receita de como armar um presépio:
1- pegar uma paisagem qualquer.
2- cortar todas as árvores da paisagem e tranformá-las em papel.
3- enviar ao matadouro todos os animais da região.
4- extrair toda a riqueza mineral do solo, para fabricação de automóveis, aviões, tanques, mísseis nucleares.
5- despejar os detritos industriais nos rios, nos mares, nos lagos.
6- exterminar, com o uso de substâncias químicas tóxicas, os últimos traços de vegetação.
7- evacuar a população sobrevivente para os cortiços e favelas.
8- erguer o estábulo com restos de madeira, cobri-lo de chapas enferrujadas e esperar que algum boi doente, algum burro fugido, algum carneiro sem dono, venha esconder-se nele.
9- esperar esperar esperar…
10- quem sabe, ali, não nasce uma criança e a vida recomeça?
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o homem, ao longo da sua trajetória, ao longo da sua história neste planeta, vem armando os seus presépios, vem transformando este pequenino pedaço de chão azul — ante a grandeza do universo — num grande & inóspito curral.
eis a medida do homem:
em prol do “bem da humanidade”, em prol do “desenvolvimento humano”, em prol de “melhorias”, em prol de “benefícios para todos”, desmata-se, mata-se, destrói-se, dilacera-se, tudo o que é encontrado pela frente. sem dó nem piedade. em prol da “paz”, guerras & mais guerras & mais guerras.
já começamos a sofrer os reveses de todas as nossas ações irresponsáveis e desmedidas, de todas as nossas ações gananciosas.
cuidemos do nosso entorno, cuidemos da população, dos nossos irmãos de trilha.
causando-se tanto mal-estar, não adianta acreditar em milagres e esperar que a vida recomece com a vinda de uma criança, esperando que um único ente nasça para nos redimir.
fica o alerta.
e fica, sobretudo, o desejo de uma existência menos depredatória, o desejo de uma existência onde as desgraças não sirvam a justificativas de bem-estar social, o desejo de um ano melhor, mais frutífero, mais florido, para todos nós.
beijo afetuoso nos senhores!
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Poesia completa. autor: José Paulo Paes. editora: Companhia das Letras.)
COMO ARMAR UM PRESÉPIO
pegar uma paisagem qualquer
cortar todas as árvores e transformá-las em papel de im-
prensa
enviar para o matadouro mais próximo todos os animais
retirar da terra o petróleo ferro urânio que possa eventual-
mente conter e fabricar carros tanques aviões mísseis nu-
cleares cujos morticínios hão de ser noticiados com destaque
despejar os detritos industriais nos rios e lagos
exterminar com herbicida ou napalm os últimos traços de
vegetação
evacuar a população sobrevivente para as fábricas e cortiços
da cidade
depois de reduzir assim a paisagem à medida do homem
erguer um estábulo com restos de madeira cobri-lo de cha-
pas enferrujadas e esperar
esperar que algum boi doente algum burro fugido algum
carneiro sem dono venha nele esconder-se
esperar que venha ajoelhar-se diante dele algum velho pas-
tor que ainda acredite no milagre
esperar esperar
quem sabe um dia não nasce ali uma criança e a vida reco-
meça?
Belo. Paulo, Saudações! Obrigado. Pensamento é fim estelar. Assim opta condição última, que não é Tudo, desconfia, exigindo-se morto ao que se sacrifica e de morto mesmo morto, Generoso retorna, as Figueiras sobre as ruínas, a Casa de Marte que não parte, Arte, a própria deles, inventar medos e chorar-Te. (Eu apenas um contador de estórias). Guardarás teu espírito Livre e Amoroso.
valeu a visita, querido!
volte sempre!
abraço GRANDE!