OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (7ª EDIÇÃO) — HOMENAGEM A JORGE SALOMÃO — 70 ANOS DE POESIA PURA
23 de setembro de 2016

(Mais um participante confirmado para esta edição do projeto: é o filósofo, poeta & letrista Antonio Cicero.)

 

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(O homenageado da noite, o poeta, letrista & agitador cultural Jorge Salomão — Foto: Elena Moccagatta)

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(Roberto Frejat)

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(Antonio Cicero)

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(Christovam de Chevalier — Foto: Elena Moccagatta)

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(Patrícia Mellodi)

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(Sheila da Silveira)

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(Paulo Sabino & Jorge Salomão)

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(Matéria do suplemento Zona Sul, do jornal O Globo, sobre a 7ª edição do projeto Ocupação Poética)
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Anotem na agenda, espalhem a notícia, compartilhem esta publicação!

Dia 26 DE SETEMBRO (segunda-feira), às 20H: a 7ª edição do projeto OCUPAÇÃO POÉTICA, coordenado por PAULO SABINO, no teatro CÂNDIDO MENDES (Ipanema – Rio de Janeiro), em comemoração aos 70 ANOS DE VIDA do GRANDE poeta, letrista & agitador cultural JORGE SALOMÃO.

Na noite, prestaremos uma homenagem ao JORGE SALOMÃO lendo vários dos seus BELOS poemas da sua CONSAGRADA carreira.

Além da participação do poeta homenageado & da participação deste que vos escreve, o Paulo Sabino, o evento contará também com as participações para lá de especiais:

— do cantor & compositor ROBERTO FREJAT;
— do filósofo, poeta & letrista ANTONIO CICERO;
— do poeta & jornalista CHRISTOVAM DE CHEVALIER;
— da cantora & compositora PATRÍCIA MELLODI;
— da poeta SHEILA DA SILVEIRA.

 

26 DE SETEMBRO (segunda-feira), às 20H, no teatro CÂNDIDO MENDES (Ipanema – Rio de Janeiro): a 7ª edição do projeto OCUPAÇÃO POÉTICA.

Coordenação do projeto: PAULO SABINO.

Esperamos todos!

 

SERVIÇO

Ocupação Poética – Teatro Cândido Mendes

Coordenação: PAULO SABINO

Segunda-feira (26/09)

Participantes: PAULO SABINO, JORGE SALOMÃO, ROBERTO FREJAT, ANTONIO CICERO, CHRISTOVAM DE CHEVALIER, PATRÍCIA MELLODI, SHEILA DA SILVEIRA

Horário: 20h
Entrada: R$ 40,00 (inteira) / R$ 20,00 (meia)
Vendas antecipadas na bilheteria do teatro
End.: Joana Angélica, 63 – Ipanema, Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2523-3663.

 

LISTA AMIGA (MEIA-ENTRADA):

Queridos & Queridas,

A lista amiga deste evento, a 7ª edição do projeto Ocupação Poética no teatro Cândido Mendes, em homenagem ao poeta, letrista & agitador cultural Jorge Salomão, dia 26/09 (segunda-feira), garante apenas o preço da meia-entrada (R$ 20,00), não garante o ingresso na bilheteria (em caso de lotação).

A lista amiga serve àqueles que:

1) não possuem CARTEIRA DE ESTUDANTE;
2) não possuem CARTEIRA DE PROFESSOR;
3) não possuem CARTEIRA DO CINE SANTA TERESA;
4) não possuem ACIMA DE 65 ANOS.

Se você se enquadra em algum dos quesitos acima (possui, ou carteira de estudante, ou a de professor, ou a do Cine Santa Teresa, ou possui acima de 65 anos), você NÃO PRECISA do nome na lista amiga.

Os que queiram pagar meia-entrada (R$ 20,00) & não possuem as carteiras citadas acima nem mais de 65 anos, por favor, deixem os nomes nos comentários desta publicação.

Até lá! Até já!
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(autor dos versos: Jorge Salomão.)

 

 

PSEUDO-BLUES

 

Dentro de cada um
Tem mais mistérios do que pensa o outro
Uma louca paixão avassala a alma o mais que pode
O certo é incerto, o incerto é uma estrada reta
De vez em quando acerto
Depois tropeço no meio da linha

Tem essa mágica
O dia nasce todo dia
Resta uma dúvida
O sol só vem de vez em quando
O certo é incerto, o incerto é uma estrada reta
De vez em quando acerto
Depois tropeço no meio da linha
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Virgem. artista & intérprete: Marina Lima. canção: Pseudo-Blues. música: Nico Rezende. poema: Jorge Salomão. gravadora: Universal Music.)

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO): OS VÍDEOS III
29 de setembro de 2015

Paulo Sabino_10 de Setembro 2015

(Paulo Sabino)

Claufe Rodrigues_10 Setembro 2015

(Claufe Rodrigues)

Mauro Sta Cecília_10 Setembro 2015

(Mauro Sta Cecília)
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Aos interessados, mais 6 vídeos da 2ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido nos dias 9 (quarta-feira) & 10 (quinta-feira) de setembro, no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de 4 feras da poesia contemporânea: Luis Turiba, Cristiano Menezes, Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues!

Nos vídeos que seguem, os participantes do segundo dia do projeto, 10/09, os poetas Claufe Rodrigues & Mauro Sta Cecília. Ambos recitam poemas da própria autoria.

Eu recito, no meu primeiro vídeo, um poema de um dos meus grandes conselheiros na poesia, o imprescindível Armando Freitas Filho, e no meu segundo vídeo recito um poema que descobri ter virado canção há pouco tempo, poema do querido amigo (participante da 1ª edição deste projeto) Antonio Cicero.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita A mão que escreve, poema de Armando Freitas Filho.)

 

(Armando Freitas Filho)

A mão que escreve
na mesa burocrática
não pode sonhar e
escrava, se arrasta
no deserto, ao rés do chão
através de resmas e lesmas
a léguas de qualquer relva
e só serve minutas
adendos e remendos
tudo em formato ofício
em papel-timbrado
enquanto o poema, ao longe
tenta, em cada entrelinha
levantar voo, a cabeça
como uma águia
feito uma onda.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita Consegui, poema de Antonio Cicero.)

 

CONSEGUI  (Antonio Cicero)

eis o que consegui:
tudo estava partido e então
juntei tudo em ti

toda minha fortuna
quase nada tudo muitas coisas
numa

só:
eu quis correr esse risco antes de virar
pó:

juntar tudo em ti:
toda joia todo pen drive todo cisco
tudo o que ganhei tudo o que perdi

meu corpo minha cabeça meu livro meu disco
meu pânico meu tônico
meu endereço
eletrônico

meu número meu nome meu endereço
físico
meu túmulo meu berço

aquela aurora este crepúsculo
o mar o sol a noite a ilha
o meu opúsculo

meu futuro meu passado meu presente
meio aqui
e meio ausente

meu continente meu conteúdo
e além de todo o mundo
também tudo o que é imundo tudo

o medo e a esperança
algo que fica
algo que dança

o que sei o que ignoro
o que rio
e o que choro

toda paixão
todo meu ver
todo meu não

tudo estava perdido e aí
juntei tudo
em ti ______________________________________________________

(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Claufe Rodrigues recita Como reconhecer um poeta, poema de sua autoria.)

 

COMO RECONHECER UM POETA  (Claufe Rodrigues)

Nem todo sujeito estabanado é poeta

mas com certeza todo poeta é um ser estabanado.

Se senta sempre do lado errado

tropeça na peça mais cara da mobília

se bobear beija a mãe, a vó e a filha

está sempre em guerra com a braguilha

bebe cachaça  na taça de vinho

corteja a mulher do vizinho

sonha com um ninho de gatas

louras, ruivas e mulatas

mas acorda sempre sozinho.

O poeta só não é um desastre

…………quando escreve, quando fala,

……………………quando escala os altos cumes

……………………………….da língua.

Ali ele é o perito, o eleito,

o cara perfeito que toda sogra quer ter na família.

Até o rabisco é risco calculado

compasso de música, exato

como o símbolo do infinito.

Nas altas esferas, o poeta doma todas as feras,

domina a intensidade de cada grito.

Captura, em essência,

o que dizem as nuvens,

quando chovem no cio.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Claufe Rodrigues recita Todo poema, de sua autoria, que, depois de publicado em livro, foi rebatizado pelo poeta amazonense Thiago de Mello com o título Floresta.)

 

FLORESTA  (Claufe Rodrigues)

Todo poema grita

cada palavra é um pedido de socorro

na gruta infinita da boca

E há um adeus em qualquer sílaba

uma floresta

em festa

queimando dentro de nós.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Mauro Sta Cecília recita Ela, poema de sua autoria.)

 

ELA  (Mauro Sta Cecília)

A mulher loura, em pé no ponto
de ônibus, tira da bolsa o esmalte
vermelho e faz as unhas da mão
enquanto o ônibus não chega.

Ela não vai descansar.
A palavra descanso não faz
parte do dicionário de sua vida.
Ela pode algum dia atingir
quase o limite de suas forças.
Mas ela dorme, recupera as
forças e segue em frente.
E esquece a palavra cansaço.
Porque há muitos jovens que
já nasceram cansados e andam
cansados o dia inteiro. E porque
depois há toda a eternidade
que é um tempo que nem passa
pela sua cabeça.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Mauro Sta Cecília recita Por você, poema de sua autoria. Participação [guitarra]: Julio Santa Cecília.)

 

POR VOCÊ  (Mauro Sta Cecília)

por você, eu limparia os trilhos do metrô
eu iria a pé do Rio a Salvador
por você, eu roubaria uma velhinha
eu dançaria tango no teto da cozinha
por você, eu adoraria a disciplina japonesa
eu aprenderia a fazer cara de surpresa
por você, eu viajaria a prazo pro inferno
eu tomaria banho gelado no inverno
por você, eu hoje até deixaria de beber
eu enfrentaria um lutador de caratê
por você, eu ficaria rico em um mês
eu dormiria de meia pra virar burguês
por você, eu só sentiria essa febre
eu conseguiria até ficar alegre
por você, eu viveria em greve de fome
eu mudaria a grafia do meu nome
por você, eu pintaria o céu todo de vermelho
eu teria mais herdeiros que um coelho
por você, eu aceitaria a vida como ela é
eu desejaria todo dia a mesma mulher
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Puro êxtase. artista & intérprete: Barão Vermelho. canção: Por você. música: Roberto Frejat / Maurício Barros. poema: Mauro Sta Cecília. gravadora: WEA.)

QUE O DEUS VENHA
29 de junho de 2013

Girassol

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(trecho do livro: Água viva. autora: Clarice Lispector. editora: Rocco.)

 

Sou inquieta e áspera e desesperançada. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que eu não sei usar amor. Às vezes me arranha como se fossem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e no entanto continuo inquieta é porque preciso que o Deus venha. Venha antes que seja tarde demais. Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. Mas sei que terei paz antes da morte e que experimentarei um dia o delicado da vida. Perceberei — assim como se come e se vive o gosto da comida.

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Do trecho acima, Cazuza apenas rearranjou algumas palavras (sem alterar em nada o sentido desse verdadeiro poema em prosa), e Roberto Frejat, o seu parceiro mais presente, musicou o trecho. Assim nasceu a parceria entre Clarice, Cazuza & Frejat, intitulada Que o Deus venha, aqui, na gravação que segue abaixo, na voz inconfundível da grandiosa Cássia Eller.

Aos senhores, também, o trecho (um tanto alterado por Cazuza & musicado por Frejat) em versos.

 

A única coisa que nos espera é exatamente o inesperado. Por mais que se calcule, por mais que se tente, ninguém sabe o dia de amanhã. Estarei morto? Serei atropelado? Encontrarei, andando na rua, o bilhete premiado? Algum fato surpreendente à minha espera?

Por isso, o inesperado é o que nos espera.

Como não sei o dia de amanhã, uma coisa, ao menos, é sabida: amor dentro de mim eu tenho & experimento a paz, algum conforto existencial em estar onde estou, em ser quem eu sou, e experimento também o delicado da vida, também abocanho o que a vida tem de alegre, de feliz, de exuberante (ainda que ínfimo & vão).

Temos que perceber como se come & se vive o gosto da comida, a fim de que se coma bem — com gosto, com prazer — aquilo que é degustado: um livro de poesia, um prato da gastronomia, a pessoa por nós desejada.

(Saibamos usar amor.)

(Que o Deus — amor — venha.)

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(autores: Clarice Lispector / Cazuza.)

 

 

QUE O DEUS VENHA

 

Sou inquieta, áspera e desesperançada
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor
Às vezes arranha feito farpa
Se tanto amor dentro de mim eu tenho
E no entanto eu continuo inquieta
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais
Corro perigo como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado
Mas eu sei que vou ter paz antes da morte
Que vou experimentar um dia o delicado da vida
Vou aprender como se come e se vive o gosto da comida
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(do site: Youtube. canção: Que o Deus venha. intérprete: Cássia Eller. versos: Clarice Lispector / Cazuza. música: Roberto Frejat. áudio extraído do álbum: Cássia Eller. gravadora: Polygram.)

EU GOSTO DOS QUE ARDEM
10 de dezembro de 2009

prezados,
 
abaixo, poesias que compõem um capítulo do livro “veneno antimonotonia – os melhores poemas e canções contra o tédio”. o texto de apresentação, belíssimo e escrito pelo poeta eucanaã ferraz, pode ser lido aqui: https://prosaempoema.wordpress.com/2009/09/18/notas-de-um-antologista/
 
nas linhas que seguem, as minhas estima e admiração pelos que ardem, pelos que queimam, pelos que chamuscam na vida.
 
manter o fogo da existência sempre aceso, & firme, forte, em riste.
 
a vida é um incêndio e eu gosto dos que ardem, a mil, a cem por hora, com o narciso em chamas. do sul, cativo — deus salve a américa do sul! —, o este é meu norte. meu tempo é quando. e eu anseio incendiar o país.
 
(agir, girar, dançar por sobre o fogo — feito salamandra mágica —, com o domínio e a beleza de um orixá, com as destrezas de iansã e xangô.) 
 
mantenham acesas as labaredas da vida. mantenham, no olho do furacão, o ar dor que respiramos e que nos retorna vigor e ânimo e fôlego e.
 
cantemos a canção das chamas!
 
(velho ou criança: a vida é bela.)
 
beijo grande!
o preto,
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Veneno antimonotonia — os melhores poemas e canções contra o tédio. organização: Eucanaã Ferraz. editora: Objetiva. Capítulo: Eu gosto dos que ardem.)  
 
 
INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA  mario quintana
 
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas.
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
 
Cantemos a canção da vida
na própria luz consumida…
 
 
PIRAR É ARDER  armando freitas filho
 
Pirar é arder
a mil
         fora da pista
com o narciso em chamas.
É cair em si sem sentir
nenhum sentido, e seguir
segundo por segundo
a cem por hora
a céu aberto
verão adentro
sem pouso ou pique
sequer 
         para um gole de sombra
refresco, abraço ou guarida.
É correr na contramão
por bares, praias, casas
pegando fogo
e chegar — ventando —
na hora H
de todos os incêndios
sem água ou nada
que apague as labaredas
carregando apenas
mochilas cheias de mormaço.
Pirar é arder
a mil
         milímetro por milímetro
e queimar
                        velocilento
como uma brasa
se consome
até na fogueira do próprio sono
e, de repente, some.
É estar nu e só
no centro ou no lugar
onde somente o sol
sabe
                           e assassina.
 
 
SÓ AS MÃES SÃO FELIZES  cazuza  — música de roberto frejat
 
Você nunca varou
A Duvivier às 5
Nem levou um susto saindo do Val Improviso
Era quase meio-dia
No lado escuro da vida
 
Nunca viu Lou Reed
“Walking on the Wild Side”
Nem Melodia transvirado
Rezando pelo Estácio
Nunca viu Allen Ginsberg
Pagando michê na Alaska
Nem Rimbaud pelas tantas
Negociando escravas brancas
 
Você nunca ouviu falar em maldição
Nunca viu um milagre
Nunca chorou sozinha num banheiro sujo
Nem nunca quis ver a face de Deus
 
Já freqüentei grandes festas
Nos endereços mais quentes
Tomei champanhe  e cicuta
Com comentários inteligentes
Mais tristes que os de uma puta
No Barbarella às 15 pras 7
 
Reparou como os velhos
Vão perdendo a esperança
Com seus bichinhos de estimação e plantas?
Já viveram tudo
E sabem que a vida é bela
 
Reparou na inocência
Cruel das criancinhas
Com seus comentários desconcertantes?
Adivinham tudo
E sabem que a vida é bela  
 
Você nunca sonhou
Ser currada por animais
Nem transou com cadáveres?
Nunca traiu o teu melhor amigo?
Nem quis comer a tua mãe?
 
Só as mães são felizes…
 
 
POÉTICA  vinicius de moraes
 
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
 
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
 
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
 
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
— Meu tempo é quando. 
 
 
JANDIRA  murilo mendes
 
O mundo começava nos seios de Jandira.
Depois surgiram outras peças da criação:
surgiram os cabelos para cobrir o corpo,
(às vezes o braço esquerdo desaparecia no caos).
E surgiram os olhos para vigiar o resto do corpo.
E surgiram sereias da garganta de Jandira:
o ar inteirinho ficou rodeado de sons
mais palpáveis do que pássaros.
E as antenas das mãos de Jandira
captavam objetos animados, inanimados,
dominavam a rosa, o peixe, a máquina.
E os mortos acordavam nos caminhos visíveis do ar
quando Jandira penteava a cabeleira…
 
Depois o mundo desvendou-se completamente,
foi-se levantando, armado de anúncios luminosos.
E Jandira apareceu inteiriça,
de cabeça aos pés.
Todas as partes do mecanismo tinham importância.
E a moça apareceu com o cortejo do seu pai,
de sua mãe, de seus irmãos.
Eles é que obedecem aos sinais de Jandira
crescendo na vida em graça, beleza, violência.
Os namorados passavam, cheiravam os seios de Jandira
e eram precipitados nas delícias do inferno.
Eles jogavam por causa de Jandira,
deixavam noivas, esposas, mães, irmãs
por causa de Jandira.
E Jandira não tinha pedido coisa alguma.
E vieram retratos no jornal
e apareceram cadáveres boiando por causa de Jandira.
Certos namorados viviam e morriam
por causa de um detalhe de Jandira.
Um deles suicidou-se por causa da boca de Jandira.
Outro, por causa de uma pinta na face esquerda de Jandira.
E seus cabelos cresciam furiosamente com a força das máquinas;
não caía nem um fio,
nem ela os aparava.
E sua boca era um disco vermelho
tal qual um sol mirim.
Em roda do cheiro de Jandira
a família andava tonta.
As visitas tropeçavam nas conversações
por causa de Jandira.
 
E um padre na missa
esqueceu de fazer o sinal-da-cruz por causa de Jandira.
 
E Jandira se casou.
E seu corpo inaugurou uma vida nova,
apareceram ritmos que estavam de reserva,
combinações de movimento entre as ancas e os seios.
À sombra do seu corpo nasceram quatro meninas que repetem
as formas e os sestros de Jandira desde o princípio do tempo.
 
E o marido de Jandira
morreu na epidemia de gripe espanhola.
E Jandira cobriu a sepultura com os cabelos dela.
Desde o terceiro dia o marido
fez um grande esforço para ressuscitar:
não se conforma, no quarto escuro onde está,
que Jandira viva sozinha,
que os seios, a cabeleira dela transtornem a cidade
e que ele fique ali à toa.
 
E as filhas de Jandira
inda parecem mais velhas do que ela.
E Jandira não morre,
espera que os clarins do juízo final
venham chamar seu corpo,
mas eles não vêm.
E mesmo que venham, o corpo de Jandira
ressuscitará inda mais belo, mais ágil e transparente.
 
 
SUBVERSIVA  ferreira gullar
 
A poesia
quando chega
                   não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
                         Quando ela chega
de qualquer de seus abismos
desconhece o Estado e a Sociedade Civil
infringe o Código de Águas
                                            relincha
como puta
         nova
         em frente ao Palácio da Alvorada.
 
E só depois
reconsidera: beija
                   nos olhos os que ganham mal
                   embala no colo
                   os que têm sede de felicidade
                   e de justiça
 
E promete incendiar o país
 
 
SENHAS  adriana calcanhotto
 
Eu não gosto do bom gosto 
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
 
Eu agüento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus-tratos
 
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
 
Eu agüento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu agüento até os caretas
E suas verdades perfeitas
 
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
 
Eu agüento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
 
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
 
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem