SOMOS TROPICÁLIA — 50 ANOS DO MOVIMENTO — 3º CICLO: JULIANA LINHARES, MIHAY, HELIO MOULIN E SALGADO MARANHÃO — MÃE DA MANHÃ (GILBERTO GIL)
18 de abril de 2017

(Os participantes desta 3ª etapa do projeto: em pé, Juliana Linhares e Salgado Maranhão; sentados, Helio Moulin e Miray junto ao Guilherme Araújo e à Gal Costa — Foto: Rafael Millon)
______________________________________________________

“Bravo, Paulo Sabino. Aqueceram-me o coração sua desenvoltura e alta voltagem poética. Grato. Abs. RCAlbin”.

(Ricardo Cravo Albin — musicólogo & membro da Academia Carioca de Letras — ACL)

 

“Que massa que o Helinho vai tocar contigo [Mihay]! Adorei.”

(Tulipa Ruiz — cantora e compositora)

 

 

Alô Alô! Alegria Alegria!

Aqui para anunciar os participantes da 3ª etapa de encontros do projeto “Somos Tropicália”, em homenagem aos 50 anos do movimento que chacoalhou a música popular brasileira. O projeto vem reunindo, desde fevereiro, mensalmente, artistas da nova geração da nossa música, para a releitura das canções tropicalistas, com poetas consagrados, para a leitura de textos/poemas de bossa tropicalista.

Para esta edição de abril, o imenso prazer de receber só feras: a atriz e cantora Juliana Linhares (cantora e integrante da banda “Pietá” e do projeto “Iara Ira”, ao lado das cantoras Júlia Vargas e Duda Brack), o cantor, compositor e videomaker Mihay (o Mihay já cantou com o Chico César, excursionou com o João Donato, e tem, no seu segundo disco, participação da Tulipa Ruiz, Mariana Aydar, do Robertinho Silva, Kassin, e do próprio João Donato, entre outros), o instrumentista-violonista Helio Moulin (o Hélio é filho do monstro violonista e guitarrista da música popular brasileira e do jazz Helio Delmiro, que tocou com Elis Regina, Clara Nunes, Milton Nascimento, a diva da música norte-americana Sarah Vaughan, entre outros), e o poeta vencedor do prêmio Jabuti de poesia (o mais importante prêmio literário, pelo seu belíssimo livro “Ópera de nãos”) Salgado Maranhão.

Tudo divino-maravilhoso! Certeza de mais noites lindas para a música e para a poesia! E toda essa maravilhosidade “di grátis”!

Depois deste texto sobre o “Somos Tropicália”, um poema-canção que não é tropicalista porém foi composto por um mestre tropicalista e cantado pela musa tropicalista — Gilberto Gil e Gal Costa. Isso porque a Juliana Linhares, que é a grande cantora e intérprete que terei o prazer e a honra de receber no projeto, no espetáculo “Iara Ira”, canta com a Julia Vargas e a Duda Brack o poema-canção da publicação, poema-canção que é o meu preferido do álbum em que foi lançado, “O sorriso do gato de Alice”, da Gal. A Juliana, a Julia e a Duda abrem o “Iara Ira” com este poema-canção.

Sobre o “Somos Tropicália”: espalhem a notícia! Compartilhem a boa nova!

Esperamos todas e todos!

 

Serviço:

Gabinete de Leitura Guilherme Araújo apresenta –

SOMOS TROPICÁLIA – 50 anos do movimento

Juliana Linhares, Mihay, Helio Moulin e Salgado Maranhão / Pocket-show e leitura de poesias
Dias 26/04 (4ª-feira) e 27/04 (5ª-feira)
A partir das 19h30
Rua Redentor, 157 Ipanema
Tel infos. 21-2523-1553
Entrada franca c/ contribuição voluntária
Lotação: 60 lugares
Classificação: livre

Link do evento no Facebook: http://www.facebook.com/events/1881892262099199/
Página do projeto no Facebook: http://www.facebook.com/somostropicalia/
______________________________________________________

(Extraído do livro “Gil — todas as letras”, organizado por Carlos Rennó, editora Companhia das Letras.)

 

para Gal Costa & Juliana Linhares

 

 

gilberto gil fez este poema-canção para gal costa, que foi dedicado à mãe da cantora, mariah costa penna, amiga do poeta-compositor & que havia morrido há pouco tempo.

a perda de uma pessoa que muito se ama, a que mais se ama, a grande amiga, aquela que sentimos ser a única pessoa a fazer absolutamente tudo & qualquer coisa para o bem-estar da cria, dos filhos: uma dor profunda, uma tristeza abissal, o recolhimento, o luto, a escuridão.

meu canto em momentos de escuridão é o meu grande amparo. minha voz é meu amparo em momentos difíceis.

minha voz, que é um aro de luz da manhã, que é um aro de luz que nasce do dia, voz solar, iluminada, voz brilhante, num momento de dor, de perda de alguém tão caro, a minha voz brota na gruta da dor.

mãe da manhã, mãe do raiar do dia, mãe da luz nascente do dia, mãe maria, mãe de todos nós, eu faria de tudo pra conservar vosso amor.

uma espécie de súplica, de pedido, à mãe da manhã, à mãe do raiar do dia, à mãe da luz nascente do dia, à mãe maria, à mãe de todos nós: pra conservar vosso amor, mãe da manhã, eu faria de tudo — a cada ano, eu faria uma romaria, eu faria uma oferenda, eu faria uma prenda, eu daria a vós uma flor. faria uma romaria, uma oferenda, uma prenda, daria uma flor — tudo para conservar o amor da mãe da manhã.

assim, na minha existência, a cada instante, teria direito a um grão, a um momento, a um pedaço, de alegria — e todos os grãos de alegria, por conservar o amor da mãe da manhã, seriam lembranças do vosso amor, lembranças do amor que a mãe da manhã me dedica.

santa virgem maria — mãe maria, mãe de todos nós —, vós que sois mãe do filho daquele que nos permite o nascer do dia, vós que sois mãe do filho daquele que nos possibilita a vida, daquele que nos determina a morte, santa virgem maria, mãe da manhã, mãe da luz, mãe solar: abençoai minha voz, meu cantar.

na escuridão da nostalgia causada pela perda de alguém que muito se ama, pela perda de alguém que nos é tão importante, tão caro, dai-nos a luz do luar.

na noite, na escuridão, na dor, na perda, no momento difícil: luz, sempre. seja qual for: solar ou lunar: luz, quero luz.

mãe da manhã, que assim seja.

beijo todos!
paulo sabino.
______________________________________________________

(do livro: Gil — Todas as letras. organização: Carlos Rennó. autor: Gilberto Gil. editora: Companhia das Letras.)

MÃE DA MANHÃ

Meu canto na escuridão
Minha voz, meu amparo
Aro de luz nascente do dia
Brota na gruta da dor
Mãe da manhã, de tudo eu faria
Pra conservar vosso amor

A cada ano, uma romaria
Uma oferenda, uma prenda, uma flor
A cada instante, um grão de alegria
Lembranças do vosso amor

Santa Virgem Maria
Vós que sois Mãe do Filho do Pai do Nascer do Dia

Abençoai minha voz, meu cantar
Na escuridão dessa nostalgia
Dai-nos a luz do luar.

______________________________________________________

(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: O sorriso do gato de Alice. gravadora: BMG Ariola. artista e intérprete: Gal Costa. canção: Mãe da manhã. autor: Gilberto Gil.)

LICENÇA!
5 de maio de 2015

Paulo Sabino_Sarau Lgo das Neves_Março 2015

(Paulo Sabino, na leitura de poemas, num dos saraus que vem organizando com amigos.)
______________________________________________________

licença, que eu vou cantar, porque cantar é uma bênção.

cantar, isto é, dizer poesia, isto é, escrever poesia, isto é, escrever sobre poesia: uma grande dádiva, um grande presente da vida.

digo & repito: a poesia afia, atiça, aguça, agita, minhas sensibilidade & inteligência. além de ser lugar onde as palavras podem receber os mais arriscados & belos manejos lingüísticos.

eu peço licença para cantar: quem se julga & se pensa capaz de vibrar o canto, assim, sem pedir licença, saiba que a voz é sentença de prender ou libertar, e quando vai pelo ar pode trazer recompensa mas também pode atrasar: o poder atribuído às palavras, de fazer o bem ou de fazer o mal, o poder atribuído às palavras, de materializar alguns pedidos feitos com a voz, sejam pedidos bons ou ruins. a voz, o canto, se dão através da vibração das cordas vocais. antes, é imprescindível vibrar. a voz, o canto, se fazem de vibrações. cantar é vibrar bem ou vibrar mal para alguém ou alguma coisa.

licença, que eu vou cantar, porque cantar é uma bênção.

o canto na imensidão, o canto lançado no ar, é ação & movimento (a ação de cantar os versos, o movimento inerente no dizer as palavras), é força em deslocamento, criação, reprodução: é grão plantado no chão, brotando como alimento, é centelha no momento que se torna combustão. sem dúvida, o verso é o que pode lançar mundos no mundo, é o mais saboroso & nutritivo alimento anímico. poesia é a arte que trabalha, sobretudo, com deslocamentos de linguagem nos seus mais variados sentidos, a fim de que a linguagem alcance & aponte caminhos, atalhos & desvios os mais sortidos; a fim de que afiem, aticem, agucem, agitem, minhas sensibilidade & inteligência.

o canto na imensidão, o canto lançado no ar: mensageiro, guardião, senhor dos quatro elementos, senhor de tudo que vibra (o canto é vibração pura), me dê seu consentimento para eu cantar nesta função: na função de louvá-lo por toda beleza que vejo no canto, por toda beleza que absorvo, respiro, inspiro, e que me inspira, me cativa, me arrebata.

licença, sempre que cantar, porque cantar é uma bênção.

beijo todos!
paulo sabino.
______________________________________________________

(autor: Nei Lopes. livro: Poétnica. editora: Mórula Editorial.)

 

 

LICENÇA!

 

Licença, que eu vou cantar
Porque cantar é uma bênção
E quem se julga e se pensa
Capaz de o canto vibrar
Assim, sem pedir licença
Saiba que a voz é sentença
De prender ou libertar
E quando vai pelo ar
Pode trazer recompensa
Mas também pode atrasar.
Licença, que eu vou cantar
Porque cantar é uma bênção.

O canto na imensidão
É ação e movimento,
É força em deslocamento
Criação, reprodução.
É grão plantado no chão
Brotando como alimento,
É centelha no momento
Que se torna combustão.
Mensageiro, guardião
Senhor dos quatro elementos
Me dê seu consentimento
Pra eu cantar nesta função.