À MINHA SEREIA, RAINHA DO MAR
2 de fevereiro de 2010

navegantes,
 
hoje, dia 2 de fevereiro, é dia de festa no mar. e eu, que não preciso ser o primeiro (rs), quero, aqui, saudar iemanjá.
 
saudar a rainha do meu en–canto maior, a rainha daquele para quem canto canto canto sem parar, quando na sua presença.
 
o mar
quando quebra na praia
é bonito
é bonito…
 
e saúdo-a com um poema-canção lindíssimo, que me suscita uma série de ligações afetivas.
 
a começar pelo título atribuído aos versos: “onde o rio é mais baiano”. 
 
meu pai, que era carioca, descendia diretamente de um baiano natural de salvador. assim sendo: o rio é mais baiano dentro da minha casa, o rio é mais baiano no meu próprio umbigo (rs).
 
meu avô era músico (violonista), tocava na rádio nacional com o seu trio de cordas, e meu pai foi um sambista nato. durante anos esteve envolvido com o universo do samba. 
 
acho lindas as imagens criadas nas linhas, que dizem que o samba foi trazido ao rio pela bahia, pelas “ciatas”, numa alusão feita às baianas, muitas vindas como esposas de soldados que retornavam da guerra de canudos, fixadas na zona portuária da cidade do rio de janeiro, quituteiras, iniciadas no candomblé, e muito festeiras. produziam sempre eventos musicais em seus quintais, as famosas reuniões — daí a origem — de “fundo de quintal”. a mais famosa das baianas foi tia ciata, com residência à rua visconde de itaúna, no bairro cidade nova, endereço onde se faziam homéricas batucadas, com a presença de donga, pixinguinha, joão da baiana, entre outros, logradouro considerado, mitologicamente, o berço do gênero musical brasileiro mais conhecido no mundo (o mito surgiu dessa maneira).
 
gosto, profundamente, de pensar que foi a bahia quem trouxe o samba pra o rio. e, junto com o samba, as festas e os ritos dos pretos. a comemoração pelo dia de iemanjá, dia do mar & sua alteza.
 
meu pai, sambista, carioca, descende de um baiano, de salvador, músico. o baiano (meu avô) — “a bahia” — trazendo o samba para a vida do carioca (meu pai) — “o rio de janeiro” —.
 
emociona-me desmedidamente o fato de meu avô, músico, baiano, e o meu pai, carioca, sambista. (pois o mito surgiu dessa maneira.)
 
a bahia, estação primeira, lugar onde nasceu tudo o que hoje chamamos “brasil”. a mangueira, escola de samba carioca, intitula-se “a estação primeira” — a estação primeira do samba —.
 
portanto, acho que disse bem o compositor: isso é a confirmação de que a mangueira é onde o rio é mais baiano (rs), de que a mangueira, o outro lado do espelho. (jamelão no rio vermelho, todo ano, e sempre…)  
 
à rainha iemanjá,
à beleza do mar,
 
a minha salva de elogios!
 
beijo em todos,
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Letra Só. autor: Caetano Veloso. organização: Eucanaã Ferraz. editora: Companhia das Letras.)
 
ONDE O RIO É MAIS BAIANO
 
A Bahia
Estação primeira do Brasil
Ao ver a Mangueira
Nela inteira se viu
Exibiu-se sua face verdadeira
 
Que alegria
Não ter sido em vão que ela expediu
As Ciatas pra trazerem o sambra pra o Rio
(Pois o mito surgiu dessa maneira)
 
E agora estamos aqui
Do outro lado do espelho
Com o coração na mão
Pensando em Jamelão no Rio Vermelho
Todo ano, todo ano
Na festa de Iemanjá
Presente no dois de fevereiro
Nós aqui e ele lá
Isso é a confirmação de que a Mangueira
É onde o Rio é mais baiano