POÉTICA

 
(poética: aceito meu inferno, mas falo do meu céu)
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poética: segundo o dicionário aurélio:
 
“arte de fazer versos”. “teoria da versificação”.
 
poética (a da minha vida):
 
não sei palavras dúbias, palavras incertas, ambíguas.
 
minhas palavras, ainda que nunca sejam minhas (pois não fui eu quem as inventei, não fui eu quem as criei, e o seu uso é corrente desde antes de eu nascer), foram me forjando, foram me moldando, foram criando esta criatura que sou. 
 
na poética que me cabe, as palavras dizem ao que vieram, sem meios-termos.
 
meu sermão, minha admoestação, minha advertência, chama ao lobo verdugo, lobo carrasco, lobo capaz de maus tratos, lobo que precisa da reprimenda a fim de parar com os seus atos, e meu sermão, minha admoestação, minha advertência, chama ao cordeiro irmão, cordeiro manso, inocente, cordeiro que precisa da reprimenda a fim de acordar, enxergar & dar cabo da sua condição de presa, sempre nas mãos de um lobo mau.
 
com duas mãos fraternas, afetuosas, cumplicio, compartilho, a ilha prometida (ilha das imaginações, ilha dos sonhos) para a proa do navio, navio que me leva aos mares do mundo. afinal, de que me adianta estar sozinho na ilha prometida? a graça reside em estar acompanhado de quem mais quiser aportar na ilha, para que a alegria, na ilha, seja ainda maior.
 
a posse me é aventura sem sentido. só compreendo, só entendo, o pão se dividido.
 
a mim não me interessa reter nada. o grande barato, na vida, é o compartilhamento. na lida diária, percebo que a vida se dá bonita, se dá saudável, através da solidariedade, através da cooperação mútua. não sou auto-suficiente. não me basto no mundo. nem eu nem a minha poética.
 
aprendo, e muito, com o meu entorno. aprendo, e muito, com a troca de conhecimentos. 
 
o meu intuito com este espaço, com o “prosa em poema”, é o de compartir belezas, o meu intuito é o de dividir com os senhores as coisas que alimentam a minha existência, pensando que elas podem servir-lhes para alguma coisa. 
 
acredito que o mundo pode mais & melhor a partir da troca de experiências. ninguém é nada sem o auxílio do outro.
 
o homem aprende, o homem constrói-se, em sociedade. impreterivelmente, o ser humano é um animal social.
 
não brinco de juiz, porque, de fato, não me cabe o papel, na brincadeira, de julgar, não me cabe o papel, na brincadeira, de julgador (que as pessoas façam das suas vidas o que melhor lhes aprouver, desde que respeitem os direitos das demais pessoas também fazerem das suas vidas o que melhor lhes aprouver), nem me disfarço de réu, de acusado, não me disfarço de julgado. 
 
(não estou aqui para isso.)
 
sei que não sou santo (nem desejaria!) e aceito o meu inferno, acato os meus tormentos, os meus martírios, os meus sofrimentos. porém, na minha poética, mais que do meu inferno, falo do meu céu, falo do que está acima, do que é superior, falo do meu céu, esplendor, das minhas alegrias, dos meus júbilos, dos meus contentamentos.
 
(falo do que acredito realmente importar a todos nós.)
 
na minha poética, aceito o meu inferno, mas falo do meu céu:
 
e é no céu da poesia que naufraga, que afunda, a minha ave-vida.
 
(graças!)
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Poesia completa. autor: José Paulo Paes. editora: Companhia das Letras.)
 
 
 
POÉTICA
 
 
Não sei palavras dúbias. Meu sermão
Chama ao lobo verdugo e ao cordeiro irmão.
 
Com duas mãos fraternas, cumplicio
A ilha prometida à proa do navio.
 
A posse é-me aventura sem sentido.
Só compreendo o pão se dividido.
 
Não brinco de juiz, não me disfarço em réu.
Aceito meu inferno, mas falo do meu céu.

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