adriano nunes lança o seu mais novo livro, intitulado “antípodas tropicais“, pela editora vidráguas, comandada pela querida poeta & mestra carmen silvia presotto, no dia 28 de maio, às 11h, na editora & livraria Edufal, localizada no campus da universidade federal de alagoas, em maceió.

antípodas tropicais” conta com capa do artista plástico gal oppido, prefácio do professor & poeta alberto lins caldas, orelhas do poeta gaúcho & integrante da banda “os poETs” ricardo silvestrin, e textos críticos do poeta, filósofo & letrista antonio cicero, do professor, crítico literário, poeta & membro da academia brasileira de letras (abl) antonio carlos secchin, e do poeta & compositor arnaldo antunes.

abaixo, trechos dos textos escritos pelos poetas acima citados & vídeo com o poeta & compositor arnaldo antunes recitando um poema do livro “antípodas tropicais“, de adriano nunes.

a poesia agradece a chegada de “antípodas tropicais” & eu saúdo a chegada de adriano nunes, o meu poeta das alagoas, na minha vida & na literatura brasileira!

aos interessados em comprar o livro “antípodas tropicais“, entrar em contato com a carmen silvia presotto pelo site vidráguas (http://vidraguas.com.br/wordpress/).

beijo todos!
paulo sabino.
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“Ao ler, em Antípodas tropicais, poemas em que admiravelmente convivem espontaneidade e virtuosismo, invenção e técnica, ousadia e erudição, inteligência e sensibilidade, fiquei feliz de poder não apenas confirmar, mas reforçar, minha convicção de que se encontra, em Adriano Nunes, um poeta contemporâneo que faz juz à melhor tradição da poesia brasileira.”

(Antonio Cicero – poeta, filósofo & letrista)

 

“Se fosse um verso, Antípodas tropicais teria  sete sílabas. E é no andamento do verso curto que Adriano Nunes, neste novo livro, alcança excelentes  resultados. Nele avulta a rigorosa consciência da forma não apenas em seus sinais externos – a  consistente prática do  soneto, por exemplo – mas no domínio rítmico, na amplitude vocabular. Tudo isso, porém, ao largo do mero virtuosismo, pois Adriano conjuga a técnica a um efetivo e intenso temperamento lírico-meditativo, na insaciada  e inestancável  busca do outro, ainda que esse outro resida no próprio eu. A metalinguagem, que em muitos poetas se restringe a receitas domesticadas, em Antípodas tropicais  comparece viva e vigorosa, lançando-se sem cessar  ao ‘precipício de sentidos’,  destinação derradeira de todo poema.”

(Antonio Carlos Secchin – professor, poeta, crítico literário & membro da ABL)

 

“É impressionante a desenvoltura com que Adriano Nunes passeia pelo amplo repertório de formas, sempre com competência e intimidade no trato com a linguagem, mantendo ao mesmo tempo uma voz própria, original, cheia de belos achados.”

“Passeando com intimidade e destreza por diferentes ritmos e tons de discurso – da austeridade clássica à coloquialidade modernista, do metro preciso ao verso livre e deste às experiências mais construtivistas – , Adriano Nunes parece uma síntese impossível entre o poeta lírico e o formalista. De suas rimas raras, aliterações e inversões sintáticas, salta sempre uma surpresa, uma solução imprevista, um deslumbre sonoro-semântico que potencializa a linguagem.”

(Arnaldo Antunes – poeta & compositor)

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(vídeo do site: Youtube. Arnaldo Antunes recita “Noite avulsa“, poema de autoria de Adriano Nunes, integrante do livro “Antípodas Tropicais“, editora Vidráguas.)

RECOMEÇO
6 de janeiro de 2014

Mar_Ri Mar

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o início de mais um ano: 2014.

mais um recomeço.

recomeço sempre pela palavra, como deus começou pelo verbo.

recomeço, contando o tempo (o tempo da palavra, para a música dos versos), e a palavra encontra seu par: a palavra “rimar” com a palavra “ritmar”.

da palavra, contar o seu tempo, para que ela encontre o seu devido par & realize a música dos versos: rimar & ritmar.

recomeço no mar, meu amante maior, minha fascinação derramada, como a vida veio da água (pesquisas científicas apontam que os primeiros indícios de vida no planeta vieram da água do mar), como o feto, início de todos nós, também: durante 9 meses, a imersão em ambiente aquoso (na bolsa amniótica, que protege o feto de choques térmicos & mecânicos): quando fetos, antes de andar, aprendemos a nadar.

quando fetos, primeiro, NAdar. ANdar, isto é, trocar de meio, trocar a água pela terra firme (assim como as palavras, que trocam de sentido na mudança de duas letras, da  “N” & da “A”), depois.

no início de todos nós, no começo de tudo, primeiro, NAdar. ANdar, depois.

recomeço no mar: o mar ri. ri, mar.

o mar ri ao rimar o seu azul com as belas ilhas do sul, que realçam ainda mais a beleza da paisagem.

ao ritmar, o mar ri & faz-se rimar.

recomeço em mim mesmo, no rito da passagem anual, de onde sempre parto: de onde sempre nasço, de onde sempre me invento, de onde sempre me gesto.

recomeço em mim mesmo, de onde sempre parto: de onde sempre me lanço, de onde sempre me retiro, de onde sempre me desloco, de onde sempre vou embora.

recomeçar em mim mesmo: parir & partir.

parir & partir: nascer, renascer (com as transformações operadas caminho afora) & deslocar-se sempre, propondo-se a novos & inusitados desafios.

parir & partir: nascer, renascer (com as transformações operadas caminho afora) & quebrar, fragmentar-se, despedaçar-se, propondo-se a novas & inusitadas colagens.

(parir & partir: da palavra, contar o seu tempo, para que ela encontre o seu devido par & realize a música dos versos.)

um ótimo 2014 para nós!

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: O menos vendido. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Nankin Editorial.)

 

 

Recomeço sempre na palavra
como deus começou pelo verbo.
Recomeço contando o tempo
e a palavra encontra seu par:
rimar e ritmar.
Recomeço no mar
como a vida
veio da água
como o feto
antes de andar
aprendeu a nadar.
O mar ri. Ri, mar. E ritmar.
Recomeço em mim mesmo
de onde sempre parto.
Parir e partir.
Sair e quebrar.

BASHÔ BAIXOU NO SAMBA-ENREDO: CARNAVAL
11 de fevereiro de 2013

Cristiano Marinho & Paulo Sabino_Boitatá 2013

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e eis que a folia momesca atravessa o brasil de norte a sul, leste a oeste.

no “prosa em poema” não seria diferente.

o “samba-enredo” que aporta faz uma homenagem a matsuo bashô, o grande mestre inventor do haicai que conhecemos hoje.

bashô viveu como um guerreiro samurai durante os seus 23 primeiros anos de vida. com a morte do seu mestre, dedicou-se basicamente ao zen budismo & à poesia, recriando o haicai (com novos temas) & tornando-se um monge peregrino, viajante em busca de respostas às suas indagações existenciais.

nas suas tantas viagens, bashô dedicava-se a escrever diários, guardando, assim, as paisagens & impressões dos lugares por onde passava. “sendas de oku” é um dos mais famosos diários escritos por bashô.

dos poemas, o mais célebre é o “haicai da rã” (ou “haicai do sapo”), onde bashô descreve o salto de uma rã/um sapo (em japonês, a palavra “kawazu” pode significar tanto “sapo” quanto “rã”) num lago de água parada, produzindo, com o salto anfíbio, o movimento do que, antes, imóvel, inanimado (a água do lago), a expansão do movimento da água em círculos concêntricos:

assim como a água do lago, antes parada & depois em movimento com o salto da rã/do sapo, nossa consciência deve saltar por sobre o silêncio (mundo mudo, que nada nos diz & que, portanto, recebe a nossa interpretação acerca do que ele é) & expandir-se como expande o movimento dos círculos concêntricos na água, em sucessivas ondas de associações.

depois do mestre, outros grandes poetas japoneses dedicaram-se a transmitir o legado deixado por bashô, como os poetas kobayashi issa (1763 – 1827) & takoboku ishikawa (1885 -1912), fazendo com que o haicai atravessasse 3 séculos de existência.

baixou bashô no terreiro! baixou bashô no pandeiro! na sapucaí, carnaval, saltou o sapo a noite inteira!

um belo carnaval é o que o “prosa em poema” deseja aos senhores!

divirtam-se!

beijo todos!
paulo sabino.

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(do livro: O menos vendido. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Nankin Editorial.)

 

 

SAMBA-ENREDO

Desci o monte Fuji
e hoje vim cantar na avenida
a história do monge que foi soldado
no início da sua vida.
Nesta noite de esplendor,
lembro o mestre-samurai,
o maestro do silêncio
(sem lenço e sem documento)
inventor do nosso haicai.
Bashô, Bashô,
baixou Buda no terreiro.
Saltou, saltou,
saltou o sapo muambeiro.
Deixou, deixou,
nesse salto o seu mistério.
Peguei as sendas de Oku
e caí na Sapucaí.
Virei Issa e Takoboku,
há três séculos estou aqui.
Rezei a primeira missa,
na segunda me perdi,
seguindo o mestre Bananeira
como o mestre-sala
segue a porta-bandeira.
Bashô, Bashô,
baixou Buda no pandeiro.
Saltou, saltou,
saltou o sapo a noite inteira.
Deixou, deixou,
em três versos um samba-enredo:

céu de fevereiro
quem tem samba no pé
se ilumina primeiro

OS GUARDADORES
17 de maio de 2012

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a seguir,
 
versos muito criativos espertos divertidos, que fazem, evidentemente, uma contraposição (bem arquitetada & bem-humorada) aos versos proferidos por alberto caeiro, célebre heterônimo do maior poeta da língua portuguesa, o genial fernando pessoa, heterônimo conhecido por sua poética sempre ligada a uma vida no interior, longe dos centros urbanos, mais perto da natureza, junto a prados & montanhas & flores & pássaros & riachos, heterônimo anti-metafísico, crente numa existência afastada dos pensamentos (o que, segundo caeiro, problematiza & complica as nossas vidas) & intimamente conectada às sensações corpóreas (tato, visão, audição, sabor, fragrância), sensações despertadas pelo convívio com as coisas mundanas (prados & montanhas & flores & pássaros & riachos), autor de um livro intitulado “o guardador de rebanhos”.
 
a seguir,
 
versos que se contrapõem aos de caeiro, mas que, ao mesmo tempo, fazem alusão ao guardador de rebanhos: “o guardador de carros”: um homem da cidade, longe da vida bucólica idealizada junto a paisagens rurais, que transita em meio a carros, ladrões de carros, gorjetas & arranhões na lataria dos veículos.
 
apesar da contraposição “cidade X campo” (o que, por si só, acaba por gerar uma divergência temática), os poemas que formam “o guardador de carros” referem-se diretamente aos poemas reunidos por alberto caiero em “o guardador de rebanhos”, havendo, desse modo, uma aproximação entre os guardadores:
 
o primeiro poema da série do guardador de carros faz menção ao poema IX do pastor português, onde dizem os versos primeiros: 
 
 
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações. 
 
 
o segundo poema do conjunto faz menção ao poema V, um clássico de alberto caeiro, que inicia já com o impactante & conhecido verso:
 
 
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
 
 
o terceiro poema do guardador de autos faz menção ao poema XIV, onde afirma o guardador de rebanhos:
 
 
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
 
 
o quarto poema refere-se a um outro clássico de caeiro, o célebre poema VIII, em que é narrada a vinda, em sonho, do menino jesus (peralta, muito arteiro) à terra:
 
 
Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
 
 
e o quinto & último poema do guardador de carros refere-se a um também famoso poema, o de número X, do guardador de rebanhos:
 
 
“Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?”
 
“Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois (…).”   
 
 
deliciem-se com esta saborosa & esperta homenagem do poeta ricardo silvestrin ao grande mestre fernando pessoa, aproveitando para reler (aqueles que já conhecem sua obra) os poemas do pastor português, o que — todos sabem — sempre vale o tempo empregado.
 
(ricardo silvestrin, eis aqui o seu presente de aniversário.)
 
beijo em todos!
um outro, especial, no aniversariante do dia!
paulo sabino.
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(do livro: O menos vendido. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Nankin Editorial.)
 
 
 
O GUARDADOR DE CARROS
 
 
1
 
Sou um guardador de carros,
e eles são todos meus
no meu pensamento.
Durante as festas e espetáculos,
abandonados por seus donos,
só têm a mim,
o pastor deste rebanho.
Estão bem cuidados,
mas se uma ovelha negra
não dá gorjeta,
o meu cajado arranha.
 
 
2
 
Um carro anda sem metafísica:
um pé no acelerador,
outro na embreagem,
mão esquerda no volante,
mão direita na mudança.
E a cabeça não vai nele.
Vai sozinha
a quilômetros de distância.
 
 
3
 
Nenhum ramo é igual a outro,
mas os carros são feitos em série.
Só daqui de onde estou,
vejo quatro gols pretos
como monótonas rimas.
Mas não sou poeta.
Sou arrimo.
 
 
4
 
Meninos Jesus voltou à Terra,
e eu lhe ensinei a guardar carros.
“Tá bem cuidado, tio” — ele disse,
escondendo os pregos das mãos.
 
 
5
 
“Olá, guardador de carros!”
São os ladrões se aproximando.
“Nunca guardei carros”,
eu respondo.
“Estou aqui como os postes e as árvores.
Não vejo, não ouço, não penso.
Sem falar numa grande vantagem:
posso correr como o vento.”

UM NOVO PLANO, UM NOVO ÂNGULO: E NUNCA ESQUECER O POEMA
3 de abril de 2012

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decantar os sentimentos.
 
separar, dos sentimentos, os “sedimentos” que sobram, separar, dos sentimentos, as “impurezas” que restam.
 
afinal, nem tudo que se sente é de cantar. nem tudo que se sente é para compartilhar. nem tudo que se sente é para repartir, alastrar em verso.
 
decantar o que é de cantar.
 
depois do processo de decantação, após o processo de filtragem dos sentimentos, recolher, no fundo do recipiente, o mais pesado que o ar (o resíduo que fica de um sentimento), antes que voe. 
 
recolher, no fundo do recipiente após a decantação, o mais pesado que o ar, que, apesar de ser “o mais pesado que o ar” (o resíduo que fica de um sentimento), pode voar. 
 
recolher “o mais pesado que o ar”: recolher aquilo que pesa, recolher aquilo que, por falta de leveza, incomoda, recolher aquilo que, por falta de airosidade, importuna. 
 
captar o resíduo (mais pesado que o ar) no recipiente, antes que voe (antes que seja perdido, antes que seja tarde demais), e  ampliar na microlente (do viver) o desconforto — evidente — entre a vida que se leva & a que não se sabe se virá.
 
entre a vida que levamos & a vida desejada, existe uma diferença (tremenda), evidentemente. e essa diferença (entre o desejo de uma vida & a vida como ela é) acaba por trazer um certo desconforto existencial.
 
o desconforto existencial: peso que resta no fundo do recipiente.
 
a fim de que a balança se equilibre (o desejo de uma vida X a vida como ela é), em caso de “grande” (a medida do desconsolo cabe a cada um de nós) desconforto existencial (porque algum desconforto teremos inevitavelmente; somos seres insatisfeitos por natureza), inventar um novo plano, como no cinema (plano: trecho de filme ou de gravação de vídeo feito com uma única tomada, sem cortes), inventar, como no cinema, um novo ângulo (posição da câmera em relação ao objeto em foco, em cena), inventar fotografias, inventar novos enquadramentos, como no cinema, que tudo se transforma pelo olhar.
 
o olhar & seu grande poder transformador: tudo depende do modo como enxergamos, tudo varia de acordo com a maneira que encaramos, as “cenas” do grande filme que vamos montando, plano único, sem cortes & sem direito a emendas. 
 
o olhar também é feito de escolhas, ainda que muito profundas, ainda que imperceptíveis conscientemente.
 
pode-se olhar o vôo de um pássaro no céu azul & ignorá-lo por inteiro. pode-se olhar uma flor (a forma da sua corola, determinada pelo desenho das pétalas) & não estar atento a ela. pode-se avistar o sorriso solto, espontâneo, de uma criancinha na rua & tal sorriso não significar coisa alguma.
 
o olhar é feito, sobretudo, de escolhas (conscientes ou não).
 
em prol de um novo plano-seqüência (como no cinema), e também em prol de um novo plano, isto é, em prol de uma nova proposta, de um novo propósito, de uma nova idéia, em prol de um novo ângulo (que tudo se transforma pelo olhar), não vá esquecer este poema como se esquecem os nomes, um encontro, o número do telefone.
 
não vá esquecer este poema (e pensar que o que peço é um paradoxo, já que tudo, na vida, é esquecimento. lembramos, recordamos, porque, sobretudo, esquecemos, deslembramos).
 
não vá esquecer, e tudo é esquecimento — exceto o que pulsa & impulsiona para frente…
 
fica-nos o que nos importa. fica-nos o que nos exporta.
 
(que o poema pulse & nos impulsione para frente!)
 
leve este poema consigo. guarde na carteira. cole no espelho.
 
(a gente nunca sabe quando vai precisar…)
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: O menos vendido. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Nankin Editorial.)
 
 
 
decantar os sentimentos
nem tudo que se sente
                             é de cantar
 
recolher no fundo
do recipiente (antes que voe)
o mais pesado
                             que o ar
 
ampliar na microlente
o desconforto, evidente,
entre a vida que se leva
e a que não se sabe
                             se virá
 
inventar um novo plano,
como no cinema, um novo ângulo,
que tudo se transforma
                             pelo olhar
 
 
 
Não vá esquecer este poema
como se esquecem os nomes
um encontro
o número do telefone
Não vá esquecer
e tudo é esquecimento
(exceto o que pulsa
o que impulsiona pra frente)
Leve este poema consigo
guarde na carteira
cole no espelho
A gente nunca sabe
quando vai precisar de um poema

MEMÓRIAS DE OUTRAS VIDAS
17 de maio de 2011

na hora da morte, dizem, passa tudo num filme.

contam também que um homem, que não guardava nomes, que um homem, que o aniversário da esposa quase esquecia, um homem, que trocava o ano do cheque, como quase não tinha memória, sem saída, à hora da sua morte inventou as memórias; sem saída, um homem — que quase não tinha memória — inventou as memórias de outras vidas.
 
as memórias de outras vidas:
 
da exímia matadora de galinhas;
do capanga-feitor entediado;
do cangaceiro que, fora do cangaço, é um fracasso;
do/da babalorixá que “recebe” um santo poeta;
do pescador que é fisgado tal & qual o que acaba por fisgar;
do boiadeiro mal agourado;
do ilhéu que vira semente;
do bobo da corte que ganha a realeza;
do poeta & os seus manuscritos;
do maquinista que vira aviador;
da vendedora de flores que engana a morte;
do soldado que, na guerra, sente falta do “sentido!” mais sem sentido que até então havia escutado.
 
deliciem-se com estas memórias de vidas dispostas na vida dos versos!
 
regalem-se com estas memórias-poemas!
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: O menos vendido. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Nankin Editorial.)
 
 
 
 
MEMÓRIAS DE OUTRAS VIDAS
 
 
 
1
 
Trançava as mãos
no pescoço da galinha 
até estalar.
Deixava o sangue escorrer,
limpava, esquartejava.
Perdera as contas
de quantas.
Era uma santa,
todos diziam.
Mas seu marido
morreu moço
com um laço na garganta.
 
 
 
2
 
Chibata no lombo
de nego do Congo.
Chibata na bunda
de nego quimbundo.
Sal grosso na afta
de nego da África.
 
Um dia, veio a abolição
e sem remédio pro seu tédio
matou os filhos, a mulher e o irmão.
 
 
 
3
 
No cangaço,
vivia dando cagaço,
arrebentando cabaço,
à força, no laço.
Era um macho de ferro,
de aço.
Olhava o impossível
e dizia faço.
 
Fora dali,
era um fracasso.
 
 
 
4
 
Galinha preta
na lua de prata.
Galinha crua
na encruzilhada.
Galinha cozida
na noite descida.
 
Trabalho pro bem
tem dente de alho.
Trabalho pro mal
cal, mel, sem barulho.
 
Pelo tom da receita,
o santo é poeta:
se o som é bom,
entra qualquer bagulho.
 
 
 
5
 
Puxava o peixe
e hesitava entre tirar o anzol
da boca triste
e o êxito de voltar antes do sol
com o troféu que era só seu.
Mas a boca do estômago
sempre falava mais alto.
 
À noite,
a mulher o fisgava
com uma língua de anzol.
E sua boca de peixe
dizia “não me deixe”.
 
 
 
6
 
Toca o boi
com a boca:
ê, boi!
Toda vida
pouca
tocando
até o juízo final
no matadouro.
Um dia
uma ave
de mau agouro
repetiu o refrão
com ele em coro:
ê, boi!
Morreu chifrado
por um touro.
 
 
 
7
 
Vento sul,
céu azul.
Vento norte,
chuva forte.
Vento leste
traz a peste.
 
Morava na ilha
desde que a enchente
levou sua mulher
e sua filha.
Sem gente atrás,
ao lado, à frente,
foi lá que um dia
virou semente.
 
 
 
8
 
Guizos.
Roupa xadrez.
Trocava comida
por meia dúzia
de risos.
No fim do mês,
pagava
o que fosse preciso.
E bebia o resto.
 
Até que o rei,
num lindo gesto,
criou o novo Reino
da Alegria.
E o bobo
entrou pra história
como o primeiro
rei que ria.
 
 
 
9
 
Contava sílabas
enquanto os outros
contavam dinheiro.
 
Tocava sua lira
enquanto os outros
tocavam a vida.
 
Séculos depois
acharam a sua obra
escrita pra nada.
 
E nos seus manuscritos
a vida dos outros
foi enfim decifrada.
 
 
 
10
 
Trilava o apito
e o trem
tilintava nos trilhos.
 
No vagão não se vaga.
Varava a madrugada
sem mudar a direção.
 
Quando se aponsetou,
comprou um avião.
 
 
 
11
 
Rosa azul,
celofane cor de rosa
pra melhorar
o humor do finado.
Ano após ano,
na porta do cemitério,
nem morta nem viva
juntando os trocados.
Numa noite veio a foice,
mas ela não se foi.
Vendera flores
ao pobre diabo.
 
 
 
12
 
Sentido!
O comandante exclamava,
mas ele ouvia uma pergunta:
sentido?
Já que ninguém respondia,
trezentos apoios por dia.
Até que veio a guerra,
e ele foi pagar apoio aos aliados.
Como nunca tinha sentido antes,
sentiu saudades
do comandante.
 
 
 
13
 
Na hora da morte,
ele sabia,
passa tudo num filme.
Mas é tarde demais
pra escrever.
Não guardava nomes,
quase esquecia
o aniversário da esposa,
trocava o ano no cheque.
Sem saída,
inventou as memórias
de outras vidas.