OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (3ª EDIÇÃO) — VÍDEOS: MARIA PADILHA, TONICO PEREIRA, LUANA VIEIRA & GERALDO CARNEIRO — ENCERRAMENTO
8 de abril de 2016

Ocupação Poética_3ª edição 21

(Maria Padilha)

Ocupação Poética_3ª edição 22

(Luana Vieira & Tonico Pereira)

Ocupação Poética_3ª edição 12

(Tonico Pereira)

Ocupação Poética_3ª edição 27

(Geraldo Carneiro)

Ocupação Poética_3ª edição 04

(Com Maria Padilha & Tonico Pereira)

Ocupação Poética_3ª edição 08

(Com Luana Vieira)

Ocupação Poética_3ª edição 05

Ocupação Poética_3ª edição 06

(Com Geraldo Carneiro)

Ocupação Poética_3ª edição 25

Ocupação Poética_3ª edição 03

(Os participantes desta 3ª edição do projeto: Vitor Thiré, Luiza Maldonado, Danilo Caymmi, Paulo Sabino, Geraldo Carneiro, Camilla Amado, Maria Padilha, Alice Caymmi, Luana Vieira, Bruce Gomlevsky & Tonico Pereira)
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A quem possa interessar, os 5 últimos vídeos da 3ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido no dia 24 de fevereiro (quarta-feira), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de um elenco estelar: Geraldo Carneiro, Bruce Gomlevsky, Tonico Pereira, Vitor Thiré, Maria Padilha, Camilla Amado, Luiza Maldonado, Luana Vieira, Danilo Caymmi & Alice Caymmi.

Nos vídeos desta publicação, poemas & traduções do grande homenageado da noite, o sofisticado poeta & dramaturgo, além de querido amigo, Geraldo Carneiro. Nos 3 primeiros vídeos, a atriz Maria Padilha recita 3 sonetos do poeta & dramaturgo inglês William Shakespeare, na tradução do Geraldo Carneiro: o “Soneto 76”, o “Soneto 138” & o “Soneto 116”. O último vídeo da atriz, recitando o “Soneto 116”, infelizmente, inicia com um corte na leitura do primeiro verso. O poema, na íntegra, encontra-se logo abaixo do vídeo, à leitura & sua total apreensão. No quarto vídeo, o ator Tonico Pereira & a atriz Luana Vieira, sob a direção de cena do ator & diretor Bruce Gomlevsky, interpretam o poema épico “Fabulosa jornada ao Rio de Janeiro”, recém-lançado na recém-lançada antologia poética — “Subúrbios da galáxia” — que comemora os quarenta anos de produção literária do grande homenageado da noite, Geraldo Carneiro, poema que narra, de maneira divertida & ao mesmo tempo crítica, a história da formação desta cidade de onde sou natural, São Sebastião do Rio de Janeiro. No quinto & último vídeo desta postagem, encerrando esta edição do projeto, o próprio Geraldo recita um poema do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, originalmente escrito em inglês & traduzido para o português pelo Geraldo Carneiro.

Espero que vocês tenham se divertido com o projeto tanto quanto nós, participantes, nos divertimos realizando.

Mais uma vez, o meu muito obrigado a todos os espectadores & participantes!

Agora, espero os senhores na quarta edição do projeto “Ocupação Poética”, no teatro Cândido Mendes (Ipanema), que está chegando (já temos a data definida, o homenageado & diversos participantes confirmados)! Mais à frente, maiores informações sobre a nova edição!

Até já!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Maria Padilha recita o Soneto 76, do poeta & dramaturgo inglês William Shakespeare, tradução de Geraldo Carneiro.)

 

SONETO 76  (William Shakespeare / Tradução: Geraldo Carneiro)

 

Por que meu verso é sempre tão carente
De mutações e variação de temas?
Por que não olho as coisas do presente
Atrás de outras receitas e sistemas?
Por que só escrevo essa monotonia,
Tão incapaz de produzir inventos
Que cada verso quase denuncia
Meu nome e seu lugar de nascimento?
Pois saiba, amor, só escrevo a seu respeito
E sobre o amor, são meus únicos temas,
E assim vou refazendo o que foi feito
Reinventando as palavras do poema.
………….Como o sol, novo e velho a cada dia,
………….O meu amor rediz o que dizia.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Maria Padilha recita o Soneto 138, do poeta & dramaturgo inglês William Shakespeare, tradução de Geraldo Carneiro.)

 

SONETO 138  (William Shakespeare / Tradução: Geraldo Carneiro)

 

Se minha bem amada diz que jura,
Eu creio, embora saiba que ela mente:
Que ela não me suponha sem cultura
Nas falsas sutilezas dessa gente.
Finjo que ela me considera moço,
Embora ela me saiba já passado.
À falsa lábia dela dou meu endosso:
Suprimo a realidade dos dois lados.
Mas por que ela não diz que é insincera?
Por que eu não digo que sou veterano?
O amor é sábio se parece à vera
E tem horror que alguém lhe conte os anos.
………….Mentimos um ao outro e assim confio
………….Nas mentiras de nossos elogios.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Maria Padilha recita o Soneto 116, do poeta & dramaturgo inglês William Shakespeare, tradução de Geraldo Carneiro.)

 

SONETO 116  (William Shakespeare / Tradução: Geraldo Carneiro)

 

Não tenha eu restrições ao casamento
De almas sinceras, pois não é amor
O amor que muda ao sabor do momento
Ou se move e remove em desamor.
Oh, não: o amor é marca mais constante,
Que encara a tempestade e não balança,
É a estrela-guia dos batéis errantes,
Cujo valor lá no alto não se alcança.
O amor não é o bufão do tempo, embora
Sua foice desfigure o lábio e a face.
O amor não muda com o passar das horas,
Mas se sustenta até seu desenlace.
Se isso é erro meu, e assim provado for,
Nunca escrevi, ninguém jamais amou.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Tonico Pereira e Luana Vieira interpretam o poema Fabulosa jornada ao Rio de Janeiro. autor: Geraldo Carneiro. direção de cena: Bruce Gomlevsky.)

 

FABULOSA JORNADA          (Geraldo Carneiro)
AO RIO DE JANEIRO

(rap-rapsódia exaltação)

 

1. De como eu, Brás Fragoso, vim dar
às terras do Brasil, por ordem de el-rei
Dom Sebastião, o Desejado

Rio-verão, pós Eva e Adão, cheguei:
segundo a lenda, os outros navegantes
que por este cenário navegaram
supunham que aqui fosse foz de um rio,
ou chamava-se “rio” a qualquer angra;
e como o mês talvez fosse janeiro,
chamaram o sítio Rio de Janeiro,
futura foz de tanta fantasia.

eu vim com a armada de Estácio de Sá,
fidalgo, primo do Governador,
para tomar o Rio dos franceses
…………heréticos blasfemos protestantes
…………traficantes da Caesalpinia echinata
……………………………………vulgo pau-brasil
…………o ouro original de nossas matas.

como se não bastasse esse pecado,
ainda faziam com nossas nativas
o mesmo que Jacó fez com Raquel
e Davi praticou com Betsabá.

assim se originou minha odisseia:
eu mal sabia das desaventuras
que mudariam todo o meu futuro,
por força de meus sonhos naufragados;
e embora batizado Brás Fragoso,
aqui meu nome, Brás, virou Brasil,
e o Fragoso tornou-se Naufragoso.
mas pra saber dessa aventura inglória,
há que saber, no entanto, a minha história.

 

2. Breve retrospecto das condições
adversas em que encontrei a terra do
Rio de Janeiro

na baía da Guanabara
não havia como apartar o joio do joio
era tamoio ligado com francês
era francês ligado com tamoio

TUDO DOMINADO

os donos do tráfico os traficantes
todo mundo cantando em coro:

(Entra o funk “Tá tudo dominado”,
com a voz processada pelo DJ, misturando
frases em diversas línguas.)

todos os tamoios nas trapaças
……………………dos franceses
colonizados no Forte Coligny
……………………colignyzados
só quem não fazia parte da tramoia
……………………era Arariboia
ex-cacique exilado em Cabo Frio
……………………agora office-tupinamboy
não podia nem desembarcar em Niterói
você não sabe como é que dói.

 

3. De como encontramos no Brasil um
aliado paranormal, sem o qual nossa
vitória seria impossível

felizmente, além da fé e da razão,
tínhamos do nosso lado um super-herói:
o irmão José de Anchieta.

Anchieta, com o perdão da má palavra,
era um jesuíta carne de pescoço,
conversava com os bichos e com as feras,
chamava urubu de meu brother
e papagaio de meu louro,
e quando não tinha homem branco
……………………urubuzando por perto
Anchieta andava sobre as águas
e de vez em quando voava,
voava sobre a terra e sobre o mar,
nunca deixando um português olhar
porque nós, o pessoal de Portugal,
somos mais burros do que São Tomé:
necessitamos ver para não crer.

Anchieta, não contente em escrever
a primeira gramática da língua tupi,
ainda ensinou os índios a dizer
goodbye, arrivederci, hasta la vista
tudo isso no mais perfeito latim.

e quando alguém era inimigo do império
………………………………./ de Portugal,
Anchieta baixava o pau.

graças a ele e aos seus superpoderes,
superamos as tempestades do verão
& no dia primeiro de Março
desembarcamos cá para fundar
entre o Cara de Cão e o Pão de Açúcar
esse projeto de esplendor à beira-mar:
São Sebastião do Rio de Janeiro.

 

4. De como fizemos o desembarque,
comandados por Estácio de Sá

aqui fincamos nossos estandartes.
e Estácio começou a dizer suas palavras,
“Em nome de el-rei Dom Sebastião”,
etc. e tal,
mas ninguém lhe prestou atenção.
porque vimos, através do olhar de Anchieta,
o espírito de Deus se mover sobre a face
………………………………………………/ das águas.
depois Deus apartando a luz das trevas
depois Deus chamando a luz de Dia
e chamando as trevas de Noite,
e da noite e da manhã fez-se o primeiro dia.

e Deus chamou o firmamento de Céu,
e Deus separou as águas e as terras,
e etc. etc.
e nós, maravilhados, assistindo ao Gênesis
…………no camarote vip na Praia Vermelha.

fomos erguendo a nossa paliçada,
tudo miraculosamente bem,
até que no sexto dia, na hora do descanso,
os tamoios mandaram em cima da gente
uma chuva de flechadas.

Anchieta tentou segurar a rapaziada
dizendo que Deus ia nos proteger,
ia salvar a nossa vida,
mas neguinho já tava careca de levar
………………………………………flecha perdida.

 

5. De como sobrevivi à chuva
de flechadas

um mês depois, o Anchieta se mandou.
e nós aqui, na chuva de flechada,
tomando pau, borduna e cacetada,
comendo o pão que Belzebu amassou.

pensei até em escrever uma epopeia
contando tantos feitos e malfeitos.
mas não achei herói de nenhum lado:
Estácio era um rapaz meio fechado,
e o chefe dos tamoios, Aimberê,
com esse nome, não dava pra escrever.

(Entra uma índia belíssima, com figurino de
Jean-Paul Gautier em versão tropical.)

foi então que encontrei Paraguaçu,
a teteia top model do Baixo Grajaú.
Paraguaçu, falsificada de pai e mãe,
foi trazida aos doze anos do Paraguai,
e aqui, nas praias da Guanabara,
adquiriu a cultura francesa,
conhecia o fleur de rose
o ne me quitte pas
o voulez-vous coucher avec moi.

por obra e graça de Paraguaçu,
eu desisti de ser só português.
e assim me transformei em portugaio,
cruza de português com paraguaio.

 

6. De como fui me adaptando ao
modo de vida da mui leal cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro

e foi assim que eu me tornei mestiço
ou seja, nem isso nem aquilo
imaginei que eu era o poeta Sá de Miranda
só admirando os prodígios do Novo Mundo
fiquei doidão, curtindo a realidade
da mui leal cidade de São Sebastião
só fumando & espiando o movimento
tupinambá de olho na pulseirinha da turista
cunhã na pista oferecendo os balangandãs
tupinambá malhando exibindo o corpão
e eu vendo cada coisa do balacobaco
fumando esse negócio chamado tabaco

achei que tinha chegado ao Paraíso,
pensei em me lembrar de certos versos
que celebravam as graças do universo
mas não lembrei foi xongas, nada não
de tanto que fumei meu baseadão

 

7. De como percebi que as aparências
são enganadoras no Novo Mundo
e desejei sinceramente ter ficado em
Portugal

de repente, acabou-se o que era doce
Paraguaçu, minha deusa paraguaia,
aproximou-se do meu guarda-sol
à sombra das bananeiras em flor e disse:

PARAG.: “Eu queria te comer todinho.”
sorri, sem compreender a ambiguidade
que estava por detrás da fala dela, mas já
escolado na fala local, lhe respondi:

BRÁS: “Não é uma frase muito apropriada
pra uma índia bem-educada, mas eu aprecio
a ideia, tô dentro.”

PARAG.: “Tá dentro é do moquém.”

BRÁS: “Que diabo é moquém? Quem te en-
sinou a falar assim, quem?

PARAG.: “Meus ancestrais, a minha mãe,
a mãe da minha mãe (em francês), mes amis
tupis. Tupãna, Tupã.”

ela então começou a me apalpar.

BRÁS: (gostando) “Não adianta me apalpar,
que eu só gosto mesmo é naquele lugar.”

PARAG.: (sorrindo) “Eu vou ficar só com
as tuas vísceras. Tua cabeça quem vai comer
é Aimberê, depois de te baixar a borduna.
Os curumins vão beber o teu caldinho.”

BRÁS: (com terror) “Paraguaçu, você não pode
fazer uma coisa dessas comigo! Eu sou
teu irmão, teu amásio, teu amigo!”

 

8. De como recorri à Divina Providência,
porque era esta a última providência que 
me restava tomar

eu que ainda era mais ou menos moço
não tinha idade pra virar almoço
filé sem osso alcatra bacalhau
pra um bando de tamoio canibal,
e furibundo dirigi-me aos céus:
“Ora, Senhor, que tanto me maltratas:
Já me trouxestes a este cu do judas,
E, para arrematar, ainda me matas?”

(Ouve-se um estrondo ao fundo.)

então ouviu-se um estrondo de canhão:
chegaram galeões de Portugal!
e eu assisti do morro do Castelo
ao embate o arranca-rabo o xeque-mate
sem saber qual era o bem, qual era o mal.

 

9. De como a minha história chegou ao
juízo final, ou à desgraciosa falta dele

e veio a guerra e veio a destruição
Paraguaçu fugiu com um temiminó
e foi passar o verão em Guarapari
Aimberê, coitado, foi pras cucuias
virou constelação tupinambá
Estácio tomou uma flecha na cara
morreu flechado como nosso padroeiro
São Sebastião do Rio de Janeiro

e vi todas aquelas almas voando
as almas são mais leves do que o ar
se é que há mesmo almas neste mundo
se não as há, talvez haja mais além
onde os pedaços desconexos da vida
onde os pedaços desconexos
onde os pedaços
lá onde a vida se rejubile
e as alegrias passem em desfile
na Marquês de Sapucaí do infinito

só sobrei eu, já meio soçobrado
só eu: a obra e a sobra
todas as minhas nações e encarnações
para sempre aqui
eu era agora carioca
malocado na minha maloca
num muquifo no Cortiço
ou num barraco do Morro da Favela
ex-Brás Fragoso agora apelidado
Brasil Naufragoso
porque minha alma naufragou aqui
aqui fiquei e aqui me edifiquei
e o pior é que gostei
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Geraldo Carneiro recita Quase soneto a quatro mãos, poema escrito originalmente em inglês por João Ubaldo Ribeiro, tradução de Geraldo Carneiro.)

 

(poema escrito originalmente em inglês por: João Ubaldo Ribeiro. tradução: Geraldo Carneiro.)

 

QUASE SONETO A QUATRO MÃOS

 

até a morte eu me atormentarei
pelo que descobri e não encontrei,
pelo que, pascaliano como sou,
eu compreendi e ainda assim maldigo.
sou o idiota mais perfeito, aliás,
por feito mais de carne que de gás.
é esse fado que me leva adiante
num mundo para o qual não sou prestante.
tudo o que tenho as mulheres me deram:
consolação, razão para existir.
benditas, berenices, beneditas,
também sejam benditos meus amigos,
pois gosto deles, tenham longa vida,
e até eu mesmo, que não a mereço,
mas que a observo e sei qual é seu preço.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (3ª EDIÇÃO) — VÍDEOS: CAMILLA AMADO, GERALDO CARNEIRO, VITOR THIRÉ & LUIZA MALDONADO
23 de março de 2016

Ocupação Poética_3ª edição 26

(Camilla Amado & Geraldo Carneiro)

Ocupação Poética_3ª edição 18

(Vitor Thiré & Luiza Maldonado)
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A quem possa interessar, 3 vídeos da 3ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido no dia 24 de fevereiro (quarta-feira), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de um elenco estelar: Geraldo Carneiro, Bruce Gomlevsky, Tonico Pereira, Vitor Thiré, Maria Padilha, Camilla Amado, Luiza Maldonado, Luana Vieira, Danilo Caymmi & Alice Caymmi.

Em todos os vídeos desta publicação, textos do grande homenageado da noite, o requintado poeta & dramaturgo, além de querido amigo, Geraldo Carneiro: nos 2 primeiros vídeos, a atriz Camilla Amado, juntamente com Geraldo Carneiro, recita “Miragem em abismo”, “Filosofia” & “O sopro da deusa”. No terceiro & último vídeo, o ator Vitor Thiré & a atriz Luiza Maldonado interpretam um trecho da peça “Romeu e Julieta”, do poeta & dramaturgo inglês William Shakespeare, na tradução do Geraldo Carneiro & sob a direção do ator & diretor Bruce Gomlevsky.

No primeiro vídeo, no vídeo que abre as publicações, notem que falo sobre um imbróglio, com gritos da platéia: o teatro lotou & algumas pessoas, depois de iniciado o espetáculo, não conseguiram entrar — não havia mais assentos disponíveis. No entanto, ao fim de tudo, tudo deu certo & todos se acomodaram.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Camilla Amado e Geraldo Carneiro recitam Miragem em abismo e Filosofia, poemas de Geraldo Carneiro.)

 

MIRAGEM EM ABISMO  (Geraldo Carneiro)

 

não sei de que tecido é feito o ser.

meus planos sonhos enganos

se tecem na fábrica da vida

e se destecem na arquitetura do caos.

vou criando edifícios em que me

…………………………………..demoro

e de onde salto em busca de não sei.

meu ser é parte dessa miragem

…………………………………..em abismo

um espelho em que me não vejo

e em me não vendo acendo a chama

que se chama desejo.

 

talvez do outro lado exista um cais.

sei que sempre existe certa distância

…………………………………..entre mim

e o circo da minha circunstância

 

FILOSOFIA  (Geraldo Carneiro)

 

o tempo é uma ficção criada há pouco

…………………………………………………tempo.

será desinventada no futuro

onde as rosas prescindem do jardim.

o tempo do relógio é uma miragem

tão irreal quanto qualquer camelo

passando no buraco de uma agulha.

metáforas são flores do pensamento

pensadas para que se possa pressentir

que o tempo é uma aventura aqui,

…………………………………………………agora

que se eterniza ou sequer agoniza:

se precipita no caos

de onde as naus nunca regressarão

porque haveria sempre um tempo a mais

entre uma nau e a ideia do seu cais.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Camilla Amado e Geraldo Carneiro recitam O sopro da deusa, poema de Geraldo Carneiro.)

 

O SOPRO DA DEUSA  (Geraldo Carneiro)

 

me deleito no leito da poesia

a deusa que me acolhe com constância.

as outras, conforme a circunstância,

a fome de inventar o vento-amor.

sopro suas velas e ela se revela

em sua precariedade e seu esplendor.

é um rito que repito sem saber

se outra mão ampara a minha mão,

se sou ou se não sou conquistador

dessas conquistas feitas só de éter.

minhas palavras nunca foram minhas,

mas foram me forjando com sua força

até que me tornasse esse não-ser

feito de arquiteturas sem lugar

senão no reino-sonho que fundei.

essas palavras sopram-me presságios

e nelas plantarei os meus naufrágios.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Vitor Thiré e Luiza Maldonado interpretam um trecho da peça Romeu e Julieta. autor da peça: William Shakespeare. tradução: Geraldo Carneiro. direção de cena: Bruce Gomlevsky.)

 

(trecho da peça: Romeu e Julieta. autor: William Shakespeare. tradução: Geraldo Carneiro.)

 

De     ROMEU E JULIETA

(A cena do balcão: Romeu contempla Julieta à janela, oculto no jardim da mansão dos Capuletos.)

 

— Romeu

Que luz é essa que irrompe na janela?
Será o nascente, e Julieta é o sol?
Levanta, sol, e assim mata essa lua,
Que já está pálida com a dor da inveja
Por seres tão mais bela do que ela.
[…]
É a minha amada, oh sim: é o meu amor.
Quisera ela soubesse o que ela é!
Ela fala, ainda quando não diz nada.
Seu olhar discursa: quero responder.
Sou um atrevido: não é a mim que ela fala.
Duas dentre as estrelas mais bonitas
Que há em todo o céu, por terem outros deveres,
Deixaram esplandecendo os olhos dela
Em suas esferas, até que voltassem.
E se seus olhos estivessem lá,
E elas aqui? O brilho do seu rosto
Causaria vergonha nas estrelas,
Como o brilho do dia faz com as velas,
Seus olhos lá no céu brilhariam tanto
Que até os passarinhos cantariam,
Pensando que não fosse mais noite.
Como ela ampara o rosto sobre a mão!
Ah, se eu fosse essa luva em sua mão,
Se eu pudesse tocar aquele rosto!

— Julieta

Ai de mim!

— Romeu

(à parte, encantado)  Ela fala!
Fala de novo, anjo esplendoroso,
Pois esplandeces tanto nesta noite
Suspenso acima da minha cabeça,
Como se fosse um mensageiro alado
Do céu, diante dos olhos encantados
Dos mortais, que se inclinam pra admirar-te
Quando cavalgas nuvens vagarosas
E sobre o seio do ar vais navegando.

— Julieta

Ó Romeu, Romeu. Por que és Romeu?
Nega teu pai, recusa esse nome;
Senão, é só jurar-me o teu amor,
E eu já não serei uma Capuleto.

— Romeu

(à parte)
Escuto mais, ou devo responder?

— Julieta

É só teu nome que é meu inimigo.
Tu és tu mesmo, não és um Montéquio.
O que é um Montéquio? Não é mão, nem pé,
Nem braço ou rosto, ou qualquer outra parte
Que a alguém pertença. Encarna um outro nome.
O que há num nome? O que chamamos rosa
Com outro nome perde o seu perfume?
[…]
Romeu, despe o teu nome, e em vez do nome,
Que não faz parte do teu ser,
Toma posse completa de mim mesma.

— Romeu

Tomo posse de ti por tua palavra!
Basta que tu me chames meu amor,
E então serei de novo batizado.
De hoje em diante, não serei Romeu.

— Julieta

Quem és que sob a tela desta noite
Assim penetras no meu pensamento?

— Romeu

Por um nome não posso apresentar-me.
Meu nome, minha querida, é detestável
Pra mim mesmo, porque é teu inimigo.
Se eu o tivesse escrito, eu o rasgaria.

— Julieta

Ainda não escutei nem cem palavras
Da tua voz, mas já sei qual é o seu som.
Será que não és Romeu e não és Montéquio?

— Romeu

Nenhum dos dois, se a ti desagradam.

— Julieta

Como chegaste aqui, me diz? Por onde?
Os muros do pomar são muito altos,
Difíceis de escalar, vai ser tua morte,
Se algum parente meu te achar aqui.

— Romeu

Saltei esses muros com as asas do amor.
Não há limites de pedra contra o amor.
E o que o amor não conquista, quando ousa?
Teus parentes não podem me conter.

— Julieta

Se eles te virem aqui, vão te matar.

— Romeu

Tem mais perigo morando em teus olhos
Que em cem de suas espadas. Só me basta
Que me olhes com doçura e isso me guarda
Contra qualquer inimizade deles.

— Julieta

Por nada quero que te vejam aqui.

— Romeu

Tenho o manto da noite que me esconde.
Se não me amares, deixa que me encontrem.
Prefiro que o ódio acabe com a minha vida,
Que a morte adiada, sem o teu amor.

— Julieta

Quem te ensinou a vir a este lugar?

— Romeu

O amor foi quem me fez investigar,
Me aconselhou, e eu lhe emprestei meus olhos.
Não sou navegador, mas se estivesses
Na praia mais distante deste mundo,
Ao vasto mar eu me aventuraria
Para alcançar essa mercadoria.

— Julieta

Sabes que a máscara da noite está em meu rosto,
Senão eu coraria de vergonha
Por teres escutado o que eu falei.
Quisera ter mantido a cerimônia,
Quisera desmentir o que eu já disse.
Mas adeus, compostura! Tu me amas?
Já sei que dirás sim, e aceitarei
Tua palavra. Ainda que, se jurasses,
Podia ser que te mostrasses falso.
Dizem que as falsas juras dos amantes
Fazem Júpiter rir. Gentil Romeu,
Se tu me amas, proclama a tua fé.
Ou, se julgares que sou muito fácil,
Serei malvada e te direi que não,
Para que tenhas que me cortejar.
Senão, belo Montéquio, nem pensar!
Sinceramente, eu estou apaixonada;
Por isso podes me julgar leviana.
Mas acredites que sou mais sincera
Do que essas que simulam mais recato.
Confesso que eu seria mais discreta,
Se não escutasses sobre o meu amor
Sem que eu soubesse. Eu te peço perdão.
Não consideres um amor leviano
Esse que a escura noite assim mostrou.

— Romeu

Senhora, por essa bendita lua
Que enche de prata as copas destas árvores,
Eu juro…

— Julieta

…………..Não, não jures pela lua,
Que muda a cada mês em sua órbita,
Para que teu amor não mude igual.

— Romeu

Então por que é que eu vou jurar?

— Julieta

………………………………………………..Por nada.
Ou se quiseres jura por ti mesmo,
Porque és o deus da minha adoração.
E vou acreditar.

— Romeu

Se o meu amor —

— Julieta

(cortando)
Não jura, não.
Embora eu tenha em ti minha alegria,
Não me alegra essa aliança em meio à noite,
Tão brusca, repentina e tão imprevista,
Como um relâmpago que logo apaga
Antes que alguém proclame a sua luz.
Boa noite, amor. Que o sopro do verão
Transforme esse botão de amor em flor
Quando nos encontrarmos outra vez.
Boa noite, e que tenhamos toda a calma
Tanto em teu coração quanto em minha alma.

— Romeu

Vais me deixar assim insatisfeito?

— Julieta

Mas que satisfação querias hoje?

— Romeu

Que nós trocássemos juras de amor.

— Julieta

Já fiz as minhas, antes que pedisses.
E ainda quero fazê-las outra vez.

— Romeu

Você as retiraria, amor? Por quê?

— Julieta

Só pra ser franca, e fazê-las de novo.
Mas só estou desejando o que já tenho.
A generosidade em mim é um mar:
Meu amor por ti é fundo e é infinito,
Quanto mais dou, mais tenho para dar.
(Julieta ouve o chamado da Ama.)
Ouvi um barulho em casa. Adeus, amor.
[…] Sejas sincero, meu doce Montéquio.
Fica um pouquinho mais, eu volto já.

(Julieta sai)

— Romeu

Ó noite abençoada, tenho medo
Que, por ser noite, seja tudo um sonho
Doce demais para ser verdadeiro.

(Julieta reaparece)

— Julieta

Três palavras, Romeu, depois boa noite.
Se as tuas intenções de amor são sérias,
Se o teu propósito é o casamento,
Manda comunicar-me quando e onde
Pretendes realizar a cerimônia,
Por quem te procurar da minha parte,
Que eu depositarei tudo o que tenho
Aos teus pés, para então seguir contigo
Até o final do mundo, meu senhor.

OLHOS: ESTRELAS QUE REVELAM & ENSINAM
16 de agosto de 2010

mesmo conhecendo os astros, não saberia ler a sorte (a minha ou a de outrem) nas estrelas.
 
embora a astronomia, não poderia adivinhar o destino de ninguém tampouco adivinhar as pragas, privações & mudanças de estação.
 
não posso conhecer o futuro, não posso conhecer as tormentas que nos esperam no porvir, prevendo o que apenas os céus podem trazer.
 
porém, a minha sabedoria, retiro-a, em parte, de olhos que me mirem com amor & verdade, e neles, para mim estrelas, entendo a arte da minha sabedoria, compreendo a sua habilidade (a habilidade da minha sabedoria: reter conhecimento através da luz dos olhos que olham com amor & verdade).
 
em olhos tais, olhos amorosos, percebo e prenuncio: verdade & beleza findam, pois deles verte o alento, pois deles verte o vigor, o ânimo, que os meus olhos alimenta.
 
olhos nos olhos. (e que eles sempre falem alto ao coração.)
 
beijo em vocês,
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: 44 Sonetos escolhidos. autor: William Shakespeare. tradução: Thereza Christina Rocque da Motta. editora: Ibis Libris.)  
 
 
SONETO 14
 
Não faço meus julgamentos pelas estrelas;
Embora conheça bem a astronomia,
Mas não para adivinhar o azar ou a sorte,
As pragas, as privações ou as mudanças de estação;
Nem posso adivinhar o futuro tão próximo,
Dando a cada um a sua tormenta,
Ou dizer aos príncipes se tudo passará,
Prevendo o que apenas os céus podem trazer:
Porém, retiro a minha sabedoria de teus olhos,
E nelas (eternas estrelas) entendo a sua arte,
Pois, juntas, vencerão a verdade e a beleza,
Se de teu próprio ser verteres o teu alento;
  Senão, isto, eu prenunciaria:
  Em ti, toda a verdade e beleza findam.
 
 
SONNET 14
 
Not from the stars do I my judgment pluck;
And yet methinks I have astronomy,
But not to tell of good or evil luck,
Of plagues, of dearths, or season’s quality;
Nor can I fortune to brief minutes tell,
Pointing to each his thunder, rain and wind,
Or say with princes if it shall go well,
By oft predict that I in heaven find:
But from thine eyes my knowledge I derive,
And (constant stars) in them I read such art
As truth and beauty shall together thrive,
If from thyself to store thou wouldst convert;
  Or else of thee this I prognosticate:
  Thy end is truth’s and beauty’s doom and date.

NO MUNDO, NADA DO QUE FOI SERÁ
8 de junho de 2010

nada do que foi será, de novo, do jeito que  já foi um dia.
 
(tudo passa, tudo, sempre, passará.)
 
tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo.
 
(tudo muda, o tempo todo, no mundo.)
 
nada detém a foice do tempo.
 
somente através de nossas heranças, isto é, apenas através dos filhos que temos — e esses filhos, ao meu ver, podem ser pessoas, projetos, feitos, façanhas — conseguimos perpetuar, conseguimos eternizar, o tempo após a nossa partida.
 
pensemos nos frutos que colhemos, e que gestamos, e que preparamos, e que aprontamos, na árvore da vida.
 
(aqui dentro (em mim), sempre: como uma onda no mar…)
 
beijo em todos,
o preto,
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: 44 sonetos escolhidos. autor: William Shakespeare. tradução: Thereza Christina Rocque da Motta. editora: Ibis Libris.)
 
 
SONETO 12
 
Quando conto as horas que passam no relógio,
E a noite medonha vem naufragar o dia;
Quando vejo a violeta esmaecida,
E minguar seu viço, pelo tempo embranquecida;
Quando vejo as altas copas de folhagens despidas,
Que protegiam o rebanho do calor com a sua sombra,
E a relva do verão atada em feixes
Ser carregada em fardos em viagem;
Então, questiono a tua beleza,
Que deve fenecer com o vagar dos anos,
Como a doçura e a beleza se abandonam,
E morrem tão rápido quanto outras crescem;
  Nada detém a foice do Tempo,
  A não ser os filhos, para perpetuá-lo após tua partida.