OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (13ª EDIÇÃO) — TANUSSI CARDOSO & CONVIDADOS
27 de junho de 2018

(Coluna Parada Obrigatória, do jornal O Globo)

(Texto do poeta Luis Turiba, que foi assistir à apresentação)

(Texto da poeta Anna Maria Fernandes, que foi assistir à apresentação)

(Texto do poeta Cláudio Leal Cacau, que foi assistir à apresentação)

(Plateia lotada, quente, divertida – Foto: Luciana Queiroz)

(O idealizador, produtor e curador do projeto, Paulo Sabino – Foto: Luciana Queiroz)

(O poeta Igor Fagundes – Foto: Luciana Queiroz)

(O poeta Jorge Ventura – Foto: Luciana Queiroz)

(A poeta Noélia Ribeiro – Foto: Luciana Queiroz)

(O poeta Christovam de Chevalier – Foto: Luciana Queiroz)

(A poeta Eugenia Henriques – Foto: Luciana Queiroz)

(A poeta Carmen Moreno – Foto: Luciana Queiroz)

(O poeta Cairo Trindade e o homenageado da noite, Tanussi Cardoso – Foto: Luciana Queiroz)

(O poeta Cairo Trindade – Foto: Luciana Queiroz)

(O poeta Mano Melo – Foto: Luciana Queiroz)

(O grande homenageado da noite, o poeta Tanussi Cardoso – Foto: Luciana Queiroz)

(A turma feliz pela noite linda – Foto: Marcelo Ribeiro)

(Os participantes para as fotos finais – Foto: Marcelo Ribeiro)

(Os participantes da 13ª edição da Ocupação Poética, homenagem a Tanussi Cardoso – Foto: Luciana Queiroz)

(O coordenador do projeto, Paulo Sabino, e o homenageado da noite, Tanussi Cardoso – Foto: Rafael Millon)
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Teatro lotado, público quente, muito divertido, participantes pra lá de talentosos, homenageado feliz da vida: foi assim a 13ª edição da Ocupação Poética (18/06), homenagem aos 40 anos de carreira literária do super Tanussi Cardoso!
 
Cada vez que me vem à memória a noite da 13ª edição da Ocupação Poética, homenagem ao Tanussi Cardoso, o coração bate mais forte, o sorriso brota fácil na boca, o amor corre convicto pelo corpo. Acreditem: eu não consegui dormir de segunda (18/06) pra terça (19/06); a energia foi tamanha que a cabeça não desligava. Significa que estava cansado? Sim, muito. Muito obrigado pelo cansaço, muito obrigado pela noite não dormida. Timaço lindo, de tirar o sono! Estava sonhando acordado.
 
Viva a arte dos encontros! Viva a poesia Viva!
 
Quero agradecer imensamente aos administradores do teatro Cândido Mendes de Ipanema, Fernanda Oliveira e Adil Tiscatti; ao técnico de som e luz, no projeto desde a sua 1ª edição, Pedro Thimoteo; à fotógrafa do projeto, a nossa musa das lentes, Luciana Queiroz; à Belmira Comunicação, responsável pela assessoria de imprensa do projeto; a todos os participantes, muito e sempre; ao homenageado, por proporcionar, com a sua poética, momentos mágicos, como a noite de 18 de junho.
 
Faremos uma pausa, por causa do lançamento do meu livro de estreia na poesia, Um para dentro todo exterior, nos meses de julho e agosto, e retornamos em setembro.
 
Aos interessados, um poema, do homenageado, que tive a alegria e o prazer de ler na apresentação, poema emocionado e sofisticado como quem o confeccionou.
 
Beijo todos!
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(Do livro: Exercício do olhar. autor: Tanussi Cardoso. editora: Five Star.)
 
 
 
COMO SE NÃO FOSSE ADEUS
 
 
 
a vida se vai como o gelo se desfaz:
lento, frio, queimando as mãos.
nem as baratas me comovem mais.
nem as moscas. nem os cães.
 
(dentro de mim,
a família é um osso a estalar.)
 
pergunto se o cego que vê Deus
enxergará.
debaixo do seu peso insustentável
o amor não responde.
 
sonhei ser belo como os italianos
e, espantalho,
meu corpo se deteriora com o vento.
 
o verso e seu silêncio não me salvam.
e por mais que tente
sou menor que minha esperança.
 
entretanto, não quero escrever sobre paredes.
paredes não sangram.

COISA EM SI
16 de maio de 2015

Ovo
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toda & qualquer coisa é composta de outras tantas coisas.

não existe “coisa em si”.

toda & qualquer coisa forma uma identidade. identidade que se forme, que se molde, que se construa, sem que tenda para alguma coisa, sem que sofra a influência de alguma coisa, sem que penda para algum lado, sem que dependa de alguma outra coisa, não existe.

tudo tende, pende, depende.

tudo, até as palavras: não há nenhuma palavra que exista “em si”, que exista sem que haja, nela, algo que também forme, também molde, também construa, outras palavras: tende / pende / depende.

palavra puxa palavra.

o mar, que molha a ilha, molha o continente.

o ar que se respira traz o que recende, o que exala, o que se espalha. o ar que injetamos nos pulmões é o mesmo que, livre, toca o cheiro das coisas & o traz, de longe, até nós.

tudo é rente, é próximo, é contíguo. tudo é tangente, é tocável, é acessível. tudo é inerente, é dependente, é inseparável.

tudo é rente, tangente, inerente.

tudo, até as palavras: não há nenhuma palavra que exista “em si”, que exista sem que haja, nela, algo que também forme, também molde, também construa, outras palavras: rente / tangente / inerente.

palavra puxa palavra.

não existe coisa assim: isenta, sem ambiente, coisa partida do seu próprio pó, sem mistura, coisa sem sombra na parede, coisa sem margem ou afluente que a alcance, que a toque: as coisas existem & necessariamente, obrigatoriamente, estabelecem inter-relações: não há coração sem mente, não há paraíso sem serpente. não existiria som se não houvesse o silêncio. não haveria luz se não fosse a escuridão.

a vida é mesmo assim: dia & noite, não & sim.

“coisa em si” inexiste.

só existe o que se sente, só existe o que é percebido através dos sentidos. uma coisa, mesmo que exista, se não for sentida por nós, isto é, se não for percebida por nós, essa coisa não existe para nós. para que exista para nós, portanto, as coisas precisam, as coisas dependem, as coisas necessitam, as coisas carecem, existir, antes, para os nossos sentidos.

tudo tende, pende, depende. tudo é rente, tangente, inerente.

não existe “coisa em si”.

a miscigenação, a mistura, a mesclagem, a influência, a tendência, a confluência, sempre foi & sempre será o caminho de toda & qualquer coisa.

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: ET  Eu  Tu. poemas: Arnaldo Antunes. fotos: Marcia Xavier. editora: Cosac & Naify.)

 

 

coisa em si
não existe

tudo tende
pende
depende

o mar que molha
a ilha molha
o continente

o ar que se
respira traz
o que recende

coisa em si
não existe

tudo é rente
tangente
inerente

pedra
assemelha
semente

sol nascente:
sol poente

coisa em si
não existe

mesmo que
aparente

coisa em si
coisa só
partida do seu
próprio pó

sem sombra
sobre
a parede

sem mar
gem
ou afluente

não existe
coisa assim

isenta
sem ambiente

não há coração
sem mente

paraíso
sem serpente

coisa em si
inexiste

só existe
o que se
sente

PAISAGEM COM GRÃO DE AREIA
22 de abril de 2015

Areia & Mar
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o homem, para viver por entre as coisas, antes, precisa pensar as coisas.

o homem, para viver por entre as coisas, precisa nomeá-las, ordená-las, classificá-las, conceituá-las, a fim de que o mundo não lhe seja um completo caos.

o mundo é mudo. o grão de areia não se diz grão de areia, o lago não se diz lago, o mar não se diz mar, o tempo não se sabe tempo: as coisas, no mundo, apenas estão, as coisas apenas são, sem questionar, sem perguntar, sem pressupor, as coisas apenas seguem o seu caminho de coisas.

lagos & rios & mares & pedras não se pensam “fundo” ou “raso”, “grande” ou “pequeno”, “belo” ou “feio”, “rápido” ou “devagar”, “seco” ou “molhado”: somos nós quem pensamos as coisas desse modo, somos nós quem precisamos conceituar, classificar, categorizar, as coisas no mundo mudo, na tentativa de apreendê-las, de ordená-las, de compreendê-las.

o grão de areia ter caído no parapeito da janela é uma aventura nossa, aventura de quem assistiu à queda, aventura de quem imaginou a cena, e não de quem a vivenciou (o grão de areia): para ele é o mesmo que ter caído em qualquer coisa, sem a certeza de já ter caído, ou de ainda estar caindo.

da janela avista-se uma bela paisagem, mas a paisagem não vê a si mesma. existe, neste mundo, sem cor & sem forma, sem som, sem cheiro, sem dor (“cor”, “forma”, “som”, “cheiro”, “dor”: conceitos que criamos para as coisas no mundo, na tentativa de apreendê-las, apreendê-las a fim de vivenciá-las).

o fundo do lago não possui fundo, nem margem as suas margens, e sua água, nem molhada nem seca (“fundo”, “superfície”, “margem”, “meio”, “molhado”, “seco”: conceitos que criamos para as coisas no mundo, na tentativa de apreendê-las, apreendê-las a fim de vivenciá-las).

nem singular nem plural a onda que murmureja surda ao seu próprio murmúrio, ao redor de pedras nem grandes nem pequenas (“singular”, “plural”, “murmúrio”, “silêncio”, “grande”, “pequeno”: conceitos que criamos para as coisas no mundo, na tentativa de apreendê-las, apreendê-las a fim de vivenciá-las).

e tudo isso por debaixo de um céu, por natureza, inceleste, no qual o sol se põe, na verdade, não se pondo, e se oculta, não se ocultando, atrás de uma nuvem insciente, nuvem que oculta o sol sem a consciência de ocultá-lo (“celeste”, “terreno”, “aquático”, “nascente”, “poente”, “ocultar”, “revelar”: conceitos que criamos para as coisas no mundo, na tentativa de apreendê-las, apreendê-las a fim de vivenciá-las).

o vento varre a nuvem, onde o sol se ocultava, sem outra razão que a de ventar.

passa um segundo. dois segundos. três segundos. mas são três segundos somente nossos, porque o tempo não se sabe tempo (“passado”, “presente”, “futuro”, “ontem”, “hoje”, “amanhã”, “dia”, “mês”, “ano”: conceitos sem os quais o bicho homem não conseguiria fazer valer a sua existência no mundo).

“o tempo correu como um mensageiro com notícias urgentes”: a sentença é só um símile nosso, a sentença é só uma metáfora, criada à nossa imagem & semelhança: uma personagem inventada (o tempo mensageiro), a sua pressa imposta (o tempo é sempre o mesmo a passar, não corre nem desacelera), e a notícia inumana (o tempo não é mensageiro de coisa alguma nem tampouco carrega notícia — ele não nos fala, ele não nos escuta, ele não nos enxerga: alheio a tudo & todos).

o tempo passa, parado no tempo, para que passemos, transitórios & perecíveis.

o mundo é mudo. e a experiência humana, um grande delírio detido em palavras.

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Poemas. autora: Wislawa Szymborska. tradução: Regina Przybycien. editora: Companhia das Letras.)

 

 

PAISAGEM COM GRÃO DE AREIA

 

Nós o chamamos de grão de areia.
Mas ele mesmo não se chama de grão, nem de areia.
Dispensa um nome
geral, particular
passageiro, permanente,
errado ou apropriado.

De nada lhe serve nosso olhar, nosso toque.
Não se sente olhado nem tocado.
E ter caído no parapeito da janela
é uma aventura nossa, não dele.
Para ele é o mesmo que cair em qualquer coisa
sem a certeza de já ter caído,
ou de ainda estar caindo.

Da janela há uma bela vista para o lago,
mas a vista não vê a si mesma.
Existe neste mundo
sem cor e sem forma,
sem som, sem cheiro, sem dor.

Sem fundo o fundo do lago
e sem margem as suas margens.
Nem molhada nem seca a sua água.
Nem singular nem plural a onda
que murmureja surda ao seu próprio murmúrio
ao redor de pedras nem grandes nem pequenas.

E tudo isso sob um céu por natureza inceleste,
no qual o sol se põe na verdade não se pondo
e se oculta não se ocultando atrás de uma nuvem
…………………………………………………………………..[insciente.
O vento a varre sem outra razão
que a de ventar.

Passa um segundo.
Dois segundos.
Três segundos.
Mas são três segundos somente nossos.

O tempo correu como um mensageiro com notícias
…………………………………………………………………..[urgentes.
Mas isso é só um símile nosso.
Uma personagem inventada, a sua pressa imposta
e a notícia inumana.

INVADE-ME, Ó VERSO, E A SUA ÁUREA AURORA
17 de março de 2015

Pássaros_Amanhecer
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vem, ó verso, invade-me, toma meu espírito de assalto, põe os teus olhares sobre a minha arte, deixa-me cantar-te, ó verso, dá-me astúcia & dons a fim de elaborar-te.

ó verso, vem sustentar-me com a tua carne, de palavras, metros (metro: medida que estabelece a quantidade de sílabas de cada verso) & sons, ó verso, vem confortar-me com teus ares bons. traze-me as sinapses capazes de tudo, capazes de realizar as mais belas proezas em verso (sinapse: local de contato entre os neurônios, onde ocorre a transmissão de impulsos nervosos de uma célula para outra), traze-me, ó verso, os tais tons da felicidade, tons que só a tessitura da tua carne, feita de palavras, metros & sons, é possível de trazer.

(metro: medida que estabelece a quantidade de sílabas de cada verso: o primeiro poema da seleção conta com versos de 5 sílabas, também chamados de redondilha menor.)

vem, ó verso, invade-me, toma meu espírito de assalto, põe os teus olhares sobre a minha arte, deixa-me cantar-te, ó verso, dá-me astúcia & dons a fim de elaborar-te: e é assim, dando espaço ao verso na minha vida, que um pássaro festeja a áurea aurora, um pássaro festeja o amanhecer dourado, radiante, em mim, agora. um instante raro, um instante caro, um instante de puro amor.

tudo lá fora, no mundo, a passar, e aqui, dentro de mim, o pensar se cora, o pensamento ganha um colorido, de amor tão claro.

para erato, a lira & o verso imploro (erato: na mitologia grega, uma das nove musas, filha, como todas as suas irmãs, de zeus & mnemósine, a musa da poesia lírica, particularmente a de temática amorosa).

servo do verso (verso & servo formam-se das mesmas letras), e servo canoro, servo melodioso, servo que procura cantar bem, cantar acertado, cantar no tom, moro em ritmos para erigir a voz que adquirira, moro em ritmos para erguer a voz que alcançara, voz poética que procura, acima de tudo, o verso limpo, o verso bom.

que a poesia nunca me falte à boca & que eu sempre possa comparti-la como pão, como o mais nutritivo & saboroso alimento anímico.

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Antípodas tropicais. autor: Adriano Nunes. editora: Vidráguas.)

 

 

VEM, Ó VERSO, INVADE-ME

 

Vem, ó verso, invade-me,
Põe os teus olhares
Sobre a minha Arte,
Deixa-me cantar-te,
Dá-me astúcias e dons.

Ó, vem sustentar-me
Com a tua carne
De metros e sons,
Ó, vem confortar-me,
Nesta tensa tarde,

Com teus ares bons,
Traze-me as sinapses
De tudo capazes,
Traze-me os tais tons
Da felicidade.

 

 

A ÁUREA AURORA
Para Gal Oppido

 

Festeja um pássaro
A áurea aurora
Em mim, agora.
Que instante raro!

Tudo lá fora
A passar, o
Pensar tão claro
De amor se cora.

Pra Erato a lira
E o verso imploro.
Servo canoro,

Em ritmos moro,
Pra erigir a
Voz que adquirira.